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Daikin, de ares-condicionados, aposta nos bons ventos do mercado para crescer

Com bom momento do setor de ar-condicionado, fabricante japonesa projeta dobrar vendas em cinco anos e planeja nova fábrica em Manaus

Crédito: Paulo Uemura Fotografo

Daikin: com centros de treinamento, companhia dribla gastos publicitários e aposta na qualidade dos produtos e de instalação (Crédito: Paulo Uemura Fotografo)

Por Beto Silva

Clima é favorável ao setor de ar-condicionado – com o perdão do trocadilho. O Departamento de Economia e Estatísticas da Abrava (Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento) projeta crescimento de 12% de faturamento para o segmento no País em 2024, com previsão de R$ 41,3 bilhões em vendas. Segundo dados da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), de janeiro a agosto deste ano, a produção de condicionadores de ar do tipo split system aumentou 62,80%, enquanto aparelhos de ar-condicionado de janela ou de parede de corpo único registrou evolução de 161,68% em unidades fabricadas. A japonesa Daikin tem aproveitado esse momento do mercado nacional. Com receita global na casa dos US$ 22 bilhões, a líder mundial em setores de aquecimento, ventilação e ar-condicionado (HVAC) dobrou o faturamento no Brasil nos últimos cinco anos e planeja dobrar novamente nos próximos cinco. “Somos recentes no País, mas mesmo assim, em pouco tempo, conseguimos alcançar uma presença no mercado bem notável. Somos líderes em segmento comerciais”, disse à DINHEIRO Roberto Yi, presidente da Daikin Brasil.

A companhia completou 100 anos de atividades em 2024, sendo 14 anos em território brasileiro.
● São 98 mil funcionários nos 170 países do mundo em que a empresa atua, 500 deles aqui, onde a fabricante tem feito investimentos constantes, na ordem de 5% da receita local – que não é divulgada.
● A planta de produção localizada em Manaus (AM) era alugada, com equipamentos da Daikin em funcionamento, e foi adquirida em 2019, antes da pandemia.
● São 80 mil metros quadrados construídos, além de um terreno da mesma dimensão ao lado, onde será erguida uma nova unidade.
● Quando ainda não se sabe. Mas a depender da demanda local e da perspectiva da empresa, deve ocorrer em curto prazo.

Segundo avaliação da Daikin sobre o mercado brasileiro, hoje são 20% das residências que possuem ar-condicionado. Nos próximos 10 anos, esse índice deve subir para 50%. Na comparação com geladeira e fogão, por exemplo, que estão em 90% dos imóveis, há uma via de crescimento importante para o setor. “Temos feito nossos investimentos em cima dessa perspectiva. O Brasil é o maior mercado da América Latina e vemos um grande potencial”, afirmou Roberto, que é sul-coreano, e recebeu o epíteto de uma tia, fã do cantor Roberto Carlos, quando ele chegou ao Brasil ainda criança.

Companhia possui três centros de treinamento – em São Paulo (foto), Rio de Janeiro e Salvador – para capacitar profissionais e credenciar empresas parceiras (Crédito:Divulgação)

PIONEIRISMO

Além da fábrica manauara, a Daikin possui a sede comercial em São Paulo e filiais administrativas em Recife, Brasília, Rio de Janeiro e Porto Alegre.

Atua nos três subsegmentos do setor:
● residencial (responsável, por 40% das vendas),
● comercial (40%),
● e industrial (20%).

No residencial, o destaque fica por conta da tecnologia inverter, criada e patenteada pela companhia cinco décadas atrás e hoje disseminada por praticamente todas as concorrentes. O dispositivo ajusta a velocidade do compressor, que fica sempre em funcionamento, levando menos tempo para atingir a temperatura desejada, sem aquele ‘liga-desliga’ dos modelos sem o inverter, que causa maior consumo de energia.

A empresa tem desenvolvido equipamentos cada vez mais eficientes nesse sentido, ao alcançar a classificação A1 de economia de consumo – inclusive, auxiliou o governo brasileiro, com atuação também do governo japonês, a fazer a reclassificação de consumo dos produtos. “Nosso ar-condicionado chega consumir R$ 0,14 por hora de uso, enquanto um ventilador consome mais do que isso”, discorreu Roberto Yi, ao ressaltar ainda que, na linha de sustentabilidade, a companhia tem apostado em um novo gás para funcionamento dos produtos chamado R32, muito menos agressivo ao meio ambiente e com ganhos de eficiência energética. Esses são alguns diferenciais apontados pelo executivo para disputar espaço com marcas como Carrier, Midea, Springer, Samsung e LG, por exemplo.

No segmento comercial, tem soluções para hotéis, com equipamentos inteligentes que desligam com a saída dos hóspedes do quarto, e para hospitais, que precisam de temperaturas precisas em centros cirúrgicos, além de filtros especiais que evitam infecção – essa é outra linha de negócios da Daikin.

No ramo industrial, um mercado que tem despontado para a fabricante japonesa é o de data centers. Com o avanço computacional a partir de tecnologias emergentes como Inteligência Artificial, cloud computing e computação quântica, é necessário o resfriamento do equipamentos. “Nesses casos, nossas soluções são importadas para o Brasil. Encontramos a melhor solução para os clientes e trazemos para cá”, explicou o presidente. “A estimativa é de que esse mercado cresça ainda mais. É bem promissor.”

“Somos recentes no País, mas mesmo assim, em pouco tempo, conseguimos alcançar uma presença bem notável”, diz Roberto Yi presidente da Daikin Brasil (Crédito:Paulo Uemura Fotografo)

Outro diferencial da Daikin é a formação de analistas de projetos e técnicos de manutenção.

São três centros de treinamento da companhia no Brasil: um em São Paulo, um no Rio de Janeiro e um mais recente inaugurado em Salvador.

Na unidade paulistana, são oferecidos cursos para até 4 mil profissionais por ano. Na estrutura carioca um pouco menos e na soteropolitana a expectativa é de 1 mil pessoas treinadas anualmente. Os centros de treinamento servem para certificar os trabalhadores e credenciar empresas parceiras da Daikin. Sem muita exposição publicitária, a companhia aposta nesse modelo para garantir qualidade dos produtos e a instalação o que, consequentemente, reflete nas vendas. “Já temos equipamentos confiáveis e precisamos crescer junto com instaladores e vendedores para gerar um ecossistema de negócios. Essa é uma das missões que temos”, frisou o executivo, ao citar ainda as parcerias com o Senai de todo o País para desenvolver a mão de obra qualificada.

Daikin adquiriu a fábrica de Manaus (AM) em 2019 e dobrou sua receita nos últimos cinco anos. No plano está a construção de mais uma unidade fabril no mesmo local (Crédito:Divulgação)
(Divulgação)

A Daikin ainda está envolvida no Airtech Challenge, realizado ao lado da incMTY, uma das plataformas de inovação, negócios, investimento e empreendedorismo mais importantes da América Latina. O projeto visa buscar startups com atuação no Brasil e em outros países da região, dentro do setor de HVAC, para mostrar suas ideias disruptivas, principalmente voltadas para ofertas de melhorias significativas na experiência do usuário, considerando os desafios de ESG, e aplicações de Inteligência Artificial (IA). O programa está em sua terceira edição.

Dessa forma, a Daikin avança em soluções e capacita a força de trabalho do setor para refrescar seus resultados em um mercado brasileiro aquecido – mais uma vez com o perdão do trocadilho.