Economia

Setor industrial tem quarto trimestre de alta consecutivo

Puxado pelo consumo interno, indústria mostra sinais de recuperação e ajuda a melhorar as projeções para o PIB deste ano

Crédito: Pedro Vilela

As fábricas, como a da Fiat, em Betim (MG), têm sido beneficiadas pelo cenário de queda do desemprego e consumo das famíias, segundo o IBGE (Crédito: Pedro Vilela)

Por Hugo Cilo

Um dos patinhos feios do Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos anos, o setor industrial brasileiro parece ter reaprendido a crescer apesar do ambiente de instabilidade dentro e fora do País. Pelas contas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a indústria brasileira encerrou o terceiro trimestre de 2024 com um crescimento de 1,6% em relação ao trimestre anterior, marcando quatro trimestres consecutivos de alta. Em setembro, o setor registrou um avanço de 1,1% em comparação a agosto, o melhor desempenho para o mês desde 2020, segundo a Pesquisa Industrial Mensal, divulgada na sexta-feira (1).

Para Rodolfo Margato, economista da XP Investimentos, o consumo interno está puxando o ritmo das fábricas. “O forte aumento da demanda doméstica tem sustentado a recuperação da indústria brasileira. Tanto o consumo das famílias quanto o investimento em ativos fixos superaram as expectativas em 2024”, destacou o especialista, em nota.

Neste cenário de indústria aquecida, o PIB vai ser beneficiado, de acordo com análise do C6 Bank, que projeta um crescimento de 0,6% da economia no terceiro trimestre (ainda não divulgado), estimando que 2024 encerre com uma alta de 3%, seguida de um crescimento de 1,2% em 2025.

“De forma geral, a indústria apresentou um crescimento robusto no terceiro trimestre e deve contribuir de forma positiva para a expansão do PIB do período”, disse a economista Claudia Moreno, do C6 Bank. “Até o terceiro trimestre, a atividade industrial demonstrou significativa resiliência. Nossa projeção é de que o setor feche o ano com um crescimento de 3%.”

Com essa performance, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) já estima alta de 3,4% para o PIB neste ano. Essa projeção é uma revisão para cima em relação à estimativa anterior de 2,4%. O Banco Central (BC) também elevou sua projeção para o crescimento do PIB em 2024, de 2,3% para 3,2%. O Fundo Monetário Internacional (FMI) também aumentou sua projeção de crescimento do PIB do Brasil em 2024, para 3%.

O desempenho do agronegócio no trimestre contrastou com a indústria e fechou em baixa de 1,37% (Crédito:Yasuyoshi Chiba)

O ritmo da indústria está positivo, mas poderia estar muito melhor. Apesar de o setor industrial ainda operar 14,1% abaixo de seu recorde histórico de produção, alcançado em maio de 2011, os dados apontam um maior dinamismo ao longo de 2024, conforme indicado por André Macedo, gerente da pesquisa do IBGE. “Temos, conjunturalmente, alguns fatores que explicam esse maior dinamismo observado em 2024, especialmente em comparação a 2023”, explicou Macedo. Em setembro, a produção industrial operava 2,9% acima do nível registrado em dezembro de 2023.

A melhora, segundo Macedo, pode ser atribuída a um mercado de trabalho mais aquecido, com queda na taxa de desocupação e aumento da massa salarial. As condições de crédito também se mostraram mais favoráveis, influenciadas pela recente redução dos juros, o que contribuiu para a queda na inadimplência. Sobre os próximos meses, Macedo preferiu não fazer previsões, mas destacou que, historicamente, há um aumento na produção industrial nesse período devido às encomendas para datas comemorativas, como a Black Friday e o Natal.

(Divulgação)

“Temos, conjunturalmente, alguns fatores que explicam esse maior dinamismo observado em 2024.”
André Macedo, gerente do IBGE

Em setembro, em relação a agosto, a alta na produção industrial nacional foi impulsionada por avanços em 12 dos 25 setores analisados.
● As principais contribuições vieram de derivados de petróleo e biocombustíveis (4,3%) e do setor alimentício (2,3%).
● Outros destaques positivos incluíram os segmentos de veículos (2,5%), fumo (36,5%), metalurgia (2,4%) e máquinas, aparelhos e materiais elétricos (3,3%).

Por outro lado, entre as 12 atividades que registraram queda, as mais significativas foram os produtos químicos (-2,7%) e o setor agro (-1,37%), segundo dados da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA). “Mas a indústria de transformação voltou a registrar crescimento, interrompendo a sequência de resultados negativos”, concluiu André Macedo. “Esse setor mostra um saldo positivo”, acrescentou.