“O sucesso vai nos unir”, diz Trump
Por Norberto Zaiet
Ao final de uma campanha eleitoral extremamente disputada, a eleição de Donald Trump como o 47º presidente americano teve um resultado muito mais folgado do que previam as pesquisas. Além de ganhar na Pennsylvania, Trump venceu na maioria dos Swing States (ou estados pêndulos) e, mais importante, ganhou a legitimidade da vitória no voto popular. A cereja do bolo, ao que tudo indica, é que o Partido Republicano terá o controle — relativamente folgado, quando consideramos o passado recente — do Senado e da Câmara.
O controle total do governo norte-americano na mão de um único partido, qualquer que seja, nunca é o cenário ideal para o mercado financeiro. Em geral, os agentes preferem que o governo esteja dividido, pois isso coloca em xeque qualquer mudança radical nos rumos do país. Não é o caso agora: Trump tem a chance de implementar, com alguma habilidade de negociação, propostas que dependam de aprovação do poder legislativo.
Foi uma campanha de muita retórica e poucas ideias, de ambos os lados. Se o discurso da vitória do presidente eleito for uma indicação do futuro, o país parece estar a caminho de encontrar um Trump mais conciliador e diferente daquele que deixou o governo.
O republicano prometeu acabar com a guerra na Europa. Como? Não se sabe, mas se ele conseguir, seria, agora, um mandato a ser citado nos livros de história
Trump indicou a intenção de facilitar a imigração legal de trabalhadores, reduzir regulação e impostos. Indicou também que pretende reduzir a dívida pública, algo que somente pode ser feito através de crescimento econômico com produtividade e diminuição no tamanho do governo. Se cumprir essas promessas terá garantido um governo que ficará nos livros de história. A primeira reação do mercado, considerando o comportamento inicial da curva de juros, parece ser de dúvida. O mercado, com razão, se preocupa com as tarifas de importação prometidas durante a campanha, claramente inflacionárias. A conferir.
Já o setor de petróleo será claramente incentivado. “Drill baby, drill”, segundo Trump, será o caminho do crescimento acelerado sem a concomitante aceleração da inflação. E qual será o papel de Elon Musk? Durante a campanha, o empresário indicou que conseguiria cortar US$ 2 trilhões do orçamento do governo com medidas de eficiência. Se cumprir, o déficit fiscal americano desaparece. Musk provou que é capaz de muita coisa, mas talvez este seja seu maior desafio: cortar gastos do governo nesta magnitude é mais difícil que mandar foguetes para o espaço. Viagens interplanetárias obedecem às leis da física; gastos do governo não obedecem a qualquer lógica da natureza.
No meu radar: Trump prometeu que, como presidente eleito, acabaria com a guerra na Europa. Qual será a solução ainda não se sabe, mas do ponto de vista dos agentes isso seria extremamente positivo e daria mais força ainda à lua de mel do novo governo com o mercado. Existe uma chance, não desprezível, de que os índices de ações americanos continuem desbravando terrenos ainda mais positivos.
O povo americano decidiu que quer voltar à economia de quatro anos atrás, com crescimento sem inflação; que rejeita a imigração ilegal; que deseja uma reformulação da cadeia de alimentos; que quer paz na Ucrânia e no Oriente Médio, além de uma redução dos conflitos internacionais; e culturalmente, a população indicou que a agenda identitária foi longe demais.
Trump prometeu uma “era dourada” para os próximos quatro anos. Na minha visão, o discurso da vitória trouxe sua frase mais feliz dos últimos tempos: “o sucesso vai nos unir”. Que assim seja.
Norberto Zaiet é economista, ex-CEO do Banco Pine e fundador da Picea Value Investors, em Nova York