Quatro tendências para observar em mudanças climáticas

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Ricardo Voltolini: "Entre as empresas, parece haver ainda mais verbo do que verba" (Crédito: Divulgação)

Por Ricardo Voltolini

Na semana passada, Ideia Sustentável relançou o seu Observatório de Tendências ESG com o estudo ESG Trends-2026. Elaborada a partir da mineração de dados por meio de IA e da ponderação feita por 12 especialistas, com base em potencial de impacto para a empresa e probabilidade de ocorrência nos próximos dois anos, a sondagem identificou as tendências mais quentes em seis temas de ESG.

Tratarei delas neste e nos próximos artigos. Começo por focar Mudanças Climáticas e Descarbonização, o tema mais sensível aos investidores em todo o mundo. Quatro tendências receberam as notas mais altas por ordem decrescente:
(1) Consolidação da economia de baixo carbono,
(2) Financiamento climático em crescimento,
(3) Net Zero como objetivo central;
(4) Transparência e relato ESG em alta.

A agenda de consolidação da economia de baixo carbono tem avançadona União Europeia (com regulaçõescada vez mais rígidas) e também nos Estados Unidos (por meio de incentivos fiscais). No Brasil, segundo os especialistas entrevistados, a mudança necessária para mover o ponteiro está ainda no início, apesar do nosso protagonismo em energias renováveis.

Na opinião dos analistas, um desafio central é descarbonizar o agronegócio, eliminando o desmatamento ilegal. Adotar compromissos net zero deveria encabeçar a pauta. Mas as ações andam lentamente. Exemplo disso é o projeto de lei para regulação do mercado de carbono no Brasil, que foi desmantelado pela bancada ruralista no Congresso Nacional.

Entre as empresas, parece haver ainda mais verbo do que verba. Seguem interessadas em surfar na onda de eventuais oportunidades, sem compreender a real motivação da agenda, a extensão das medidas e as consequências para os negócios. Exibem ótimos argumentos em fóruns de ESG mas ainda não incorporaram a neutralização de carbono ao seu planejamento orçamentário. Este é também o ponto de vista de Ana Paula Carracedo, diretora de Integridade da Aegea.

As empresas ainda insistem em exergar os riscos climáticos como fatos
isolados e aleatórios. Nesses casos, falta-lhes visão sistêmica. Investem mais em compensação de GEEs do que em redução de pegadas

Segundo a especialista, as empresas insistem em enxergar os riscos climáticos como fatos isolados e aleatórios. Falta-lhes uma visão sistêmica. Investem mais em compensação de GEEs do que em redução de pegadas.

Para os analistas ouvidos, organizações como a CVM têm feito a sua parte em garantir a transparência na prestação de contas em sustentabilidade. Os investidores internacionais também. Apesar disso, relatórios de empresas pecam por descrever metas e ações sem mencionar os meios pelos quais pretendem realizá-las. Restringem-se a tratar dos impactos dos muros para dentro. Ignoram as emissões de carbono da cadeia de valor.

O financiamento climático é uma tendência em alta em fóruns globais como o G20, e em instituições financeiras como os bancos centrais. Investir em medidas de mitigação, segundo Linda Murasawa, pode custar 40 vezes menos do que remediar desastres naturais. Mas isso não vai ocorrer sem revisão de lógica contábil-financeira e uma profunda mudança de modelo econômico. A diretora da Fractal e integrante do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima citou o caso recente das seguradoras. Com o aumento crescente das catástrofes naturais, e por tabela, dos prejuízos com sinistros, o setor vem internalizando como custos os riscos físicos, de transição de litígio.

Ricardo Voltolini é CEO da Ideia Sustentável, fundador da plataforma Liderança com Valores, mentor e conselheiro de sustentabilidade