BNDES mostra balanço positivo e encara desafio de facilitar financiamento
Números do balanço de nove meses em 2024 mostram um banco ativo, estimulando o crescimento e usando os recursos de forma saudável na economia
Por Regina Pitoscia
Ao contrário de muitas estatais, que devem registrar prejuízo recorde este ano, o BNDES apresentou dados robustos em seu balanço de noves meses em 2024. Do lucro líquido recorrente, que cresceu 48,5% e chegou à marca de R$ 9,8 bilhões, à inadimplência que despencou e está muito próxima a zero, 0,001%. Da evolução de 11,1% da carteira de crédito, atingindo o maior volume emprestado desde 2017, R$ 550,3 bilhões, à destinação de recursos à indústria, que igualmente foi a maior em sete anos. Tudo foi anunciado de modo assertivo pelo presidente do banco, Aloísio Mercadante, e dois de seus diretores, Alexandre Abreu (Financeiro e Mercado de Capitais) e Nelson Barbosa (Planejamento e Relações Institucionais), que mostraram uma instituição que cresce e está mais atuante.
Não só porque não necessita de recursos do Tesouro para operar, mas porque, e principalmente, está destinando R$ 25 bilhões em dividendos ao Tesouro Nacional, o BNDES consegue contribuir de forma importante com o governo para:
● melhorar os resultados da dívida pública,
● alcançar o superávit primário,
● e o equilíbrio fiscal.
Ao abrir mais esses cálculos, Mercadante diz que o repasse é ainda maior, porque pode ser considerada a antecipação dos subsídios do passado que é feita ao TCU, o que resulta em abatimento da dívida pública. “Olhando o conjunto, são R$ 34,3 bilhões que estamos transferindo ao Tesouro este ano. É uma contribuição muito expressiva. Proporcionalmente, a maior do Estado brasileiro”, diz ele.
As impressões foram positivas também entre os especialistas do mercado. “À primeira vista, me pareceu um movimento saudável. Há um receio de o BNDES ser utilizado como um aparato político para conceder créditos subsidiados, o que impacta a política monetária e as contas públicas. Mas não foi o que ocorreu, o banco expandiu sua carteira de crédito e 80% das concessões foram com taxas de mercado, apenas 20% restantes foram em condições subsidiadas”, afirma Guilherme Dias, economista e analista da Suno Investimentos.
Ele reconhece que, por ser voltado ao desenvolvimento, o BNDES deve atuar de forma diferente do banco comercial ou um banco de investimento. Existe a necessidade de uma parcela de financiamento mais facilitado para alguns setores e empresas.
Pela primeira vez, desde 2017, os volumes direcionados para a indústria ultrapassam os do agronegócio.
● Houve uma evolução de 50% de recursos para o setor industrial em relação ao ano passado e de 263% em comparação a 2022, alcançando R$ 37 bilhões até setembro.
● Mercadante explica que a indústria estava deprimida e era preciso agir.
● Junto com o vice-presidente Alckmin e o Ministério da Indústria e Comércio, o BNDES desenhou uma nova estrutura para cuidar do setor, com missões e prioridades.
● Além disso, o governo começou a tomar medidas de defesa industrial. Foram anunciados R$ 130 bilhões para a indústria automotiva, e um dos projetos foi financiar a mudança do setor de P&D (pesquisa e desenvolvimento) de carros híbridos da Volkswagen da Alemanha, que hoje tem problemas com energia, para cá.
“É o futuro do Brasil. O automóvel híbrido é o futuro do Brasil, elétrico e etanol. A venda de automóvel esse mês aumentou 20%”, diz o presidente do banco.
“Tenho alinhamento total com o esforço do governo em conciliar o controle fiscal com investimentos e políticas sociais.”
Aloísio Mercadante, presidente do BNDES
O setor de agronegócio também recebeu uma fatia generosa, de R$ 35,1 bilhões, porque tem seu lugar consolidado na economia global, pondera o dirigente do banco.
O de serviços recebeu R$ 24,5 bi, e coube ao de infraestrutura a maior fatia, de R$ 40,8 bi.
Um dos projetos emblemáticos em infraestrutura, e suportado por project finance, ou seja, com seu próprio fluxo de caixa e seus ativos recebíveis, é o da Via Dutra, uma estrada que liga São Paulo e Rio de Janeiro e passará a ter iluminação led, sistemas de conectividade e câmeras de segurança em toda sua extensão de 630 Km. Terá sua capacidade de tráfego aumentada em 40%. É por lá que passam 160 milhões de veículos por ano e a metade do PIB brasileiro, segundo ele. O banco conta atualmente com 56 projetos nesse mesmo molde de financiamento com seus próprios recursos.
Para aproveitar o gancho de um dos importantes debates nacionais, o de emendas parlamentares, Mercadante fala da necessidade de canalizar os recursos da forma mais apropriada para o desenvolvimento do País. “Além da transparência, as emendas seriam direcionadas para projetos estruturantes, em infraestrutura, saúde, educação, previamente definidos. Quer dizer, o parlamentar pode dizer para onde tem que ir, mas tem de ser para aquilo que é estratégico para o Brasil. Nós precisamos alavancar a capacidade de investimento na infraestrutura”, defente o executivo.
Em todos seus movimentos e ações, além do aspecto de crescimento econômico, o BNDES tem outra preocupação no radar, a sustentabilidade. “Nós somos o banco mais verde e com maior responsabilidade social pelos critérios analisados pelo Idec, nosso objetivo é ter um balanço verde, de descarbonização. Somos também o banco que mais financiou a energia limpa e renovável na economia mundial, por uma pesquisa da Bloomberg. Estamos percorrendo esse caminho”, relata.
Nessa trajetória, as perspectivas são igualmente promissoras, e o Fundo Clima do BNDES, que garante recursos para projetos ou estudos e financiamento de empreendimentos que tenham como objetivo a mitigação das mudanças climáticas, terá um papel relevante.
São favas contadas, e a agenda está dada para o início de 2027 do uso de combustível renovável por aviões e navios. Nesse contexto de mudança para energia limpa e descarbonização, haverá uma demanda gigantesca, e o Brasil tem oportunidade única para ser o protagonista e liderar a transição energética. “Há 50 anos produzimos o etanol ,e a bioeconomia será seguramente a primeira etapa da reonovação de combustível”, prevê Mercadante.
Para não perder o cavalo selado que está passando, o País precisa ter sustentabilidade nas contas públicas para conseguir preservar os investimentos no Orçamento, que é o grande desafio, na opinião do líder do BNDES. “Nos atuais níveis, a dívida não é sustentável. Faço um esforço extraordinário para ajudar o arcabouço. Tenho total alinhamento com o esforço que o governo está fazendo para compatibilizar o controle fiscal com a retomada do investimento e com as políticas sociais”, afirma Mercadante.
Também mereceu destaque na apresentação do balanço do BNDES a criação de uma estrutura para cuidar da emergência, reconstrução e resiliência a desastres naturais. “No Rio Grande do Sul, nós entramos operando R$ 24 bilhões. A velocidade da aprovação desses projetos no BNDES foi seis vezes mais rápida do que a média do banco.” Nesse momento, o BNDES assume a administração de R$ 49 bilhões para cuidar da reconstrução de Mariana, em Minas Gerais.