Decisões difíceis: as “escolhas de Sofia” dos líderes
Por César Souza
A maioria das pessoas nem sempre está preparada para os momentos em que precisa tomar decisões difíceis, quando elas exercem o papel de liderança. Geralmente, cursos, livros, biografias e depoimentos sobre a vida dos líderes abordam mais a parte glamorosa e os seus feitos e sucessos e não tratam com a devida ênfase e profundidade as “escolhas de Sofia” que tiram o sono dessas pessoas.
A circunstância apontada de forma mais recorrente é o momento de demitir um dos membros da equipe. O sentimento de culpa e até mesmo o receio de enfrentar esse momento delicado acaba se transformando em algo bastante desagradável. Como um mecanismo de fuga dessa situação, em alguns casos os líderes cometem o erro de terceirizar sua responsabilidade e fazem a demissão de maneira indireta através do profissional de RH ou de outro membro do próprio time. Perdem assim a oportunidade de um diálogo franco e de dar e receber feedback que poderia ser útil para prevenir fatos semelhantes no futuro.
Outra situação que também se revela bastante desconfortável é quando se torna necessário cancelar o contrato de um cliente relevante ou até mesmo de um fornecedor ou parceiro em um empreendimento.
Também bastante delicado e difícil é quando o líder de uma empresa ou de uma unidade de negócio precisa revelar para os seus investidores eventuais prejuízos ou que os resultados atingidos estão abaixo do combinado.
Vários outros momentos difíceis são vivenciados por líderes como, por exemplo, na hora de pedir demissão ao receber um convite mais atraente de outro empregador; ou a necessidade de revelar algo delicado que tomou conhecimento e que precisa ser compartilhado para atender a uma regra de compliance da governança organizacional; dar e receber feedback, que deveria ser uma prática normal, mas geralmente é encarada como um momento desgastante; ou a percepção de um conflito entre os seus valores pessoais e as práticas da empresa.
Também é uma escolha difícil quando o líder é forçado a priorizar um assunto pessoal ou familiar em detrimento da empresa ou até mesmo a questão inversa, quando o líder é forçado a reagendar um importante compromisso familiar devido a uma situação no trabalho.
O nível de complicação e delicadeza sobe um degrau, além dessas situações que de certa forma são objetivas, quando o líder precisa lidar e é obrigado a conviver com pessoas difíceis, as quais por algum motivo não consegue ignorar ou simplesmente “cancelar”. Não é nada fácil se relacionar com pessoas negativistas, indecisas, pouco contributivas, explosivas, com baixa inteligência emocional, ciumentas, invejosas, hostis, opressivas, intimidadoras e que vivem reclamando ou com pessoas tóxicas e manipuladoras que sorrateiramente boicotam a atuação do líder. O que fazer? Não fazer nada? Afastar-se? Mudar de atitude? Confrontar?
Felizmente, não existe receita mágica nem solução universal para superar relações com esse tipo de pessoas. A evolução ou involução de situações como essas vai depender muito do grau de maturidade emocional do líder, do seu autoconhecimento e da sua competência no quesito autoliderança.
Quais os fatos ou circunstâncias que você já percebe como uma situação na qual vai necessitar tomar uma decisão que não será fácil e terá de fazer uma escolha complicada? E, na convivência com pessoas difíceis, você já se fez a pergunta inconveniente se será você a pessoa difícil? Se você ficou inquieto com essa breve lista de momentos delicados, comece a pensar nos fatores que podem se constituir não apenas em uma ameaça, mas também em uma bela oportunidade para você ressignificar o seu posicionamento no exercício da liderança.
César Souza é fundador e presidente do Grupo Empreenda