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O G20 passou. E a agenda ambiental?

Crédito: Ricardo Stuckert

Marcos Strecker: "Nos próximos dias, o presidente vai passar o comando rotativo do G20 à África do Sul com uma sensação de dever cumprido, mas apenas com uma meia-vitória" (Crédito: Ricardo Stuckert )

Por Marcos Strecker

O encontro de cúpula do G20 na segunda (18) e terça (19) coloca o Brasil novamente no centro dos debates mundiais. O presidente Lula, já é possível antecipar, conseguiu fomentar discussões importantes com seus pares pela diminuição da desigualdade, taxação dos super-ricos e com a iniciativa Aliança Global contra a Fome. A presença de chefes de Estado como Joe Biden e Xi Jinping certamente vai abrilhantar a conferência. Mas na questão ambiental, também tema fundamental do encontro no Rio de Janeiro, o brasileiro ainda precisa avançar de forma concreta para voltar a ocupar um protagonismo internacional perdido, indo além da responsabilização dos países desenvolvidos ou da defesa simbólica do meio ambiente.

Foi no próprio Rio, na Eco-92, que a defesa ambiental virou uma agenda global prioritária e o termo desenvolvimento sustentável entrou no vocabulário dos governos de todo o planeta, com a inteligente contribuição da diplomacia brasileira. Mais de 30 anos depois, o País deixou de ser o centro dos debates sobre o tema, ainda que tenha o maior bioma do mundo, uma legislação avançada e o governo Lula tenha conseguido reverter a onda negacionista dos últimos anos, que fez avançar o desmatamento e os crimes ambientais.

A sorte sorriu novamente para o presidente, já que a COP30, maior encontro climático da ONU, ocorrerá daqui a um ano em Belém, colocando novamente o Brasil no centro das atenções. Mas nesse fórum o governo precisará fazer mais do que executou até agora. A disposição coletiva pela preservação do Acordo do Clima de Paris será afrontada pelo governo Donald Trump, que promete dar novo impulso à indústria petrolífera e rasgar compromissos com metas de controle dos gases do efeito estufa, atraindo líderes extremistas de várias nações.

A bandeira da transição energética é um antídoto para esse movimento e um instrumento eficaz de avanço econômico. O governo brasileiro pode aproveitar mais a vantagem competitiva do País, seja pela invejável matriz energética renovável, seja pelo pioneirismo na produção de biocombustíveis. O governo Lula soube fazer isso recentemente com a sanção da Lei do Combustível do Futuro, que poderá movimentar mais de R$ 260 bilhões em investimentos e gerar 300 mil empregos, colocando o Brasil na liderança global da descarbonização dos transportes. A produção de energia eólica e solar também avança. Mas há um descompasso entre a nova geração sustentável e a capacidade de distribuição. Está atrasada pelo governo a divulgação das novas metas de redução de emissões. E a criação da Autoridade Climática, que poderia reverter desastres ambientais, ainda é uma promessa de Lula não cumprida, apesar de anunciada em 2022 e ressuscitada durante as enchentes no Sul no primeiro semestre e quando as queimadas avançaram pelo País poucos meses depois.

É preciso fazer mais. As dúvidas que se avolumaram nos últimos dias, na COP29 (no Azerbaijão), não são bom presságio para o evento que deve coroar internacionalmente a gestão Lula no Pará, daqui a 12 meses. Além da festa, é necessário que iniciativas concretas coloquem o País na vanguarda. Nos próximos dias, o presidente vai passar o comando rotativo do G20 à África do Sul com uma sensação de dever cumprido, mas apenas com uma meia-vitória. Que a COP30 não traga frustração, mas seja um marco efetivo.