Violência rouba 3,5% do PIB na América Latina
Por Paula Cristina
A violência e o crime comprometem cerca de 3,5% da produção econômica da América Latina e do Caribe, segundo relatório do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) com base em dados de 2022. O impacto do crime, aponta o estudo, consome quase 80% do orçamento regional destinado à educação, o dobro do valor investido em assistência social e 12 vezes o montante reservado para pesquisa e desenvolvimento. Segundo a análise, há três principais variáveis nessa conta: a perda de capital humano, os gastos das empresas para lidar com a insegurança e as despesas públicas com prevenção e justiça criminal. “O crime freia o crescimento econômico, amplia a desigualdade e redireciona investimentos públicos e privados”, afirmou no documento Ilan Goldfajn, presidente do BID, ressaltando ainda a necessidade de esforços conjuntos para mudar tal situação. Quando comparados a dados de países europeus — Polônia, Irlanda, República Tcheca, Portugal, Holanda e Suécia —, o impacto econômico do crime na região é 42% superior. O relatório mostra ainda que, caso os países da América Latina e Caribe pudessem reduzir esses custos para os níveis europeus, teriam quase 1% adicional do PIB disponível para programas sociais. A América Latina, segundo um relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI), responde por um terço dos homicídios no mundo, apesar de ter menos de 10% da população global. O crime organizado, em especial, é o grande responsável pela alta dos custos operacionais das empresas, aponta o estudo. Entre as dez cidades mais perigosas, a única brasileira é São Paulo, na nona colocação.
Comércio global
Investimento estrangeiro na China despenca
A China atraiu 640,6 bilhões de yuans (US$ 89,9 bilhões) em investimento estrangeiro direto (IED) entre janeiro e setembro de 2024, 30,4% menos do que no período equivalente do ano passado, segundo dados do Ministério de Comércio do país. Entre janeiro e agosto, o volume de IED havia caído em ritmo mais forte, de 31,5%. Segundo a agência de notícias Xinhua, o setor manufatureiro de alta tecnologia atraiu 77,12 bilhões de yuans, ou 12% do fluxo total de IED, um aumento de 1,5 ponto percentual em relação ao mesmo período do ano passado. Em termos de países de origem, o IED da Alemanha e de Cingapura foram de 19,3% e 11,6% ano a ano, respectivamente, mostraram dados do ministério. Um total de 42,1 novas empresas de investimento estrangeiro foram estabelecidas em toda a China nos primeiros nove meses de 2024, um aumento de 11,4% em relação ao ano anterior.
Orçamento público
O poder do dinheiro
Que o Congresso Nacional detém controle de boa parte do orçamento do Executivo todo mundo sabe, mas foi preciso um estudo para entendermos o tamanho desse enrosco. O levantamento foi feito pelo pesquisador do Insper Marcos Mendes e pelo ex-secretário do Orçamento Federal Hélio Tollini. Do começo de 2021 até agora, deputados e senadores destinaram R$ 131,7 bilhões em emendas parlamentares de todos os tipos. O montante é 87% maior do que o indicado nos quatro anos anteriores (2017-2020), o que mostra a força do avanço do Congresso sobre os recursos do Orçamento. Ao comparar o volume com 11 países da OCDE, um dado alarmante: o percentual dedicado às emendas no Brasil é mais que o dobro do segundo colocado, a Alemanha. Segundo o levantamento, os poderes assumidos pelo Legislativo, com tamanha autonomia, é um modelo de República que não existe em nenhum outro lugar. Hoje, as emendas representam 24% das despesas livres (discricionárias) do governo. É mais que o dobro do segundo colocado, a Alemanha.
“Pela facilidade de acesso, pode-se afirmar que com as chamadas bets estamos permitindo a instalação de um cassino no bolso de cada brasileiro.”
Macaé Evaristo, ministra dos Direitos Humanos, sobre a explosão das casas de apostas
Escala 6×1
O novo dilema de Lula
Em Brasília, a cúpula do governo está em polvorosa. As pressões envolvem o ajuste fiscal, as incertezas da reforma tributária e o aumento da Selic. Tudo isso tem prejudicado a percepção da população sobre o andamento do governo, ainda que a economia tenha apresentado sinais de melhora. A discussão, então, tornou-se: qual agenda perseguir para melhorar a imagem junto ao eleitorado? Uma alternativa seria embarcar na PEC que flexibiliza e facilita escalas de trabalho com mais dias de folga. No grande público, o entendimento é que seria o fim da escala 6×1, ainda que o texto não crave isso em ponto algum. Para os aliados mais radicais de Lula, essa é a oportunidade de o governo comprar uma briga que não começou e que tem apelo com o mesmo público que se frustrou com o presidente após decisões como o adiamento da isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil e a lateralização do MST. Entre os palacianos mais moderados, no entanto, há uma percepção que tal medida pode causar incômodo no setor produtivo e gerar um desgaste com os empresários.