“Não podemos aguardar a infraestrutura perfeita para evoluir na logística”, diz Marcelo Zeferino, COO da Prestex
COO da companhia, Marcelo Zeferino diz que mercado em ascensão e novas economias pautadas no comportamento do consumidor elevam a necessidade do transporte aéreo
Por Paula Cristina
Alguns clichês se tornaram muleta para parte do empresariado brasileiro. “Há impostos demais”, “falta infraestrutura” e “o Brasil é muito complicado” são alguns deles. Mas não é por isso — aliás, é apesar disso — que muita gente se estrutura e cresce por aqui. Exemplo disso é a Prestex, empresa de logística aérea que tem voado alto, apesar de todos os desafios impostos na terra e no céu brasileiro. Para Marcelo Zeferino, COO da companhia, mesmo com as adversidades do setor e da economia, o momento é promissor. A empresa espera crescer 30% este ano e se apoiar em eficiência e tecnologia para chegar mais longe. O que muitos podem entender como impeditivo, como o fato de o Brasil ser um país subdesenvolvido, ele vê como oportunidade de negócio. O potencial de crescimento por aqui, diz ele, é muito superior ao de mercados mais maduros. E estar pronto para quando a demanda ocorrer é fundamental para os planos de expansão dos próximos anos. Hoje o Brasil concentra apenas 2% do transporte de cargas via aérea, número que salta para 10% em países como Estados Unidos e Alemanha. Com o crescente interesse das empresas brasileiras por agilidade, Zeferino faz uma leitura do mercado de cargas brasileiro e diz que a empresa já estará pronta para decolar quando chegar a hora.
O setor de logística vem ganhando espaço a cada ano. Quais as principais apostas?
A logística é peça fundamental no desenvolvimento de qualquer economia mundial, tudo passa pela logística. Hoje, o grau de experimentação do consumidor está muito alto, dado o cenário tecnológico e a disseminação instantânea da informação. Fica quase que obrigatório tanto para a indústria quanto para o setor de serviços testar e criar novos produtos e maneiras de desenvolver seu negócio. Quem impulsiona essa evolução é o consumidor, cada vez mais nichado, com gostos e costumes cada vez menos padronizados, colocando em sua rotina compras e negociações que façam sentido para o seu momento de vida. Tudo isso gera uma transição de informação gigantesca, mas também uma complexidade logística com a mesma proporção. Estabelecer um paralelo competitivo, com prazos cada vez mais curtos e visibilidade cada vez mais evidente, gera um desconforto à cadeia logística, mas também uma grande oportunidade de desenvolvimento e crescimento.
E os gargalos, desafios?
Passamos anos ouvindo que a infraestrutura é o grande gargalo da logística, tanto no Brasil como em outros países subdesenvolvidos. Mas o fato é que esse cenário está posto e, a não ser que você queira ficar fora do jogo, você precisa se adaptar a ele. A velocidade da adaptação aos recursos existentes e o real entendimento sobre quais são essenciais para o desenvolvimento é um grande desafio. Quando falo em recursos, não me detenho só aos tecnológicos. Isso passa por um posicionamento assertivo do modelo de negócio de quem escolhe explorar essa cadeia, por um dimensionamento de estrutura e investimentos de acordo com o mercado proposto e por um planejamento de médio a longo prazo. Afinal, não podemos aguardar a infraestrutura perfeita para realmente evoluir como logística. Provavelmente, quando isso acontecer as necessidades serão outras, as ofertas serão outras, e quem não tiver acompanhado essa evolução, estará fora do mercado.
Diante desse cenário, como você avalia as perspectivas de novos mercados? Há espaço para crescimento do modal aéreo para o transporte de cargas?
Sem dúvidas, quando falamos em mercados mais desenvolvidos [Americano e Europeu] o modal aéreo corresponde a quase 10% do total, enquanto no Brasil ainda beira os 2%. Naturalmente esse cenário pode evoluir por conta do comportamento de compra do consumidor. Conforme as “dores” do mercado começam a ser sanadas, novas possibilidades são apresentadas e inseridas nesse contexto. O mercado nacional deverá ter um aumento significativo nos próximos anos no que diz respeito ao transporte aéreo, enquanto o mercado mundial deverá crescer de forma menos acentuada.
E quanto ao apoio dos governos com infraestrutura e financiamento? O que é mais urgente para o transporte aéreo de cargas?
A falta de infraestrutura gera uma trava no setor. Pela obviedade do modal, são necessários aviões e aeroportos para que o transporte aéreo ocorra. Quando falamos em grandes centros, temos uma razoável disponibilidade de operações, digo razoável pois atende o mercado de hoje, mas teremos gargalos conforme a economia cresce e novos mercados se desenvolvem. Já em médias e pequenas cidades, a falta de aeroportos e a distância de grandes centros são um complicador. Sem dúvida, com mais aeroportos e mais opções de voo teríamos uma maior participação do modal aéreo no transporte de cargas. A solução que vejo é a multimodalidade, quando combinamos em um mesmo transporte o aéreo e o rodoviário.
Quais as principais tendências mundiais para o setor e o modal aéreo?
Com todo o desenvolvimento e crescimento tecnológico, encurtar o tempo entre as pontas se faz necessário. Isso caminha para uma solução via transporte aéreo. Vejo um crescimento exponencial principalmente em países subdesenvolvidos, haja visto que a quantidade de players que apostam no setor aumenta e as grandes rotas e soluções óbvias para elas já estão resolvidas. O mercado em ascensão e as novas economias pautadas no comportamento do consumidor elevam a necessidade do transporte aéreo.
Como avalia o desempenho do setor diante da evolução do PIB em 2024?
Vejo como positivo. Hoje os investimentos na área são muito superiores aos do passado quando tratávamos a logística apenas como custo. Quando passamos a entender o diferencial competitivo da logística e as possibilidades de crescimento com o investimento na área, começaram a aparecer novas possibilidades e a aceitação de soluções que no passado eram impensadas. Se hoje você está no setor, e não cresce mais do que média de mercado, você está com problemas.
Falando da Prestex, como estão os números?
Em 2023 crescemos 15% e a expectativa para este ano é dobrar o crescimento, chegando aos 30%.
Quais são os planos de expansão para novos mercados, modais ou ampliação de serviços?
Hoje a Prestex atua em todos os segmentos no mercado nacional. Recentemente nos certificamos para transporte internacional e devemos em breve desbravar esse mercado. Outra área que estamos desenvolvendo produtos específicos é na 4PL [Fourth Party Logistics – Logística da Quarta Parte] com gestão estratégica e integrada da cadeia de suprimentos.
Como estão os investimentos, geral e em tecnologia?
Hoje todo o negócio é sistematizado, temos uma meta de abolir toda e qualquer análise e atividade paralela da empresa, trazer tudo para o sistema. Fora isso, buscamos constantemente soluções que levem uma experiência excepcional ao consumidor final e seus coparticipantes.
E a mão de obra e capacitação? Tem faltado profissionais?
Não vejo como falta de mão de obra específica, entendo como uma mudança comportamental nas pessoas e negócios. As formações tradicionais como se davam no passado, deram lugar a formações específicas e focadas em nichos, o problema é que o mercado continua exigindo as formações tradicionais para problemas que serão resolvidos com novas skills [habilidades]. Na Prestex focamos em capacidade de execução e habilidade de desenvolvimento, independentemente da posição ou área. Para competências específicas, criamos a Universidade Prestex, uma plataforma personalizada de educação corporativa. Toda nossa gestão passou por um programa de desenvolvimento na Fundação Dom Cabral. Sem uma liderança qualificada e engajada é impossível estabelecer uma cultura de desenvolvimento.