Morte, impostos e… Bitcoin
Por Norberto Zaiet
“Nossa nova Constituição está estabelecida, e tudo parece indicar que será duradoura. Nesse mundo, porém, nada é certo além da morte e dos impostos.” Há 250 anos, Benjamin Franklin não teria como imaginar o que aconteceria com o país que ele acabara de ajudar a criar, mas, caso vivesse para ver a eleição de Donald Trump à Presidência dos EUA, certamente pensaria em agregar o Bitcoin à sua máxima. A categoria dos criptoativos e, em especial, o Bitcoin, ganhou um aliado feroz no comando da maior economia do mundo.
Imagino que Trump, como a maioria dos leigos (grupo no qual me incluo), não entende qual a serventia desses ativos no dia a dia da sociedade ou de uma economia desenvolvida com moeda estável. Entretanto, a olhos de agora, isso importa muito pouco.
Aos trancos e barrancos, como todo e qualquer empreendimento, a classe de ativos se estabeleceu. Descentralizada por construção, sobreviveu a todas as mazelas que isso poderia lhe causar: inúmeros escândalos, fraudes e quebras (de empresas e de confiança), volatilidade de preços, ímpeto do regulador. Até hoje, sobrevive ao fato de oferecer um meio de troca para atividades ilegais e evasão fiscal.
Na falta de uma razão econômica, existem várias sociológicas. A eleição de Donald Trump demonstra que a sociedade está, para dizer o mínimo, desencorajada com as instituições, governos e governantes que a servem.
E não é de hoje. Sua vitória em 2016 teve o mesmo pano de fundo e, se não fosse a pandemia, me arrisco dizer, sem medo de errar, que Trump teria sido reeleito em 2020. Os criptoativos representam, à sua maneira, uma janela de escape à centralização que os governos e instituições proporcionam, uma resposta ao desalento e ao vazio que representam nos dias de hoje.
Numa imensa vitória, e após muita oposição, a classe de ativos conseguiu se estabelecer dentro das vias institucionais que lhe serviam. Falo aqui da criação dos ETFs lastreados, primeiramente por Bitcoin e, depois, por Ethereum no mercado à vista. Esses veículos permitem que investidores comuns possam participar sem que tenham de sair do conforto que a centralização lhes proporciona. Juntou-se o útil ao agradável.
Durante a campanha eleitoral, Trump rapidamente percebeu que aí havia dinheiro. Seu posicionamento a favor do setor proporcionou o aporte de mais de US$ 200 milhões em super PACs que o apoiavam. Trump prometeu a criação de uma “reserva estratégica” do Tesouro americano em Bitcoin e deve apontar um secretário do Tesouro e um chefe para a SEC simpáticos ao setor.
Considerando tudo isso, o caso para se apostar em Bitcoin (e afins) é muito simples e continua o mesmo desde a sua criação: é uma classe de ativos com demanda crescente e oferta finita. A eleição de Trump aumentou ainda mais a demanda, e os ETFs dão facilidade ao acesso. O caminho parece livre.
O investidor mais cauteloso vai dizer que já subiu demais, e é verdade. Acredito, no entanto, que os preços atuais refletem apenas um aumento de demanda seguindo uma mesma curva. A meu ver, a curva de demanda se deslocou para cima e isso ainda não está no preço.
Sou um value investor e, em geral, esse tipo de ativo fica fora do meu radar habitual. Investidores como eu tendem a estar na linha de Warren Buffet: isso é veneno de rato ao quadrado. Como a vida é mais complexa e eu tenho infinitamente menos dinheiro que Warren, meu primeiro envolvimento com o ativo foi a US$ 3 mil. A tese de investimento era exatamente a mesma: mais demanda que oferta. A US$ 90 mil, a tese só ficou mais forte. Já escrevi aqui e reforço: a olhos de hoje, é mais arriscado não ter Bitcoin do que ter.
Com todas as incertezas pelo caminho (tarifas, política energética, inflação, taxa de juros, guerras etc.), a única certeza do investidor na nova era de Trump, pelo menos por enquanto, é o Bitcoin. E, claro, a morte e os impostos.
Norberto Zaiet é economista, ex-CEO do Banco Pine e fundador da Picea Value Investors, em Nova York