Nova onda de regulações favorece a gestão de riscos ESG
Por Ricardo Voltolini
No final de outubro, a Ideia Sustentável apresentou o estudo ESG Trends-2026, produto do seu Observatório de Tendências ESG. Elaborada a partir da análise de 12 especialistas, tendo como base o impacto para as empresas e a promessa de ocorrência no curto prazo, a pesquisa apontou as tendências mais relevantes em seis temas de ESG.
Neste artigo, tratarei do tema Gestão de Riscos ESG. Cinco tendências complementares receberam as notas mais altas:
(1) De gestão de ricos climáticos a resiliência,
(2) Foco na adaptação climática,
(3) Transparência e divulgação aprimoradas,
(4) Aumento da regulação e litígio climático,
(5) Capital humano e habilidades verdes.
Na avaliação das analistas, a Gestão de Riscos ESG será impulsionada por novas regulações, que estão afetando as empresas listadas de capital aberto. No Brasil, a resolução 193 da CVM obriga que essas empresas, já a partir de 2026, adequem suas divulgações financeiras às novas normas de sustentabilidade do IFRS, padrão internacional adotado em 138 países.
A partir de 2027, terão que publicar relatórios mostrando como lidam com os riscos climáticos. Já as não listadas, por integrarem a cadeia de suprimentos das empresas maiores, serão instadas a jogar o mesmo jogo. Com a maior intensidade e frequência de eventos climáticos extremos, não poderão mais ignorar os desafios de mitigação e adaptação. Segundo Gabriela Blanchet, sócia da Blanchet Advogados, esse tipo de abordagem resultará em novas oportunidades de negócios.
Para avançar nessa prática, as áreas de Gestão de Riscos das empresas precisarão compreender que o risco não é baixo apenas porque se tem controle sobre ele. Riscos de ESG, segundo Ana Paula Carracedo, diretora de compliance da Aegea Saneamento, não são gerenciados por meio de controles. Mas com estratégias. “Cessar riscos significa, muitas vezes, encerrar uma operação”, afirma.
A tendência por maior transparência e divulgações financeiras aprimoradas chegou de vez. Empresas terão que fazer uma comunicação honesta, objetiva e coerente
A mitigação seguirá no radar, até porque países como o Brasil anunciaram compromissos (67% menos GEEs até 2035) mais ousados na COP 29, no Azerbaijão. Considerados os naturais entraves na costura de acordos globais, o foco deverá recair cada vez mais sobre a adaptação climática, visando reduzir impactos como o observado na recente tragédia ambiental do Rio Grande do Sul.
Carracedo acha, no entanto, que as empresas ainda não conseguem ter uma dimensão sistêmica do conjunto de riscos. Por essa razão, investem em medidas insuficientes, orientadas por uma lógica restrita de responsabilidade social. Para ela, nem mesmo o mercado financeiro tem sabido colocar o impacto climático na conta (valuation) das empresas.
A tendência por maior transparência e divulgações financeiras aprimoradas chegou de vez. Não é difícil compreender as razões: informações divulgadas precisam ser confiáveis na medida em que influenciam as tomadas de decisão de investidores. Assim, as empresas terão que fazer uma comunicação honesta, objetiva e coerente.
As especialistas ouvidas pela Ideia Sustentável concordam que o movimento de regulações ESG deve se expandir nos próximos anos. Um bom exemplo é a recente aprovação no Senado do Projeto de Lei que regulamenta o mercado de carbono no Brasil. Apesar disso, acredita Carracedo, os governos seguirão receosos em endurecer as regras frente à perspectiva de crises econômicas. Não haverá mudança efetiva na gestão dos temas ESG sem uma transformação no “modelo contábil-financeiro” vigente, isto é, no modo como as empresas medem suas riquezas.
Ricardo voltolini é CEO da ideia sustentável, fundador da plataforma liderança com valores, mentor e conselheiro de sustentabilidade