Sua empresa deve ter um Centro de Excelência em Inovação?

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Luís Guedes: "Há um risco de que os colaboradores do Centro sejam percebidos como um grupo de elite, separados do resto da organização" (Crédito: Divulgação)

Por Luís Guedes

Atenta leitora, curioso leitor, permitam-me subverter a ordem das coisas e começar pela conclusão: SIM, sua empresa poderia levar a inovação para um patamar superior ao instituir um Centro de Excelência em Inovação.

As principais vantagens de se estabelecer um Centro dessa natureza são a criação na companhia de um hub de expertise, que promove a cultura de inovação e dissemina as melhores práticas para projetos inovadores. Em tempo: deve servir toda a companhia. Ficou desgastada a lógica de gestão da inovação com foco nos produtos somente. A aspiração contemporânea é de que a inovação vá para todos os lados: gestão de talentos, marketing, operações, finanças, compras. O Centro pode contribuir muito com essa ambição, oferecendo método, processos, tecnologia, métricas e impulso estratégico. A unificação da disciplina de inovaçãosob um único teto joga a favor da consistência e do alinhamento estratégico das iniciativas inovadoras dispersas pela organização e previne a duplicação de esforços. A literatura e a experiência desse articulista sugerem que, se bem conduzido, um Centro de Excelência em Inovação pode ser o catalizador de profundas e importantes mudanças na organização.

Quem já fez (e faz) indica alguns desafios aos que vão trilhar essa jornada. Destaco quatro deles:

1 – Risco de, inadvertidamente, criar camadas adicionais de burocracia. Se não for gerenciado com cuidado, o Centro pode se tornar um gargalo para a inovação, desacelerando o processo e desincentivando os agentes.

“As principais vantagens de se estabelecer um Centro dessa natureza são a criação na companhia de um hub de expertise, que promove a cultura de inovação e dissemina as melhores práticas para projetos inovadores”

2 – A implementação do Centro pode representar uma mudança importante na forma como a organização aborda a inovação, e é de se esperar que haja alguma resistência, em particular daquelas e daqueles que se sentem confortáveis ​​com os processos existentes ou que temem que suas funções (ou poder) possam ser diminuídos.

3 – Há um risco de que os colaboradores do Centro sejam percebidos como um grupo de elite, separados do resto da organização. Essa percepção pode levar a algum ressentimento e à redução da adesão dos demais.

4 – Se o Centro ficar isolado das operações, fisicamente inclusive, pode haver um risco de que suas iniciativas não se alinhem o suficiente com os desafios e oportunidades enfrentados pela organização.

Uma pesquisa recente e muito consistente sobre o tema, publicada no Journal of Innovation Management, examinou o impacto dos Centros de Excelência em Inovação no desempenho organizacional de dezenas de empresas, comparando-as com um grupo de controle. Os resultados da pesquisa revelaram que empresas com Centros de Excelência em Inovação bem estabelecidos apresentam maior número de lançamentos de produtos, melhor taxa de sucesso de mercado dos produtos lançados e desempenho financeiro superior. O estudo também destacou que os principais fatores de sucesso para o estabelecimento dos Centros são, pela ordem: patrocínio executivo, equipe enxuta e tecnicamente competente e estabelecimento de métricas de impacto que permitam validar a tese do Centro e “vendê-lo” internamente, minando as resistências.

Não são poucos nem triviais os desafios daqueles que vão trilhar esse caminho, mas a vida é feita de movimento. Mesmo quando estamos parados, algo sempre está acontecendo ao nosso redor.

Luís Guedes é professor da FIA Business School