A chantagem parlamentar a céu aberto
Por Carlos José Marques
Agora é explícito, sem qualquer tipo de disfarce ou discrição. É um toma lá dá cá à luz do dia. Me passa o dinheiro da minha emenda aqui e te dou o voto para o pacote fiscal. Do contrário, nada feito. Não interessa o que está em jogo. Não tem a menor importância nem mesmo se o tema representa avanços ou retrocessos no plano tributário. Não está em questão ou discussão se as matérias em votação são melhor para o contribuinte que, em última instância, é quem dá o aval na urna para os congressistas existirem e, supostamente, defenderem os seus interesses. Cada um dos eleitos no Congresso cuida de garantir o próprio quinhão. Nada de representatividade ou preocupação coletiva. Esqueça, pura ilusão.
O comandante em chefe da Câmara, Arthur Lira, disse isso sem meias palavras ao presidente Lula: ou molhava a mão da turma ou nada feito. Numa conversa no Planalto, informou que “o clima” para a aprovação das medidas desandou. As coisas agora são feitas assim mesmo. Às claras. Tem de ser presidencialismo de cooptação mesmo ou semipresidencialismo, onde quem de fato está controlando as cartas é o baixo clero de um Centrão político sem nenhum escrúpulo. Funciona como a tropa quer. E, diga-se de passagem, a maioria esmagadora dela enfileira-se do lado contrário aos interesses nacionais e é constituída de opositores da gestão em curso. Então está feito o tempero perfeito para azedar o caldo. Não há saída.
O líder do governo no Parlamento, senador Randolfe Rodrigues, chegou a fazer um alerta incisivo: “Estamos entre o céu e o inferno”. E como não havia saída, veio mesmo o “molha as mãos”. Generoso! Em liberações de “emendas Pix”, a pedido de Lira e do próprio Rodrigo Pacheco, que controla o Senado, e que juntos aconselharam o mandatário a fazer “um gesto”. Quase R$ 8 bilhões foram liberados de uma sentada. O Palácio do Planalto ainda prepara uma portaria que irá permitir uma aceleração nos pagamentos, a toque de caixa mesmo, para que ainda neste ano todo o processo avance. É tungar mais do seu, do meu, do nosso bolso para alimentar os insaciáveis tubarões.
A barganha vai aos poucos funcionando. Afinal, o dinheiro já está jorrando. Na Câmara, em regime de urgência, nada menos que 18 projetos foram analisados, votados e aprovados. Quando querem, as coisas funcionam. Mas topam apenas quando estão bem alimentados com alguns caraminguás. Assim a banda toca. O nome do jogo é negociata. Ao ritmo atual, o governo Lula vai ter de executar R$ 1 bilhão por dia para quitar as emendas prometidas ao Congresso. São verbas carimbadas para redutos eleitorais até o final de 2024 que precisam ser cumpridas, sob pena de deputados e senadores virarem a cara para qualquer pedido do Executivo daqui para a frente. O clima não é bom porque a ausência do presidente, internado para cirurgia, pendurou o cumprimento das pendências e ampliou os problemas. Sem o toma lá dá cá, nada anda. É o Brasil de hoje.