Esportivo elétrico x a combustão: qual deles dá mais vontade de acelerar?
Texto Flávio Silveira
Reportagem Quattroruote
Quem já guiou esportivos elétricos sabe que são extremamente rápidos, mas também deve ter notado que falta alguma coisa. Aceleram muito, de fato, graças ao torque instantâneo, mas não trazem aquela agradável – e muitas vezes bruta – sensação de trocas de marchas, pois a maioria não tem sistema de transmissão (ou similar) que permita reduzir velocidade antes das curvas, trabalhar com transferência de carga etc. E esportivos a bateria ainda ficam devendo a sonoridade dos “velhos” carros a combustão: entregam emulações que vão de sofríveis a aceitáveis. Enfim, falta alma, personalidade, ou chame como preferir.
Obviamente, não fomos os únicos a notar isso e, embora marcas tradicionais de modelos de alta performance como a Ferrari e a Aston Martin já tenham híbridos para cumprir as leis de emissões, elas já lançaram ou anunciaram novos 12 cilindros “ecologicamente incorretos”, sem nenhuma ajuda elétrica. Outras, como a Pagani, ainda não se renderam à eletrificação – talvez seja a única? Dela, aceleramos o novo monstro biturbo de 964 cv e 1.100 Nm chamado Utopia – um nome bem adequado, aliás. Mas, antes dos testes dele e do Ferrari 12Cilindri, vamos conferir outros esportivos que estão vindo aí – e outras pontes entre os puríssimos modelos italianos e a utopia de um mundo só de carros elétricos.
● “Continuar a investir em motores V12 foi uma escolha nossa”, revelou Enrico Galliera, diretor de vendas e marketing da marca Ferrari. “Estávamos começando a investir em eletrificação, e fazer esse novo V12 aspirado foi um verdadeiro ato de amor. Além de um carro elétrico, continuamos desenvolvendo todos os outros tipos de motorização: turbo, híbrido plug-in e naturalmente aspirado. É uma opção muito cara”, explica ele, “mas seríamos arrogantes se fôssemos nós que decidíssemos quais tecnologias prevalecerão. Queremos que o cliente possa escolher.”
E assim nasceu o substituto do 812 Superfast, que já aceleramos. Batizado simplesmente de Ferrari 12Cilindri (o nome fala por si só), ele é um hino aos valores da marca italiana. No estilo, tem proporções diferentes dos demais modelos, com capô longo para acomodar o enorme motor dianteiro – justamente seu maior destaque, é gloriosamente aspirado, sem ajuda nem de turbinas. E, com 830 cv e 678 Nm, o 6.5 V12 vem, pela primeira vez na história, associado a um câmbio de dupla embreagem e oito marchas. Isso permitiu relações de marcha mais curtas e um aumento de 12% no torque rodas – com a consequente redução de 30% nos tempos de trocas: ele vai de 0-100 km/h em 2,9 segundos e de 0-200 em apenas 7s9.
● Já em Gaydon, Inglaterra, a Aston Martin também defende um público pequeno, mas rico e ainda ávido por emoções viscerais. “Eles querem sentir o cheiro e ouvir o barulho do motor a gasolina”, diz Lawrence Stroll, presidente da marca. Deles, será lançado muito em breve o novo Vanquish, que abre esta reportagem. Acima do DB12 e do Vantage, assumirá o lugar do DBS Superleggera. O visual revisado tem chamativas guelras de fibra de carbono em homenagem à história recente da marca na F-1. O entre-eixos alongado em oito centímetros é sintoma de extensa revisão do chassi. E a grade dianteira ainda mais larga serve para “engolir” o ar necessário para resfriar o V12, que é dianteiro como no Ferrari, mas se rende ao turbo (dois, na verdade) e foi amplamente reformulado: a cilindrada continua em 5,2 litros, mas agora são 835 cv e, acima de tudo, 1.000 Nm de torque.
● E se é preciso haver oferta para todos e a eletrificação é inevitável, por que não usá-la para tornar os carros ainda mais rápidos e/ou melhorar seu handling? Foi o que a Lamborghini fez com o Revuelto, somando três motores elétricos ao V12 para ultrapassar os 1.000 cv (avaliamos em janeiro – leia no site). Abaixo dele, virá o Temerario, que, no lugar do V10 do Gallardo e do Hurracán, terá um V8 que, associado aos motores alimentados por uma bateria de 3,8 kWh, vai a 920 cv (50% mais).
E se o V10 teve que ser abandonado por não cumprir as regulamentações de emissões, a magia sonora do motor 5.2 não poderia ser abandonada: a marca desenvolveu um propulsor de menor volume, mas com ajuda de três motores elétricos, e o fez girar a 10.000 rpm – tudo para dar aos futuros clientes uma experiência que não os fará se arrepender do “ajuste” no V10 e elevará significativamente o desempenho. O 4.0 biturbo sozinho entrega 800 cv de 9.000 a 9.750 rpm, e somam-se as três unidades elétricas citadas, com fluxo axial e potência de 150 cv cada. Dois ficam no eixo dianteiro, para garantir a tração integral, e o terceiro fica entre o motor e a caixa de dupla embreagem e oito marchas.
● Enquanto isso, a McLaren também recorreu ao auxílio de motores elétricos para criar um monstro ainda mais potente, e o modelo com maior cavalaria que já fabricou – o recém-anunciado W1, limitado a 399 carros (alguns para o Brasil, inclusive). São 1.275 cv e 1.340 Nm, sendo 928 cv do motor V8 (233 cv por litro) que gira a até 9.200 rpm e 347 do “módulo E”, que integra motor elétrico e unidade de controle. São 1.399 quilos, e 911 cv/tonelada – a relação mais alta já registrada em qualquer McLaren. Resultado: 0-200 km/h em 5,8 segundos e 0-300 km/h em menos de 12,7 segundos (!!!), com máxima de 350 km/h (com um limitador eletrônico).
● Por fim… até tu, Bugatti? A marca, famosa pelos hiperesportivos Veyron (de 1.001 cv) e Chiron (de 1.500 cv), ambos com um absurdo motor com 16 cilindros em W, quatro turbinas, 0-100 km/h em menos de 3 segundos e máxima superior a 400 km/h, também vai se eletrificar – mas sem diminuir o seu poderio nem o número de cilindros, muito pelo contrário: o novo Turbillion também tem motor de 16 cilindros, mas eles ficam em V (resultando em um virabrequim de um metro de comprimento). Com 8,3 litros, o motor do sucessor do Chiron será aspirado, com o ponteiro marcando 9.000 rpm na potência de pico – 1.000 cv, bem menos do que no Veyron e no Chiron –, mas que trabalha em sinergia com os três motores elétricos que trazem 800 cv extras, somando insanos 1.800 cv em um sistema híbrido voltado para desempenho e handling. Dois elétricos ficam na frente, gerando 300 cv para cada roda, e um outro, de 200 cv, fica atrás. Eles são alimentados por uma bateria de 25 kWh e, embora a marca não tenha anunciado ainda o 0-100 km/h, ele deve ficar na faixa de 2 segundos, com máxima de 445 km/h. Serão 250 unidades, que chegam em 2026 ao preço de 3,8 milhões de euros.
No entanto, após ver o que está vindo por aí, que tal falar um de novos esportivos – tanto “raiz” quanto eletrificados – que já avaliamos aqui e também na Europa, por meio de nossa parceira italiana Quattroruote? Veja como são e como andam os novos Pagani Utopia, Ferrari 12Cilindri, Porsche 911 GTS T-Hybrid e Mercedes-AMG GLE 63 S. São diferentes níveis de eletrificação, todos em busca da máxima performance.