Perspectiva 2025

A importância das parcerias estratégicas

Investir na expansão da malha ferroviária é crucial para a segurança alimentar global, garantindo o escoamento da produção agrícola brasileira

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André de Angelo: "Embora o Brasil possua uma grande malha ferroviária, ela ainda é subutilizada" (Crédito: Divulgação)

O ANO DA COP 30  | INFREAESTRUTURA

Por André de Angelo

Em um país de dimensões continentais como o Brasil, a necessidade de investimentos em serviços de infraestruturas essenciais, como energia, transporte e saneamento básico faz-se necessária, criando uma gama de oportunidades para o setor. Estamos vivenciando um momento positivo nessa área, com uma carteira robusta de projetos, especialmente de rodovias e mobilidade urbana, além das concessões no setor de saneamento. No entanto, há questões cruciais para o futuro próximo, especialmente com relação ao setor de transporte, que impactam diretamente o desenvolvimento econômico do País.

Os desafios são muitos. Mas um deles me chama a atenção. Nossa malha rodoviária, apesar de extensa, encontra-se, em sua maioria, em condições precárias, prejudicando tanto o transporte de passageiros quanto o escoamento de cargas, criando gargalos econômicos e sociais. A manutenção, reforma e expansão dessa infraestrutura são necessárias para garantir a fluidez do transporte e redução de custos logísticos, e a solução pode estar em um setor muitas vezes negligenciado: o ferroviário.

Embora o Brasil possua uma grande malha ferroviária, ela ainda é subutilizada. De acordo com dados de 2022 da Fundação Dom Cabral, apenas 27% das cargas no Brasil utilizam o modal ferroviário, enquanto 62,2% destas são movimentadas por rodovias. Essa dependência excessiva do transporte rodoviário gera um aumento significativo no custo do frete e no desgaste das estradas, além de causar um grande impacto ambiental devido às emissões de gases poluentes.

Investir na expansão da malha ferroviária é uma estratégia crucial para a segurança alimentar global, garantindo o escoamento da produção agrícola brasileira, responsável por abastecer grande parte do mundo. O modelo ferroviário é mais sustentável, pois permite o transporte de grandes volumes de carga com menor impacto ambiental. Além disso, com a crescente pressão global por descarbonização, as ferrovias desempenham um papel fundamental na redução das emissões de CO2, alinhando o Brasil às metas internacionais de sustentabilidade.

Ainda nesse setor, com relação aos sistemas de transporte das grandes cidades, os meios de transporte coletivos são deficitários e trazem prejuízos para toda a população, que perde em qualidade de vida, bem como para o próprio meio ambiente, pois impulsionam o uso de veículos individualizados e mais poluentes, agravam congestionamentos e mantêm as desigualdades sociais entre os que vivem nas áreas nobres e os das periferias das grandes cidades.

Nas chamadas cidades inteligentes, a mobilidade urbana é um fator crucial para conciliar a eficiência no deslocamento de milhares – ou até milhões – de pessoas diariamente de maneira sustentável. Ou seja, é preciso ter uma abordagem que integre o planejamento urbano, a inovação tecnológica e políticas públicas eficazes para todo o ecossistema.

Outro problema histórico do Brasil é a cobertura de saneamento básico, que é insuficiente ou mesmo inexistente em muitas regiões, especialmente nas áreas rurais e em favelas urbanas. A falta de acesso à água potável e ao serviço de esgoto sanitário contribui para problemas de saúde pública e reduz a qualidade de vida. Em 2025, o Marco Legal do Saneamento Básico (PL 4.162/2019), legislação que estabelece metas de universalização do saneamento e do abastecimento de água no País até 2033, completará cinco anos, e a união de forças entre setores público e privado mostra avanços na área – e será preciso fazer ainda mais.

A boa notícia é que o interesse do setor privado nos investimentos em infraestrutura nacional segue alto. Dados da Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), da qual faço parte, mostram que o setor privado deve investir a soma de R$ 372,3 bilhões entre os anos de 2025 e 2029 – uma alta de 63,4% frente à estimativa feita anteriormente para o ciclo 2024 a 2028.

Mas, para que de fato isso aconteça de forma célere e eficiente, é preciso olharmos com atenção a dois modelos de contratação: um são os contratos colaborativos, que permitem que as empresas aproveitem as sinergias entre si, combinando suas habilidades e recursos para alcançar melhores resultados. Esses contratos podem ainda reduzir os custos e os riscos associados ao desenvolvimento de projetos de infraestrutura, tornando-os mais viáveis financeiramente. Outro são as Parcerias Público-Privadas (PPPs), que vêm sendo aceleradas nas esferas federais e estaduais e que permitem a fusão de forças para projetos mais eficientes.

A grande verdade é que os bons resultados só serão obtidos por meio de parcerias estratégicas, soluções inovadoras e investimentos eficientes. Quando idealizamos um Brasil próspero e equalitário, automaticamente imaginamos pessoas com acesso à água tratada, energia a um valor justo e se deslocando com segurança e eficiência. E é esse caminho que precisamos percorrer.