Os bons ventos das eólicas
O mar é a nova fronteira para a produção de energia a partir da força dos ventos. As eólicas offshore são aliadas do Brasil no combate ao aquecimento global e para a liderança no mercado de energias renováveis
Por Regina Pitoscia
A produção de energia eólica em alto-mar, a offshore, deve ganhar impulso e atrair novos investimentos com o Marco Regulatório do setor, aprovado no Congresso no útimo dia 12 de dezembro. Terá de passar por sanção do presidente Lula a regulamentação. Trata-se da segurança jurídica tão aguardada por empresários, nacionais e estrangeiros, que pretendem participar desse mercado, e fundamental para a transição energética do País.
Um dos principais pontos da nova legislação são as regras de organização dos leilões para a cessão de uso das áreas marítimas. Segundo Elbia Gannoum, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias (Abeeólica), o primeiro leilão deve ocorrer já em 2025, mas será entre 2030 e 2031 que os parques offshore deverão estar prontos a operar. São três anos para que as empresas vencedoras possam estudar e mapear os impactos na área e conseguir a licença ambiental, e mais uns três anos para a construção das estruturas.
Trata-se de plataformas a serem instaladas dentro do mar territorial brasileiro, com turbinas que capturam o movimento de ventos para transformá-lo em energia elétrica.
● O País já ocupa um lugar de destaque na produção de eólica em continente, principalmente na região Nordeste, com 90% das usinas, mas há usinas no Sudeste e Sul também, com capacidade instalada total de 33 Gigawatts (GW), o que representa 13,5% da matriz de energia nacional, segundo o Ministério das Minas e Energia.
● A expansão para a geração em alto-mar abre novas fronteiras para o País que, segundo estudos do Banco Mundial, tem potencial técnico de gerar mais de 1.200 GW.
Paulo Guerra, diretor de programas da Fundação Dom Cabral e especialista em transição energética, relata que nossa produção está abaixo da capacidade instalada, em torno de 29 GW, e muito aquém desse potencial apontado pelo Banco. “Estamos muito longe de nosso potencial. Não atingimos nem 10% de nossa capacidade. E é difícil usar 100% dela, porque os ventos precisam estar na velocidade ideal o tempo todo, 24 horas por dia e 30 dias por mês”.
Para o professor Bruno do Carmo, da Escola Politécnica da USP, o setor eólico nacional vem crescendo de forma consistente nos últimos 15 anos, mas este foi um ano bem desafiador para o segmento, porque o Brasil não cresce como deveria crescer. “A demanda por grandes volumes de energia elétrica tem caído. O País passa por um forte processo de desindustrialização. Não há demanda suficiente para absorver toda a energia produzida e também há um problema de gargalo de transmissão”.
Esses são os desafios, mas ele considera que a energia eólica é considerada como um bom produto e há mais oportunidades do que desafios. “O Brasil possui um dos melhores recursos renováveis do mundo e também mais competitivo”, afirma Gannoum.
“O projeto de lei aprovado no Congresso, no dia 12 de dezembro, vai permitir a produção de energia eólica também no mar, a eólica offshore. Vamos ter os parques funcionando a partir de 2030, mas os investidores já estão no Brasil querendo investir neste setor.”
Elbia Gannoum, presidente da Abeeólica
Em relação às offshore, ela conta que os grandes investidores devem ser as empresas de petróleo. Primeiro porque precisam ter investimentos em descarbonização. Segundo, por já terem know-how no mar. O professor da USP diz que empresas chinesas têm interesse no setor offshore. “Estão querendo realmente marcar seu território com as suas grandes turbinas, visto todas as experiências desenvolvidas na China, que considero positivo, trazendo tecnologias que deram certo pra cá”.
No Brasil, a Petrobras sai na frente. “Arrisco dizer que hoje quem tem conhecimento para construir essas estruturas em mar é só a Petrobras e suas subsidiárias, por causa das plataformas de computadores”, constata Guerra, da FDC. “A Petrobras tem um papel importante, está tomando a dianteira com o sentido uma planta-piloto offshore e tem um corpo técnico muito capacitado para isso”, afirma Carmo.
Em parceria com a Equinor, a petrolífera tem dois projetos offshore na fronteira litorânea entre Rio de Janeiro e Espírito Santo, e estuda a viabilidade de mais cinco parques no Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul.
VANTAGENS
Do ponto de vista econômico e social, as perspectivas são promissoras para as eólicas, tanto em terra como no mar.
● Pelas projeções do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), para cada 1 GW de geração eólica offshore, 14.600 empregos podem ser criados em toda a cadeia produtiva.
● A cada R$ 1,00 investido em energia eólica, o setor devolve R$ 2,90 à economia brasileira, na geração de emprego e renda, de acordo com a Abeeólica.
“O setor gera emprego em toda a cadeia de produção, com um efeito para a economia brasileira muito grande. Não é só a questão da matriz, da geração de energia por si só, que já é um fator de muita relevância, mas também o efeito renda, o fator PIB”, afirma Gannoum. “Os equipamentos eólicos são produzidos aqui, porque o País conseguiu atrair as maiores fabricantes de turbina do mundo”, complementa ela.
Em relação ao aspecto ambiental, os efeitos do uso de energia eólica tendem a ser multiplicadores. Só em 2023, os processos eólicos de geração de energia evitaram a emissão de mais de 30 milhões de toneladas de CO2, o que equivale à emissão de 70 milhões de automóveis, pelos dados da Abeeólica.