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O problema não é a comunicação

Crédito: Evaristo Sa

Marcos Strecker: "Como aconteceu com Dilma, não basta o talento em comunicação para afastar o mau tempo na economia" (Crédito: Evaristo Sa)

Por Marcos Strecker

A escalada do dólar na virada do ano e as dúvidas sobre a economia fizeram o ministro Fernando Haddad deixar as férias de janeiro para outra ocasião. E ele já se reuniu com o presidente Lula na última segunda-feira (6). Oficialmente, para tratar da aprovação do Orçamento no Congresso, que está atrasada. Mas aproveitou para tentar alinhar o Planalto com a necessidade de contenção das despesas e preservação do Arcabouço Fiscal. O foco é desarmar a crise de confiança na economia, que não dá trégua. Haddad aproveitou para afastar dúvidas sobre medidas heterodoxas. Disse que não haverá aumento do IOF (Imposto de Operações Financeiras) para negociações com dólar, nem mudança de regime cambial.

O titular da Fazenda reconhece que a divulgação do pacote de cortes, anunciado no final de novembro e aprovado em dezembro no Legislativo, foi problemática. Em entrevista à GloboNews, disse que o governo precisa “se comunicar melhor” e ser mais “coerente e resoluto” nas suas mensagens. Tem razão ao dizer que houve um estresse global com a alta do dólar pela expectativa com a posse de Donald Trump. Por outro lado, isso não justifica que o real tenha sido uma das moedas mais desvalorizadas do mundo no ano passado. E dizer que o dólar no País passa por uma “acomodação natural” também não tranquiliza quem acompanha a divisa americana se estabilizar num patamar estratosférico, acima de R$ 6.

O primeiro boletim Focus de 2025, um termômetro semanal compilado pelo Banco Central de como os agentes financeiros antecipam os indicadores da economia no futuro, atesta o desconforto. Pela 12ª semana seguida, a previsão da inflação subiu, passando de 4,96% ao ano para 4,99%. O mercado também enxerga a Selic no patamar de 15% no final de 2025 e o dólar em R$ 6. Ou seja, cresceu o pessimismo de forma generalizada. Já o ministro disse que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2024 deve ter ficado em 3,6%, segundo suas projeções. Fato, é um número muito positivo e bem acima do que se previa há um ano. Ocorre que os economistas de bancos e os investidores olham com lupa o crescimento da dívida pública e enxergam o futuro, que parece cada vez mais nebuloso.

Isso não parece preocupar o presidente, que começou a segunda metade do mandato apostando no alinhamento com o Centrão e com a nova direção na Câmara e no Senado. A reforma ministerial em gestação tem o objetivo de azeitar essas tratativas. Na prática, Lula elegeu a comunicação como a prioridade número um para alavancar sua popularidade, pois já está com a cabeça em 2026. Para isso, vai repetir fórmulas conhecidas do petismo. Já contratou o publicitário baiano Sidônio Palmeira, que fez sua campanha em 2022. Ele será uma nova versão de Duda Mendonça e João Santana, que moldaram a imagem presidencial nos primeiros mandatos de Lula (Mendonça e Santana) e Dilma (Santana). Palmeira assumirá a cadeira do titular da Secretaria de Comunicação Social (Secom), ministro Paulo Pimenta. Mas, como aconteceu com Dilma, não basta o talento em comunicação para afastar o mau tempo na economia. Se não forem desmontadas as armadilhas para a retomada sustentada do crescimento, nem o carisma do presidente será suficiente para reverter o mau humor dos eleitores.