Desafios de ESG para os próximos dois anos

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Ricardo Voltolini: "O investimento social está assumindo novos formatos orientados por mensuração de resultados, inovação e foco em longo prazo" (Crédito: Divulgação)

Por Ricardo Voltolini

Início de ano é o tempo das inevitáveis previsões de tendências. Com a sustentabilidade empresarial não poderia ser diferente. E é provável que, ao ler este artigo, você já saiba o que vai marcar o contexto de ESG em 2025.

Com o objetivo de contribuir para este debate, coordenei no final de 2024 um estudo do Observatório de Tendências em ESG, da Ideia Sustentável. Elaborado a partir da mineração de dados via Inteligência Artificial, esse estudo contou com o diferencial da participação de 12 especialistas, aos quais coube a tarefa de ponderar sobre o potencial de impacto dos desafios para a empresa e a sua probabilidade de ocorrência nos próximos dois anos. Da sondagem, listamos os mais quentes (maior soma de indicações para potencial e ocorrência) em seis temas.

Já tratei em 2024 do tema “mudanças do clima e descarbonização” e dos seus quatro desafios:
● consolidação da economia de baixo carbono,
● financiamento climático em alta,
● net zero como objetivo central
● e transparência nos relatos ESG.

Também destaquei os reptos mais impactantes de “gestão de riscos ESG”: resiliência e foco na adaptação climática, transparência na divulgação e aumento da regulação e litígio climático.

Neste artigo, abordarei outros três pontos. A começar por “inovação para a sustentabilidade”. Os especialistas convidados para a análise atribuíram as maiores notas de impacto e probabilidade de ocorrência a (1) IA e machine learning para a sustentabilidade; (2) engajamento do consumidor; (3) energias renováveis e armazenamento de energia; e (4) ascensão da bioeconomia circular.

Para um dos especialistas consultados, Jorge Soto (Braskem), o Brasil exerce um papel estratégico na ascensão da bioeconomia circular. Em sua opinião, o enorme potencial de biomassa torna o País um player privilegiado no jogo da descarbonização global e na transição para uma economia de baixo carbono.

“A agenda ESG vem ampliando a necessidade de melhorar o impacto social na cadeia de suprimentos”

No quarto tema, chamado “ambientes diversos, equitativos e inclusivos”, dois especialistas definiram os quatro desafios que vão mobilizar as empresas em 25/26: (1) liderança inclusiva; (2) jornada contínua; (3) ativismo e advocacy; e (4) dados e métricas. As considerações levaram em conta o retorno de Donald Trump ao poder e, por tabela, o aumento na repulsa pelo assunto nas empresas mais reacionárias.

O avanço de DE&I, concordam os profissionais, requer inserir o tema na estratégia, na cultura e no desenvolvimento de líderes. As ações pontuais devem dar espaço a uma jornada de aprendizagem de longo prazo. Fortalecer a agenda implica enfrentar por inteiro a complexidade do tema. “Líderes terão que aprender a dialogar com grupos conservadores cada vez mais resistentes”, avalia Reinaldo Bulgarelli (Txai.) “Em vez de esconder fragilidades, empresas precisarão assumir compromisso público com a melhoria contínua”, acredita Tamara Braga (Petrobrás).

Sobre o quinto tema escolhido, “desenvolvimento de comunidades”, dois experts relacionaram quatro importantes desafios: (1) investimento em cadeias de suprimentos mais sustentáveis; (2) mensuração de impactos; (3) comunicaçãotransparente; e (4) colaboração multissetorial.

O investimento social, acreditam, está assumindo novos formatos orientados por mensuração de resultados, inovação e foco em longo prazo. Segundo os experts, a agenda ESG vem ampliando a necessidade de melhorar o impacto social na cadeia de suprimentos. E assim continuará a ser. “Temos sido procurados por empresas médias que, pressionadas por seus clientes, buscam se ajustar às novas regulamentações internacionais”, pontua Paula Fabiani (Idis).

RICARDO VOLTOLINI é CEO da Ideia Sustentável, fundador da Plataforma Liderança com Valores, mentor e conselheiro de sustentabilidade