Eletricidade no ar
Por Marcos Strecker
A boataria nas redes sociais com notícias falsas sobre o Pix mais uma vez atingiu o governo na sensível área econômica. Pior, acertou novamente o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, justamente o maior defensor da responsabilidade fiscal na Esplanada. Não há nenhuma desculpa para o jogo sujo dos radicais que aproveitaram a vulnerabilidade do governo em sua política econômica para toda sorte de boatos e mentiras que visam desacreditar um dos mais modernos e bem-sucedidos meios de pagamento do mundo. Isso não prejudica somente o governo Lula. Mina a credibilidade de um programa de modernização do Banco Central que está em curso há vários anos. O Pix, especificamente, foi lançado no governo Bolsonaro pelo ex-presidente da instituição Roberto Campos Neto. É legítimo que os bolsonaristas agora espalhem notícias falsas sobre uma inexistente taxação do Pix para tumultuar o comércio e assustar os consumidores?
Não é a primeira vez que o ministro é alvo da guerrilha cibernética. As famosas memes com o personagem “Taxad” em meados do ano passado já mostravam que a cruzada arrecadatória de Haddad criou um terreno fértil para críticas no imaginário popular. A dificuldade do governo em conter as contas públicas só tornou mais difícil defender o Arcabouço Fiscal. E o desastre da comunicação do pacote de cortes no final de novembro tornou ainda mais espinhosa a tarefa de justificar a condução do Orçamento. O governo continua a argumentar que mantém o rigor e não vai permitir a gastança. Mas está cada vez mais difícil se fiar nos argumentos oficiais.
Para ficar apenas em um número, basta citar que o déficit nominal do País (que inclui despesas com juros) vai ficar perto de 9% do PIB em 2025, um dos piores índices do planeta. Antes de Lula assumir, o endividamento bruto do Brasil era de cerca de 71% do PIB. Agora, já ultrapassou 77% e caminha para superar 80%. Tudo fica mais grave porque a inflação continua a persistir e fechou 2024 acima do teto da meta, obrigando o Banco Central a acelerar a alta das taxas de juros. O Boletim Focus do Banco Central mostra que os agentes financeiros cravam uma Selic de 15% no final do ano (Gabriel Galípolo já se comprometeu com 14,25%), com uma inflação de 5% em 12 meses, novamente acima do teto permitido.
Desde o começo de seu terceiro governo, o presidente Lula deu de ombros para o “mercado”. Agora, aposta que o novo chefe da comunicação oficial, Sidônio Palmeira, vai conseguir mostrar que o governo está no caminho certo. Mas o publicitário, que tomou posse como novo titular da Secom na terça-feira (14), já precisou enfrentar a crise do Pix antes mesmo de assumir. O governo de fato estava perdendo de lavada a batalha das redes sociais. Mas não vai virar o jogo apenas com mais eficiência e iniciativa no universo digital. Os números explosivos para a trajetória da dívida pública são eloquentes, assim como a resistência da administração em reconhecer suas falhas. A população sabe perfeitamente o que significa o risco inflacionário, que não deveria ser negligenciado. Haddad, ironicamente, mostrou grande disciplina fiscal quando administrou a Prefeitura de São Paulo. Agora, precisa convencer o governo e seu partido de que esse é o melhor caminho para a defesa do poder de compra dos mais vulneráveis. Ainda não conseguiu.