Além da IA: diferenciação em um mundo automatizado
Por Luís Guedes
A inteligência de baixo custo e sob demanda já está disponível e vem revolucionando o trabalho e o processo de reflexão crítica sobre a realidade. Não se trata de automatizar tarefas apenas; a Inteligência Artificial (IA) e sua versão generativa ampliam de modo sem precedentes a capacidade de quem tem com ela alguma intimidade. Mastiga grandes volumes de dados com velocidade sobre-humana, sintetizando informações e “pensando junto”, usando todo estoque de conhecimento disponível. O santo graal da tomada de decisões baseadas em dados está mais perto de nós do que nunca esteve.
Muitas empresas já são familiares com a IA generativa. A Novartis, por exemplo, usa a tecnologia para otimizar processos de RH, aprimorando descrições de cargos, dando insights sobre avaliações de desempenho e ajudando na comunicação interna. O Goldman Sachs está usando IA para analisar e referenciar de modo cruzado relatórios de analistas, identificando fatores-chave que afetam os preços das ações. A empreitada tem tido notável e um (lucrativo) sucesso. No setor de bens de consumo, empresas como Nestlé, Campbell’s e PepsiCo estão usando plataformas de IA generativa para ganhar insights, selecionar ideias e validar protótipos, acelerando o ciclo de desenvolvimento de produtos de modo impensável há poucos anos. A Mercedes-Benz levou a integração da IA a outro nível, implementando-a não somente em toda a linha de produção, mas na cadeia de suprimentos e rede de parceiros.
Há, no entanto, atento leitor, estimada leitora, um aspecto que merece sua atenção: mesmo que revolucionária, é improvável que a IA por si seja uma fonte de vantagem competitiva sustentável. Os efeitos da IA estão se espraiando a tal velocidade que a taxa de adoção cresce como um foguete. Assim que uma empresa implementa IA, seus concorrentes podem replicar a abordagem. Em essência, estamos chegando no tempo em que a IA será utilizada mais para nivelar o campo de jogo do que para conferir uma vantagem estratégica, que em essência é rara, difícil de imitar e valorosa para os clientes. Qualquer prática ou tecnologia que pode ser copiada ou adquirida deixa rapidamente, apenas através de seu uso, de ser uma vantagem duradoura.
Cabe às lideranças modelar a integração estratégica da IA com as capacidades unicamente humanas. O futuro irá favorecer os que têm a capacidade de armar formas elaboradas e cuidadosas de colaboração entre as inteligências humana e digital
Diante dessa realidade, executivos e executivas devem se concentrar em aproveitar a IA para amplificar potencialidades, integrar os insights que vêm de toda operação e construir um modelo de negócios em torno desse potencial imenso. Devemos abraçar uma mentalidade colaborativa, responsiva e intelectualmente curiosa. Aproveitar estrategicamente o potencial da IA é, a partir de nossos valores, estimular os times a fundirem as capacidades humanas únicas com a inteligência analítica de silício.
Está chegando o tempo em que os agentes de IA serão parte do time, parceiros especializados, porém pouco experientes. Se bem orientados e ouvidos com cautela, podem, no entanto, nos ajudar a alcançar níveis de produtividade e inovação singulares.
Cabe às lideranças modelar a integração estratégica da IA com as capacidades unicamente humanas. O futuro, esse que já está bem próximo, irá favorecer os que têm a capacidade de armar formas elaboradas e cuidadosas de colaboração entre as inteligências humana e digital. Em prol do humano, claro.