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2026 já começou

Crédito: MATEUS BONOMI

Marcos Strecker: "Para o mercado, já está claro que a trajetória da dívida pública é insustentável, o que indica grandes problemas à frente" (Crédito: MATEUS BONOMI)

Por Marcos Strecker

Todas as manifestações do governo nos últimos dias, a começar da primeira reunião ministerial do ano, no dia 20, já são voltadas para as próximas eleições presidenciais. O presidente Lula parece ter sentido que começa a lhe escapar a possibilidade de se reeleger, em pleito no qual ainda é franco favorito. Os números da pesquisa Quaest divulgada na segunda-feira (27), que mostram a desaprovação ao seu governo em alta (49%), superando a aprovação (47%), podem dar pistas do sentimento no Planalto.

É inegável que a atual gestão tem grandes resultados a mostrar, a começar pela pacificação democrática. A ausência de aventuras na seara econômica e bons índices de crescimento do PIB, além da alta nos empregos, também representam uma vitrine atraente. Mas esses feitos não superam os problemas que se avolumam, e dificilmente devem garantir o apoio da população. O publicitário Sidônio Palmeira, novo titular da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), dificilmente vai conseguir convencer o cidadão de que tudo está uma maravilha apenas turbinando o Tik Tok presidencial.

O mau humor da população tem a ver, antes de mais nada, com a alta da inflação, principalmente dos alimentos. O governo ainda atua na contramão da massa de informais e empreendedores que aprenderam a ganhar a vida sozinhos e não desejam mais impostos nem burocracia. A “crise do Pix” foi um sinal eloquente de que há desconfiança com as intenções do Ministério da Fazenda. O Planalto não fala a língua do agro e ainda insiste numa estrutura sindical e ultrapassada para lidar com quem consome ou trabalha com aplicativos, como se as montadores do ABC ainda fossem o motor da economia brasileira e todos os trabalhadores ainda sonhassem com o braço paternalista do Estado.

Ainda que Fernando Haddad defenda a disciplina fiscal, sua voz ficará cada vez mais isolada no governo, que deve ter uma reforma ministerial ainda com mais força do PT raiz. Declarações fora do tom de Rui Costa, titular da Casa Civil, sugeriram medidas ineptas para derrubar os preços dos alimentos, como baixar as taxas de importação de produtos (que não funcionou no passado).

E as nuvens se acumulam, não apenas pelas emergências climáticas. Os combustíveis estão com o valor defasado em relação ao dólar e devem subir, o que vai alimentar ainda mais uma inflação que já é prevista pelo Boletim Focus, do Copom, em 5,50% este ano (distanciando-se do teto da meta prevista). Se a Petrobras segurar o reajuste da gasolina e do diesel, a dúvida sobre práticas que já fracassaram, com controle artificial de preços, vão azedar ainda mais o ambiente. Para o mercado, já está claro que a trajetória da dívida pública é insustentável, o que indica grandes problemas à frente. Com Haddad enfraquecido e a tentação populista de criar expedientes pirotécnicos em busca de popularidade a qualquer custo, o cenário que se desenha na metade final do mandato de Lula exige, no mínimo, cautela. A começar pelo sinal espantoso da antecipação fora de hora do debate eleitoral.