Onde está a economia circular na agenda do clima?

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Beatriz Luz: "Por outro lado, devemos olhar as oportunidades dos novos negócios que a economia circular traz, unindo setores para transformar resíduos em novos materiais, gerar fontes de receita e empregos e ainda contribuir com a redução das emissões" (Crédito: Divulgação)

Por Beatriz Luz

Enfim, 2025. Ano em que a COP30 (30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas) chega ao Brasil e nos coloca como protagonistas na discussão global sobre o clima. Porém, ao nos prepararmos para o maior evento ambiental do planeta, vemos o aumento de perdas materiais e mortes resultantes dos desastres climáticos. Portanto, é ano de se falar, mais ainda, sobre o cuidado com o planeta e sobre o futuro dos negócios, o que envolve, inerentemente, a economia circular.

O risco climático não é apenas evidente, mas agora considerado de curto prazo, segundo o relatório do Fórum Econômico Mundial, lançado em Davos no dia 20 de janeiro. A conta dos desastres naturais e eventos climáticos extremos também já chegou: foram cerca de US$ 250 bilhões em prejuízos no mundo todo somente em 2023, segundo levantamento da Munich Re.

É urgente debatermos novas perspectivas de desenvolvimento, em linha com a transição energética, o financiamento climático e a preservação da Amazônia. A COP30 está sendo vista como a “COP da implementação”, e devemos avaliar como unir atores e setores para repensar como produzimos, nos relacionamos, traçamos metas, avaliamos investimentos, desenvolvemos negócios e elaboramos políticas públicas.

Enquanto o BNDES acelera financiamentos para energia limpa, um estudo da Fundação Ellen MacArthur com a Material Economics destaca que apenas 55% das emissões globais serão evitadas com o investimento em renováveis. É um número relevante, mas que não pode orientar toda a visão de combate às mudanças climáticas. Os 45% restantes dizem respeito à indústria, à agricultura e ao uso da terra. Ou seja, o modo como escolhemos e utilizamos materiais, a produção de alimentos, produtos que desenvolvemos, os resíduos decorrentes dos processos: tudo gera emissões e tem influência direta no clima.

Então, se não vislumbrarmos as emissões de setores como o de cimento, plástico, aço, alumínio e de alimentos, se não aplicarmos a circularidade à transição energética e ao financiamento, se não considerarmos os limites da natureza, corremos o risco de endereçar parcialmente a questão e ainda criar novos problemas. Veja a Austrália, pioneira na produção de energia solar e que agora é “pioneira” da pergunta: o que fazer com os painéis quebrados que, se empilhados, seriam o equivalente em altura a 241 “Everests”?

Por outro lado, devemos olhar as oportunidades dos novos negócios que a economia circular traz, unindo setores para transformar resíduos em novos materiais, gerar fontes de receita e empregos e ainda contribuir com a redução das emissões. É o caso da Orange Fiber, empresa italiana que cria matéria-prima para a indústria da moda a partir da casca de laranja. O trabalho rendeu um case junto à H&M, que teve seu produto esgotado horas após o lançamento.

No setor de biocombustíveis, a promessa vem do Brasil com o etanol de 2ª geração, que agrega valor aos resíduos da cadeia sucroenergética, aumenta a eficiência energética e reduz em até 90% as emissões quando comparado ao etanol de 1ª geração. No entanto, sua competitividade depende de políticas públicas que incentivem a adoção.

Portanto, é fundamental que lideranças empresariais e do setor público incluam a circularidade em suas estratégias de clima, propondo ações abrangentes, repactuando compromissos e criando um arcabouço favorável de políticas públicas. Essas oportunidades estão batendo à nossa porta. O que poucos sabem é que o ano da COP30 é também o ano em que o Fórum Mundial de Economia Circular chegará ao Brasil pela primeira vez, no mês de maio, em São Paulo. Sendo assim, quem me encontrar em 2025 vai me ouvir falar sobre clima, financiamento e economia circular como uma agenda única de competitividade e desenvolvimento. Vamos, juntos, mudar a forma com que debatemos as mudanças climáticas e passar a inserir a circularidade como solução para reduzir as emissões e atingir, enfim, as metas estabelecidas no Acordo de Paris

Beatriz Luz é fundadora e diretora da Exchange 4 Change Brasil e do Hub de Economia Circular Brasil