Na era das fake news, também vivemos o ‘falso propósito’
Por Heverton Peixoto
O propósito de uma empresa vai muito além de apenas ter um objetivo comercial ou alcançar o lucro. Ele representa a essência e a razão de existir da organização, estabelecendo uma direção clara e significativa para todas as suas atividades.
Quando o propósito é verdadeiro e reflete os valores, crenças e aspirações genuínas da empresa, ele se torna um poderoso impulsionador do sucesso organizacional e da construção de uma cultura forte.
O propósito autêntico oferece uma base sólida para a estratégia de negócios de uma empresa. Ele deixa claro como a empresa busca impactar o mundo ao seu redor. Leva a decisões mais alinhadas com a visão de longo prazo e evita desvios que possam comprometer identidade, imagem e reputação.
A construção de uma cultura organizacional sólida também é impactada pelo propósito da empresa. Uma cultura baseada em um propósito genuíno promove transparência, confiança, colaboração e inovação dentro do ambiente corporativo, criando um espaço de trabalho saudável e estimulante.
O propósito também inspira e motiva os funcionários, que se sentem valorizados e envolvidos, fazendo parte de algo maior do que apenas um trabalho. Esse sentimento reflete no desempenho e satisfação no trabalho cotidiano.
Nesse sentido, também desempenha um papel fundamental na atração e retenção de talentos. Os profissionais de hoje estão cada vez mais interessados em trabalhar junto a empresas que tenham um impacto positivo no mundo e estejam alinhadas com seus próprios valores. Eles desejam fazer parte de algo que vá além do mero ganho financeiro. No entanto, é importante ressaltar que o propósito autêntico não é algo que pode ser fabricado ou imposto. Ele deve ser descoberto e cultivado a partir dos valores e convicções fundamentais da empresa, da sua cultura e dos seus acionistas.
Um propósito que não é genuíno ou que é apenas uma estratégia de marketing vazia acabará sendo percebido como falso pelos funcionários e pelo público, minando a credibilidade da empresa e comprometendo seu sucesso a longo prazo.
Propósitos falsos são criados apenas para agradar ao público e atrair consumidores, sem que haja um real comprometimento interno para vivenciá-los. Não refletem a verdadeira essência da empresa. Quando os funcionários percebem que é apenas uma fachada, sentem-se desvalorizados e desengajados. Afinal, como podem se dedicar a um objetivo que não é levado a sério pela própria liderança?
Os profissionais de hoje estão cada vez mais interessados em trabalhar junto a empresas que tenham um impacto positivo no mundo e estejam alinhadas com seus próprios valores. Eles desejam fazer parte de algo que vá além do mero ganho financeiro
Outro impacto negativo é a perda de confiança do público. Os consumidores estão cada vez mais atentos às práticas das empresas e buscam marcas que sejam genuínas em seu propósito. Estão menos propensas a se engajar com marcas que não demonstram coerência entre o que dizem e o que fazem.
Para evitar esses problemas, as empresas devem ser transparentes e honestas. O propósito autêntico deve ser descoberto internamente, envolvendo todos os níveis da organização e levando em consideração as aspirações dos colaboradores, a cultura existente e as expectativas dos acionistas. Sem essas ações, o que se tem é o falso propósito. Ou, como estamos na era das fake news, o ‘fake propósito’.
Heverton Peixoto engenheiro civil com MBA em Corporate Finance no Insead, CEO do Grupo Omni e conselheiro do Instituto de Inovação em Seguros e Resseguros da FGV