Negócios

Montadoras alemãs apostam no Brasil e exploram novos nichos

Mercedes-Benz e Volkswagen confirmam investimentos somados de R$ 16 bilhões em projetos para produção de carros de passeio e aluguel de caminhões. Montante aplicado por indústrias do setor superam R$ 25 bilhões

Crédito: Alexandre Andrade

Achim Puchert, da Mercedes, vê economia em expansão com avanços no agronegócio, mineração e varejo, setores impulsionados pelo governo (Crédito: Alexandre Andrade)

Por Angelo Verotti

RESUMO

• Estabilização da economia, com queda de inflação e juros, motivam investimentos
• Só Mercedes-Benz e Volkswagen vão aplicar mais de R$ 16 bilhões no País
• Locação de veículos comerciais, um nicho pouco explorado no Brasil, vai receber parte do aporte da Mercedes
• VW lançará 16 novos veículos de passeio até 2028, incluindo híbridos, 100% elétricos e total flex

A indústria automotiva brasileira viveu períodos sombrios nos últimos anos. Além dos efeitos da pandemia nos negócios, a baixa rentabilidade das marcas na região e o Custo Brasil motivaram decisões que resultaram no fechamento de fábricas e de milhares de postos de trabalho, como foi o caso do encerramento da produção da Ford no País, em 2021. Nas últimas semanas, no entanto, o setor tem apresentado sinais de recuperação. Ou melhor, de aumento da confiança.

As montadoras confirmaram mais de R$ 25 bilhões em investimentos no mercado nacional até 2028. Destaque para as alemãs Mercedes-Benz e Volkswagen, que, juntas, vão aplicar mais de R$ 16 bilhões no País. As decisões são motivadas pela estabilização da economia, diante da queda da inflação e dos juros, além da chegada de concorrentes chinesas ao País, como BYD e GWM.

O investimento mais recente foi revelado na terça-feira (6) pela Daimler Truck Financial Services (DTFS), braço financeiro do Grupo Daimler Truck. Com aporte de R$ 20 milhões, a companhia revelou a entrada no mercado de locação de veículos comerciais no Brasil por meio da nova empresa, Daimler Truck Locações e Serviços. O novo produto chama-se Mercedes-Benz Locações Caminhões e Ônibus. O objetivo é ampliar os negócios da DTFS no País e tem como foco inicial os pequenos, médios e grandes frotistas.

O novo negócio de locação tem previsão inicial de disponibilizar aos clientes 100 unidades em três modelos de caminhões on road — Accelo, Atego e Actros — e oferecerá aluguel a partir de três unidades para pessoas jurídicas, com prazos de 36, 48 e 60 meses. Além disso, inclui gerenciamento de frota, documentação e multas, planos de manutenção nas concessionárias da marca. Até o final deste ano, a expectativa é atender a demanda de 200 unidades.

A Mercedes apresentou suas máquinas, com destaque para a renovação da linha Atego (Crédito:Divulgação)

A iniciativa segue uma tendência mundial. De acordo com Hilke Janssen, presidente e CEO do Banco Mercedes-Benz e da Daimler Truck Locações e Serviços, a locação de veículos comerciais é um mercado que corresponde por apenas 2% da frota circulante de veículos pesados no Brasil, enquanto que em países como Estados Unidos esse número chega a 25%. “Na Europa o aluguel de caminhões já existe há mais de 30 anos.”

Outros fabricantes de veículos comerciais instalados no País já criaram empresas com a mesma finalidade. São os casos, por exemplo, da VW Rental Truck, da Locadora Volvo e da Scania Locação.

Na visão de Achim Puchert, presidente da fabricante de veículos comerciais Mercedes-Benz do Brasil & CEO América Latina, o produto Mercedes-Benz Locações Caminhões e Ônibus chega em excelente momento ao mercado brasileiro. “A economia está expandindo com avanços no agronegócio, mineração e varejo, setores impulsionados por novos programas do governo, pelo encaminhamento da Reforma Tributária e por expectativas de taxas de juros mais baixas a partir deste ano.”

Hilke Janssen diz que aluguel de veículos comerciais corresponde a só 2% da frota circulante de pesados no Brasil (Crédito:Divulgação)

Na semana passada a Mercedes-Benz já havia anunciado outras novidades entre os caminhões para 2024.

Dentre os lançamentos está a renovação da linha Atego, que abrange veículos médios e semipesados para transporte rodoviário e urbano, como também extrapesados para aplicações severas da construção civil, agropecuária e operações fora de estrada.
Em extrapesados tiveram início as vendas do Actros 2553 6×2 com motor de 530 cavalos e do Arocs 3353 S 6×4 versão cavalo-mecânico com motor de 530 cavalos. Os preços partem de R$ 500 mil na linha Atego e alcançam R$ 1,5 milhão na Arocs.

Os novos modelos servem de arma na estratégia da Mercedes de alcançar a liderança do mercado de caminhões no País. A bandeira obteve 25,19% de participação no ano passado, com 26.236 exemplares emplacados, colada na líder Volkswagen, com 25,94% (27.015). E a disputa seguiu acirrada no primeiro mês deste ano. A Mercedes emplacou 1.882 unidades (23,55%), contra 1.833 (22,93%) da concorrente.

(Divulgação)

“A Volkswagen reafirma a sua confiança no Brasil e mais do que dobra seus investimentos para R$ 16 bilhões. Vamos lançar 16 novos veículos, incluindo híbridos, 100% elétricos e total flex.”
Ciro Possobom, CEO da Volkswagen do Brasil

CARROS

Já a alemã Volkswagen anunciou na quinta (1) o investimento de R$ 9 bilhões no País entre 2026 e 2028, além dos R$ 7 bilhões que estão sendo aplicados desde 2022 com prazo até 2026. A empresa lançará 16 novos veículos de passeio até 2028, incluindo modelos híbridos, 100% elétricos e total flex.

No primeiro momento, o novo aporte contempla o desenvolvimento e a produção de projetos com foco em descarbonização para as quatro fábricas da Volkswagen do Brasil:
• São Bernardo do Campo (SP),
• Taubaté (SP),
• São Carlos (SP),
• São José dos Pinhais (PR).

Serão quatro novos veículos, sendo uma picape, um motor mais eficiente para veículos híbridos e uma nova plataforma.

“A Volkswagen reafirma sua confiança no Brasil e mais que dobra seus investimentos para R$ 16 bilhões. Vamos lançar 16 novos veículos até 2028, incluindo modelos híbridos, 100% elétricos e Total Flex”, afirmou Ciro Possobom, CEO da Volkswagen do Brasil. “O novo aporte contempla o desenvolvimento e a produção de projetos inovadores e com foco em descarbonização para as quatro fábricas da Volkswagen no Brasil.”

O modelo Polo, da Volkswagen, foi o campeão de emplacamentos no ano passado entre carros de passeio, com 111.247 unidades. Marca assumiu também a ponta na categoria (Crédito:Pedro Danthas)

RESULTADOS

A Volkswagen foi a marca que mais cresceu em volume de vendas (29,5%) no País no ano passado. Segundo a Fenabrave, a bandeira emplacou 345 mil unidades entre carros de passeio e comerciais, quase 80 mil a mais na comparação anual. O resultado significa 15,8% de participação no mercado, com a vice-liderança consolidada, atrás da Fiat (21,82%).

Se considerado apenas o segmento de passeio, a Volks saltou do terceiro (15,20%) para o primeiro lugar (16,87%) entre 2022 e o ano passado. Além disso, o Polo se consolidou na última temporada como o carro da categoria mais vendido do País: foram 111.247 unidades emplacadas. A marca também foi líder de vendas entre os SUVs, com o T‑Cross, com 72.445 exemplares.

CONCORRÊNCIA

A GM anunciou o seu novo ciclo de investimentos de R$ 7 bilhões até 2028, o que inclui o lançamento de seis veículos ainda este ano e a renovação de todo o portfólio até o fim do ciclo. A marca também afirmou que modelos eletrificados, sem revelar se serão híbrido ou elétrico, fazem parte dos planos.

Em novembro, a Nissan confirmou um investimento adicional de R$ 1,5 bilhão. No total, serão R$ 2,8 bilhões aportados em sua planta em Resende (RJ) entre 2023 e 2025. A Renault também destinou R$ 2 bilhões para o Brasil com prazo final até 2025.