O Facebook pode até ser Meta, mas o Metaverso é da Apple
Por Norberto Zaiet
A Meta Platforms (Nasdaq: META) teve o seu momento iPhone na semana passada: o balanço divulgado no início de fevereiro mostrou a força de sua máquina de marketing. Enxuta e eficiente, a campanha atingiu todas as demografias e geografias por um bom tempo, todos os dias, uma estratégia extremamente lucrativa e geradora de caixa. Os anúncios são baratos, a clientela é pulverizada e o produto vendido somos todos nós que, voluntariamente, passamos horas no Facebook, Instagram, WhatsApp e afins. Além disso, Mark Zuckerberg não é mais o menino que supostamente surrupiou a ideia amadora dos irmãos Winklevoss, nem o garoto que, até ontem, queria brincar de Metaverso. A cada dia se revela um executivo mais amadurecido, confortável consigo mesmo e na pele do fundador de uma empresa ícone da economia americana.
Quando a Apple lhe tirou o chão há três anos, ao mudar as configurações de privacidade de maneira a dificultar o acesso do então Facebook aos nossos dados, Zuckerberg e companhia acharam que teriam que inventar um ambiente em que a Apple não existisse. A aventura do Metaverso custou — e ainda custa — bilhões de dólares, e não deu em nada até agora. Mais importante que isso, porém, foi constatar que, sem o acesso aos dados e com o Metaverso longe da realidade, o Facebook precisou se “virar nos trinta”. Investiu pesado em inteligência artificial, descobriu que podia replicar o nosso modelo mental para prender nossa atenção e acabou criando um algoritmo muito melhor que o anterior. Fora do Metaverso, a Meta é a melhor máquina de anúncios que já existiu e o primeiro beneficiário real da aplicação de inteligência artificial.
A Apple (Nasdaq: AAPL), por outro lado, também teve na semana passada mais um momento iPhone. O resultado, entretanto, o mercado ainda não viu. No mesmo dia da divulgação do balanço da META, a AAPL iniciou as vendas da primeira versão do Vision Pro. O equipamento é grande, caro (a partir de US$ 3.499), pesado e com uma bateria externa que dura somente duas horas. A adesão inicial veio daqueles que naturalmente adotam esse tipo de aparelho antes dos outros, os “early adopters”, geralmente desenvolvedores e fanáticos pela Apple. Na medida em que o ficar menor, mais leve, mais barato e sem restrição importante na bateria, a adesão naturalmente aumentará.
Imagine estar em um avião assistindo ao que quiser, na sua própria tela tamanho gigante, que pode ser posicionada em qualquer lugar no seu assento sem esbarrar no assento do lado, mesinha livre, com o melhor som possível e isolado do ambiente e do barulho do avião. Ou, ainda, assistir à final do US Open no Arthur Ashe Stadium em um assento de frente para a quadra, sem ser cliente private do JP Morgan ou ter que pagar US$ 10 mil pelo privilégio. Ou que tal assistir à apresentação do seu artista preferido, no melhor assento da casa, sem ter que se deslocar até o show? Ou ainda participar de uma reunião da empresa como se estivesse fisicamente na sala de reunião, mas estando de fato em qualquer outro lugar? As possibilidades são infinitas.
O Metaverso real é muito melhor do que o que Zuckerberg queria inventar. Ele se baseia na nossa vida, no nosso universo, e o transforma. Não é preciso criar nada fora da realidade — tornar a realidade uma experiencia melhor é, de fato, o verdadeiro Metaverso. Enquanto o mercado ainda se preocupa em modelar a demanda por iPhones, a Apple continua fazendo justiça ao legado de Steve Jobs.
A META ainda está atrás do Metaverso. Se o encontrar, ele deverá representar uma fração da receita da empresa. Quem sabe isso ajudará a diminuir um pouco o prejuízo do investimento feito até agora. De qualquer modo, cada um no seu quadrado, META e AAPL são imbatíveis.
Norberto Zaiet é economista, ex-CEO do Banco Pine e fundador da Picea Value Investors, em Nova York