Cautela foi destaque no prêmio Melhor Banco e Plataforma para Investir (MBPI); veja os critérios
Mesmo diante de um cenário de volatilidade, gestores independentes apresentam bons resultados aos cotistas
Por Fagundes Schandert
No mundo dos investimentos, assim como na vida, a paciência é uma virtude. Perseverança pode render bons ganhos. Foi o que ocorreu em 2023. Os investidores mais cautelosos que permaneceram com seus ativos por mais tempo conquistaram resultados bem acima dos da inflação no período. Isso foi observado em fundos de ações livre (+23,7%), renda fixa de duração baixa (+12,84%) e multimercados livre (+10,51%), conforme as médias calculadas pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
Segundo o professor do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGVcef) Ricardo Rochman, um dos coordenadores do prêmio Melhor Banco e Plataforma para Investir (MBPI), de modo geral, as plataformas das gestoras independentes conseguiram entregar expressiva rentabilidade para seus cotistas no último ano. “Em patamar alto, a Selic proporcionou maiores retornos. E na renda variável (ações) quem suportou a volatilidade teve bom desempenho”, afirmou Rochman à DINHEIRO.
Nos fundos multimercados, muitos gestores investiram uma parte do patrimônio no exterior como forma de rentabilizar as aplicações sem depender das variações de humor do mercado doméstico. Segundo Rochman, essa estratégia reduziu o risco total das carteiras. Na comparação com 2022, quando os ganhos foram mais incertos, a aposta fora do País deu certo. E isso ajudou na performance de muitas carteiras.
VENCEDORES
• A SulAmérica Investimentos, com R$ 48 bilhões em patrimônio líquido, levou o prêmio de Melhor Plataforma na categoria Renda Fixa. Para Luís Garcia, CIO da gestora, uma das principais razões para a obtenção do prêmio foi a casa ter um histórico em crédito privado. Garcia disse que a maior qualidade da plataforma foi ser um pouco mais conservadora na percepção do cenário. “Adotamos uma postura tática, mais de curto prazo. O cenário para crédito privado tinha grandes desafios como Americanas e depois Light e soubemos entender a complexidade para gerar ganhos”, disse.
Para 2024, Garcia espera um cenário bem diferente. “É mais previsível por causa da clareza do Banco Central na redução dos juros, mas as oportunidades estão mais estreitas”, afirmou. Sobre o sucesso da SulAmérica em alcançar no ano passado captação líquida de R$ 6,7 bilhões (dados da Anbima), enquanto a maior parte do mercado registrava resgates, Garcia completou que a gestora nunca deixou de investir em equipes e em produtos.
• A Melhor Plataforma Multimercados foi a JGP, que possui R$ 28 bilhões em patrimônio líquido. Segundo o sócio da JGP e gestor de multimercados Eduardo Cotrim, a casa atua com a filosofia da preservação do patrimônio e da consistência. “É uma equipe com mais de 27 anos de experiência no mercado, gente que passou por diferentes desafios: crise dos emergentes, bolha da internet, bolha imobiliária, crise global e a pandemia, quando os bancos centrais fizeram de tudo para salvar os mercados”, afirmou. Para ele, a gestora tem instinto de preservação para médio e longo prazo. “O risco é aquilo que sobra depois de mapear todos os riscos. Cuidamos do dinheiro das pessoas, isso é uma grande responsabilidade”, afirmou. Sobre o cenário para 2024, Cotrim considerou que a eleição americana pode trazer maior volatilidade, gerar algum ruído. “Em momentos assim, temos que ser mais cautelosos. O gestor de multimercado tem o discernimento para saber onde alocar mais os recursos: em Bolsa, em dólar, em inflação”, disse.
• Os outros dois premiados no ranking da FGV são a SPX, com R$ 45 bilhões em patrimônio, eleita Melhor Plataforma na subcategoria Renda Variável, com fundos de ações 5 estrelas no ranking da FGVcef, e o BV Asset, vencedor em Plataformas na subcategoria Money Market. Sobre o cenário para ações em 2024, o professor Ricardo Rochman aponta que a queda dos juros deve favorecer a renda variável. “O risco local continua sendo a política fiscal, das contas do governo. Sem isso, todo esse trabalho de controle da inflação pode ser perdido”, afirmou.
Critérios de premiação
O ranking Melhor Banco e Plataforma para Investir (MBPI) é elaborado pelo FGVCef – Centro de Estudos em Finanças da FGV/SP, com base no desempenho de fundos de investimentos e indicadores qualitativos. Essa metodologia é de responsabilidade dos professores William Eid Junior, Ricardo R. Rochman e Cláudia E. Yoshinaga
Análise dos fundos
Para ser avaliado, o fundo deve obrigatoriamente:
a. Constar da base de dados Anbima com no mínimo 12 meses de dados diários
b. Não ser fundo de previdência, offshore, FGTS, de privatização, Fundos Fechados de Ações, PIBB, ETF ou de capital garantido.
c. Não ser fundo automático ou que tenha programa de prêmios.
d. Ser aberto à captação. O fundo tem que constar como aberto no SIANBIMA em pelo menos 75% do período da amostra, além de estar aberto à captação nos últimos seis meses do período amostral.
e. Estar entre os 70% maiores fundos em Patrimônio Líquido (PL) das categorias FGV/MBPI Ações Ativo e Indexado e Multi e entre os 80% maiores fundos em PL nas categorias FGV/MBPI Renda Fixa, e DI e Curto Prazo (Money Market). É utilizado o PL na data de 31/12/2023.
f. Ter na data de fechamento um PL igual ou superior a R$ 5.000.000,00.
g. Por razões editoriais, o MBPI deve ter 700 fundos.
h. São selecionados os 400 maiores (segundo o PL) fundos de varejo e 300 fundos de alta renda que se enquadrem nos critérios acima.
i. Não ter concomitantemente taxa de administração e de performance iguais a zero.
j. Não ser fundo mãe ou master, destinado apenas a aplicação de FICs.
k. Não ser fundo espelho, FIC criado por uma instituição para distribuir FI de outra.
l. Ter mais que 10 cotistas.
m. Não apresentar variação em seus principais parâmetros que seja considerada excessiva pelo Comitê FGVCef/MBPI. A variação excessiva será definida ad hoc pelo comitê FGVCef/MBPI.
A análise é conduzida em etapas:
Os fundos são separados por categoria FGV/MBPI, como segue:
Critérios Qualitativos
• Variação na taxa de administração dos fundos: a redução na taxa de administração é benéfica para os investidores. Os participantes do ranking são classificados a partir da redução das taxas de administração ponderadas pelo PL dos respectivos fundos.
• Variação no número de cotistas: observamos o interesse que o participante despertou nos investidores. Maior variação positiva no número de cotistas, ponderada pelo PL, melhor nota.
• Variação no ticket médio de entrada nos fundos: a redução no ticket de entrada dos fundos é benéfica para os investidores, já que assim eles podem acessar melhores produtos. Os participantes do ranking são classificados a partir da redução nos tickets de entrada ponderadas pelo PL dos respectivos fundos.
• Custo dos pacotes básicos informados pela Febraban. Quanto menor o custo, melhor a nota do participante.
• Número de reclamações junto ao Bacen divididas pelo número de clientes dos últimos três trimestres. Menor número, melhor nota. Apenas para os bancos que atuam no varejo.
Todas as notas são convertidas em uma escala de 10 a zero, só com números inteiros. Em seguida são ponderadas conforme a tabela a seguir:
Qualidade dos serviços
Pesquisa FGV Toluna Insights, base para a Nota Toluna da tabela acima (peso de 30% na nota final), é realizada mensalmente com 500 investidores para avaliar os aspectos a seguir.
• Eficiência: facilidade de uso das ferramentas. Peso: 10%
• Disponibilidade: problemas e disponibilidade do site do banco/plataforma. Peso: 5%
• Realização: prazos de concretização das operações. Peso: 5%
• Privacidade: segurança dos dados/informações. Peso: 10%
• Responsabilidade: resolução de eventuais problemas. Peso: 5%
• Aconselhamento: clareza do aconselhamento e resultados obtidos com ele. Peso: 15%
• Contato: facilidade na resolução de problemas através de contatos pessoais. Peso: 20%
• Valor percebido: transparência e competitividade dos custos. Peso: 10%
• Lealdade: recomendação a amigos e parentes. Peso: 20%