Governo x BC: batalha pode ter novos rumos em breve
Modelo de controle da inflação que sustenta argumentos do BC para manter juros altos será discutido neste mês. Pode ser o fim do centro da meta anual
Por Jaqueline mendes
“Se a meta está errada, muda-se a meta”. “O melhor programa social é o controle da inflação.” As duas frases foram ditas este ano. A primeira pelo presidente da República, Lula, e a segunda pelo presidente do Banco Central, Campos Neto. Até aqui a queda de braço vinha sendo vencida pelo chefe do BC, que conseguiu manter a taxa básica de juros, a Selic, em 13,75% apesar da pressão do governo. Mas esse quadro pode mudar no próximo dia 29, quando o Comitê de Política Monetária vai votar a substituição do modelo atual das metas de inflação – que hoje está em 3,25%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
O CMN é formado por três membros: os ministros da Fazenda e do Planejamento, Fernando Haddad e Simone Tebet, respectivamente, e pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto.
E tanto Campos Neto quanto Haddad têm bons argumentos. No lado do BC a explicação é que o mundo trabalha com alta de juros para controle de preços e o Brasil, se descer agora, ficará mais vulnerável a picos de inflação. Ele considera reduzir a medida que o cenário internacional melhorar e as reformas internas avançarem, sem precisar mexer na meta.
No lado do governo, dois argumentos. O primeiro, de que a meta seria uma peça de ficção, já que tem sido descumprido com desenvoltura ano após ano. Segundo que, ao perseguir a meta, o BC insiste em uma taxa de juros muito alta e estrangula qualquer possibilidade de retomada econômica.
Por isso, a proposta do governo é que a meta de inflação tenha prazo mais elástico, com base em uma média dos últimos anos, em vez de um número anual.
O Ministério da Fazenda diz que um prazo mais longo de análise da inflação pode suavizar os ciclos de alta e baixa dos juros. “Em recente avaliação da política econômica brasileira, o FMI indica a superioridade de um arranjo com metas não vinculadas ao ano calendário”, disse a Fazenda, em nota. O BC, procurado, disse que não comenta o assunto.
Mas para o economista Daniel Perrone, a proposta do governo está em linha com o que é comum pelo mundo, em que países adotam metas de médio prazo ou forward looking.
“O modelo ano-calendário faz pouco sentido, considerando o horizonte de ação dos instrumentos de política monetária.”
Economista Daniel Perrone
“Faz mais sentido ter um prazo que converse com os instrumentos que o BC tem para entregar a inflação dentro da meta.”