Tecnologia

Inclusão: Fundação Dorina Nowill quer triplicar produção em braille

Por meio de inteligência artificial (IA), startup brasileira CodeBit desenvolve ferramenta para automatizar e agilizar conversão em braille

Crédito: rawpixel.com / Roungroat

Leitura tátil: meta é chegar a 18 milhões de páginas impressas em 2024 (Crédito: rawpixel.com / Roungroat)

Por Victória Ribeiro

Atualmente existem mais de 6,5 milhões de pessoas com deficiência visual no Brasil, sendo mais de 500 mil cegas e cerca de 6 milhões com baixa visão, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em dezembro de 2023. Dentro desse contexto, a Fundação Dorina Nowill para Cegos, dona da maior gráfica de braille do Brasil e uma das maiores da América Latina, prevê triplicar sua produção em leitura tátil e chegar a 18 milhões de páginas impressas em 2024. A projeção é baseada na parceria com a CodeBit, startup brasileira especializada em tecnologia de desenvolvimento em infraestrutura em nuvem. De forma exclusiva, a empresa, que atua principalmente no terceiro setor, desenvolveu a Plataforma Braille, otimizada para funcionar de forma integrada em nuvem.

A abordagem permitiu a automação do processo de linearização, resultando em um aumento significativo na velocidade de conversão, de 30 para 90 páginas por dia. “A partir do momento que aumentamos o tempo de conversão, permitimos que mais livros sejam transcritos anualmente, ampliando também o acesso à informação a pessoas com deficiência visual”, disse Heitor Cunha, CEO da CodeBit.

De acordo com o executivo, a plataforma funciona de um jeito simples. Como primeiro passo, o usuário realiza o upload de um arquivo em PDF, transformado em arquivo editável por meio de inteligência artificial. Após esse processo, as tarefas de limpeza e organização são realizadas, resultando em um material on-line, que posteriormente é encaminhado para impressão.

Para viabilizar o projeto, a equipe da CodeBit utilizou toda a tecnologia e expertise da Amazon Web Services (AWS) para hospedar o site e implementar serviços como Amazon Elastic Compute Cloud (EC2), Relational Database Service (RDS), Amazon Simple Storage Service (S3) e Amazon Recognition, um produto que utiliza análise de imagens mediante aprendizado de máquina. “O uso de ferramentas da AWS acelerou o processo de desenvolvimento”, afirmou Cunha. “É como se fosse um Lego, no qual a gente monta as peças já prontas. É claro que, nesse caso específico, algumas peças não existem e precisamos desenvolver. Mas grande parte delas a gente aproveita.”

Heitor Cunha, CEO da CodeBit: “Queremos transcrever os livros mais vendidos do mercado” (Crédito:Divulgação )

Entre os desafios técnicos encontrados durante o desenvolvimento da plataforma, os principais estão relacionados à quantidade de ilustrações, figuras, imagens, vetores, equações e elementos gráficos muito utilizados especialmente em livros didáticos, principal foco da plataforma hoje. “Quando falamos em uma transcrição padrão de letras é algo relativamente simples, mas quando se trata de uma raiz quadrada, por exemplo, ou de elementos gráficos, fica mais complicado em uma ferramenta automatizada”, afirmou.

Para driblar o problema, a empresa foca em um processo de refino, dando inteligência ao sistema com base nos conhecimentos humanos. O resultado é a redução de erros em relação à produção manual, principalmente considerando os grandes volumes lançados. “Às vezes o produto já foi para a gráfica, por exemplo, tornando o processo caro. Mesmo que se crie mecanismos para reduzir erros, em um processo completamente manual, eles são inevitáveis”.

6,5 milhões
de brasileiros têm algum grau de deficiência visual, segundo o ibge

500 mil
é a quantidade de cegos e 6 milhões o número de pessoas com baixa visão

Com um salto de 23% no faturamento no comparativo entre 2022 e 2023, além de um portfólio que inclui organizações de renome, como Médico Sem Fronteiras, Fundação Itaú, Instituto Natura e Instituto Ayrton Senna, a parceria com a Amazon colaborou para a CodeBit dar voos maiores, iniciando processo de internacionalização. A empresa abriu uma filial nos Estados Unidos. Outra grande vantagem se dá por causa da mescla entre organizações sem fins lucrativos e educação.

A startup brasileira também poderá oferecer seus produtos e serviços em todos os países que possuem atuação da AWS. Para 2024, a expectativa é acrescer 26% na receita. Agora, quando se trata da ferramenta desenvolvida, o plano é torná-la cada vez mais flexível e conseguir, cada vez mais, disponibilizar novos títulos para pessoas com deficiência. Ampliar a inclusão. “Queremos transcrever os livros mais vendidos do mercado e tornar essa solução uma ferramenta comum.”