Economia

Sem serviço forte não há PIB

Desempenho aquém do esperado para o SETOR QUE MAIS GERA riquezas coloca o governo sob pressão: ou ajuda a destravar OS investimentos e incentiva A geração de emprego, ou O País não crescerá na casa dos 2% este ano

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Serviços em desarranjo: na tentativa de estimular os empresários, o Ministério da Fazenda trabalha em um pacote para destravar investimentos (Crédito: Divulgação)

Por Paula Cristina

Responsável por 53,6% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, o setor de serviços enfrenta uma estagnação forçada. No primeiro trimestre, o crescimento de 0,6% acendeu o alerta: o governo precisa estimular um ambiente favorável à economia a fim de dar a sustentação necessária para que o setor avance. Sem isso, o País não crescerá na casa dos 2% este ano.

Entre as medidas esperadas pelo empresariado do setor estão o aumento e melhora do acesso ao crédito para pessoa jurídica, revisão das dívidas e diminuição da inadimplência para pessoas físicas e programas de capacitação e fomento de mão de obra.

Há ainda a expectativa de redução da Selic, aprovação da Reforma Tributária e avanço de acordos comerciais.

O maior sintoma do pé no freio no setor de serviços foi a redução da proporção de investimento dos empresários em seus negócios, mesmo diante de uma melhora da demanda e retomada da confiança.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) a relação investimento x PIB ficou em 17,7% no primeiro trimestre deste ano, ante 18,4% do ano anterior.

A explicação para isso, segundo Ivo Gonçalves, pesquisador do Ipea para comércio e serviços, é que ainda há um grau de incerteza que ronda a economia. “Não estou falando de devaneios como o governo aderir ao comunismo, mas de questões pontuais sobre a condução da política econômica que parecem não avançar no tempo que deveriam”, disse.

André Sacconato, economista da Fecomercio, afirmou que a preocupação do empresário também passa pela percepção de que o governo tem aumentado o foco apenas na demanda e no estímulo ao consumo. Segundo ele, “na tentativa de esticar o crédito para o consumidor já endividado”.

Compasso de espera

Com essas diretrizes, o comportamento do empresariado que não possui ativos fortemente ligados à demanda básica ou conjuntura internacional (como os produtores de alimentos ou exportadores de minérios) estão procurando soluções mais comedidas para crescer.

Jefferson Maciel, advogado, consultor para novos negócios e com passagem por companhias como Natura e Vivo, afirmou ter recebido pedidos para estudos de viabilidade de expansão de quatro empresas de serviços no último trimestre de 2022, mas três delas já descartaram qualquer ação antes da Reforma Tributária, quando poderão avaliar o cenário macroeconômico dela derivado.

“Uma dessas empresas, gigante em tecnologia, explicou que o atraso está associado ao contexto internacional, mas mesmo assim manteve os investimentos no México”, disse. As outras são uma de varejo de moda e a outra uma rede de franquias. “A única que manteve o plano de expansão até aqui é uma rede de cibersegurança do Paraná que vai chegar a São Paulo com uma nova marca em breve”, afirmou Maciel.

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Para a diretora associada de Economia da S&P Global Market Intelligence, Pollyana De Lima, ainda que o setor de serviços tenha apresentado sinais de crescimento, acumulando inclusive novos negócios potenciais e geração de empregos no primeiro trimestre, alguns fatores ainda pesam na conta.

“Houve um aumento persistente nos preços”, disse, ressaltando que em maio esse fator continuou pressionando os salários, o custo dos insumos e as despesas operacionais.

“Torna-se mais difícil para os elaboradores de estratégias de negócios encontrarem o equilíbrio certo entre estabilidade de preços e crescimento econômico sustentável.”
Pollyana De Lima, diretora associada de Economia da S&P Global Market Intelligence

Elaborado pela S&P em todo o mundo, o Índice dos Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) apontou que, no Brasil, o setor de serviços caiu de 54,5 pontos em abril para 54,1 em maio. A escala vai de 0 a 100 e pontuações superiores a 50 indicam crescimento da demanda. “As empresas continuam a reportar uma reação da demanda, mas a inflação e a incerteza interna e externa ainda seguram movimentações bruscas ou usadas”, disse Pollyana.

Na tentativa de estimular os empresários, o Ministério da Fazenda trabalha em um pacote para destravar investimentos.

Segundo Fernando Haddad, há conversas avançadas sobre liberação de crédito extra pelo BNDES e pela Caixa para fomento de pequenos e médios, assim como há em negociação uma política de capacitação, junto ao Ministério da Educação, para fomentar mão de obra especializada para tecnologia, além de medidas encabeçadas pelo próprio presidente Lula para exportação de serviços.

“Lula quer que o Brasil exporte serviços, tecnologia e inovação, e tem trabalhado em acordos comerciais na América Latina e Africa nesse sentido”, disse Haddad. Todas as medidas, se confirmadas, têm potencial, segundo o ministro, de impulsionar o PIB em 1 ponto percentual por ano. Estímulo crucial já que se trata de um setor que, sozinho, movimentou R$ 1,15 trilhão dos R$ 2,6 trilhões das riquezas do País.