Internacional

Uma nova Rota da Seda no comércio global

Lula volta a falar com aliados da América do Sul sobre o plano de avançar na cooperação com a China para embarcar na nova Rota da Seda desenhada por Xi Jinping. Mas, afinal, como o Brasil pode se aproveitar deste acordo?

Crédito:  Ricardo Stuckert

Xi Jinping e Lula convergem na necessidade de estreitar ainda mais as relações entre os dois países (Crédito: Ricardo Stuckert)

Por Jaqueline Mendes

Nas últimas semanas, enquanto equilibra pratos na relação com o Congresso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem conversado com aliados da América do Sul sobre o plano de avançar na cooperação comercial com a China. O objetivo é embarcar no que vem sendo chamado de nova Rota da Seda, plano desenhado pelo presidente chinês Xi Jinping há uma década e que estabelece investimentos em infraestrutura para conectar as rotas marítimas, aéreas e terrestres entre economias em desenvolvimento.

Esse movimento de criar um bloco alternativo a Estados Unidos e Europa nasceu por iniciativa da China, mas vem ganhando força com a reaproximação de Lula com seus principais parceiros comerciais e com o prolongamento da guerra de Vladmir Putin na Ucrânia — que segue como um fator de dúvida do Oriente com o Ocidente.

Pelo lado do Brasil, a tal nova Roda da Seda representaria um impulso aos investimentos em ferrovias, rodovias, portos e aeroportos regionais, que historicamente sofrem com a falta de recursos ou de demanda.

O País, maior economia da América do Sul e uma potência agrícola, pode se beneficiar significativamente dessa cooperação com a China. Através da participação na nova Rota da Seda, o Brasil poderia expandir seus mercados de exportação, especialmente para os países ao longo da rota, como Índia e África do Sul.

Pelo lado chinês, uma conexão maior com países em desenvolvimento garantiria menor dependência dos mercados americano e europeu.

Quem tem se posicionado publicamente a favor da adesão brasileira é o ex-chanceler e atual assessor especial da Presidência da República, Celso Amorim. Em recente entrevista ao jornal chinês Global Times, o principal do país em inglês, ele disse que há grande interesse do governo nesse tema.

“Estamos interessados em como podemos fazer isso. É muito importante para nós ver quais são os projetos que virão”, afirmou Amorim. “Queremos discutir principalmente questões como fontes renováveis de energia.”

O que é bom para o País, parece ótimo para a China. O Brasil desempenha um papel importante para a industrialização asiática, porque além de vender soja e outras commodities para alimentar a população chinesa, na pauta de importações Pequim compra minério de ferro e petróleo do Brasil. No caminho inverso, o Brasil importa principais bens industrializados.

INTERCÂMBIO

A balança comercial, no entanto, é favorável ao Brasil. Em 2022, a China importou mais de US$ 89,7 bilhões em produtos brasileiros e exportou quase US$ 60,7 bilhões para o mercado nacional. O volume total comercializado aumentou 21 vezes desde a primeira visita de Lula a Pequim, em 2004.

Mais do que isso, a China é o principal parceiro comercial do Brasil desde 2009, com fluxo comercial três vezes superior ao que o País mantém com os Estados Unidos, o segundo colocado.

No entanto, é importante que o Brasil esteja atento aos possíveis desafios e armadilhas que podem surgir nessa cooperação.

A nova Rota da Seda tem sido alvo de críticas e preocupações de alguns países, que veem a influência crescente da China como uma ameaça à soberania e à independência econômica.

Portanto, é necessário que o Brasil avalie cuidadosamente os termos e condições dos acordos e busque garantir que eles sejam mutuamente benéficos e respeitem os interesses nacionais.

Para o economista e cientista político Marco Antonio Teixeira, especialista em comércio internacional pela FGV, o maior desafio do Brasil no processo de adesão à nova Rota da Seda será político, não comercial.

Isso porque ao criar um novo clube de países emergentes, a exemplo do que já ocorre com o Banco dos Brics, presidido pela ex-presidente Dilma Rousseff, o governo brasileiro deve naturalmente criar um desalinhamento com Estados Unidos e Europa.

“Não tem como fortalecer as relações com a China sem, de alguma forma, gerar rusgas diplomáticas com democracias ocidentais.”
Marco Antonio Teixeira, economista e cientista político 

“Especialmente num momento em que o Mercosul negocia um acordo de livre comércio com a União Europeia. Por isso, Lula terá de exercer toda sua capacidade de diálogo para não se queimar com os dois lados.” Uma rota de saída para que o Brasil possa usar sua própria caravela para desbravar novos mares.