Internacional

EUA ampliam cerco (financeiro) contra o regime de Vladimir Putin

Depois do provável assassinato do ativista Alexei Navalny e da ampliação da ofensiva russa na Ucrânia, o presidente Joe Biden anuncia mais de 500 sanções contra Moscou e pressiona Putin

Crédito: Mandel NGAN / AFP

Presidente dos EUA quer pressionar economia russa ao estrangular mercado financeiro e travar comércio global na região (Crédito: Mandel NGAN / AFP)

Por Jaqueline Mendes

Os Estados Unidos não entraram oficialmente na guerra entre Rússia e Ucrânia, mas no backstage tem lutado com armas (financeiras) pesadas contra o regime de Vladimir Putin. Na última semana, por determinação do presidente Joe Biden, o governo americano anunciou um arsenal de 500 medidas de sanção econômica contra Moscou, a maior ofensiva em dois anos de invasão.

Além de bloquear ativos de empresas e cidadãos russo em vários países, três funcionários públicos ligados a Putin tiveram suas contas bloqueadas pelos Estados Unidos. Eles estariam diretamente envolvidos na morte de Navalny e seriam “laranjas” do líder russo em negócios no exterior. O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, afirmou que haverá mais medidas contra o Kremlin nas próximas semanas. “Se Putin não pagar o preço pela morte e destruição que provoca, ele seguirá em frente”, afirmou Biden, que prometeu desestruturar o setor financeiro, a indústria da defesa, as redes de abastecimento da Rússia em todo o mundo.

O departamento de investigação financeira do governo americano identificou que há dezenas de empresas em 26 estados dos Estados Unidos e mais de 500 cidadãos de 11 países, entre eles chineses, alemães e italianos, identificados como financiadores ou apoiadores da máquina de guerra russa. Por meio dessas pessoas, Putin estaria operando dólares em todo o mundo, sem ser identificado pelos sistemas de fiscalização de bancos centrais. Washington determinou o bloqueio dos ativos nos Estados Unidos e o cancelamento dos vistos.

O Departamento de Comércio acrescentou mais de 90 empresas à sua lista de restrição. O novo pacote aumenta para mais de 4 mil as entidades e pessoas sancionadas por Washington desde o início da guerra.

A extensa lista inclui muitas empresas de tecnologia dos setores de semicondutores, fibra óptica, drones e sistemas de informação, além de um instituto de matemática aplicada. O sistema de pagamento russo Mir, uma versão doméstica do Swift, também foi sancionado. Criado em 2015 e reinaugurado depois da invasão à Ucrânia, o sistema permitiu à Rússia construir uma infraestrutura financeira que lhe possibilita driblar as sanções e reconstruir os laços rompidos com o sistema financeiro internacional.

(Alexander Nemenov)
(Sefa Karacan)
(Gavriil Grigorov)

Sanções do Ocidente à Rússia aumentam após suspeita de morte do rival de Putin, o ativista Navalny; até aqui, bloqueios não impediram o PIB russo de crescer

Segundo a secretária do Tesouro americano, Janet Yellen, o presidente Putin “hipotecou o presente e o futuro do povo russo”. “O Kremlin opta por reorientar sua economia para a fabricação de armas para matar seus vizinhos o mais rapidamente possível, às custas do futuro econômico de sua própria população”, disse Yellen, em reportagem da AFP. Por enquanto, no entanto, a sanções tiveram pouco efeito. No ano passado, segundo estimativa pela agência de estatísticas Rosstat, o PIB da Rússia cresceu 3,6%. Detalhe: a Rosstat é tão russa quanto era Navalny.

O aniversário de dois anos da invasão da Ucrânia, no entanto, tem provocado uma enxurrada de sanções. Os países da UE aprovaram um 13o pacote de restrições e o Reino Unido tomou medidas contra mais de 50 personalidades e empresas, e anunciou novos envios de mísseis aos ucranianos. Biden pediu para que os congressistas a aprovarem mais recursos para ajuda à Ucrânia. “Agora é a hora de mostrar que os Estados Unidos defendem a liberdade e não se curvam diante de ninguém”, escreveu Biden, em nota ao Congresso. Logo depois, em entrevista coletiva na Casa Branca, reforçou sua posição. “Não podemos ir embora da Ucrânia agora.”