Brasil patina no G-20
Por Carlos José Marques
Simbólica para o Brasil desde que assumiu uma direção claudicante à frente do G-20 foi a indisposição do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que adoeceu de Covid às vésperas da rodada de reuniões econômicas que ocorreram nos dias 26 e 27 de fevereiro. Como principal nome do encontro, teve de participar virtualmente e deliberar sobre questões que estão a demandar posicionamentos firmes do País. Embora não pudesse prever tal diagnóstico, é natural que a ausência servisse para atiçar ainda mais a má impressão entre participantes, que se queixam de o Brasil não estar desempenhando a contento o papel que lhe é cabido. Do ponto de vista estratégico, o encontro com as autoridades russas para o lançamento do plano de financiamento e economia sustentável, previsto para a próxima segunda-feira, 04, foi também cancelado. Antes, as rodadas comandadas por Lula, com autoridades americanas também soaram constrangedoras, devido aos posicionamentos recentes acerca dos conflitos internacionais. O governo Lula como um todo parece não perceber a chance que vem perdendo nesse aspecto no que se refere a uma posição de destaque no tabuleiro mundial. Logo agora e justamente quando deve anfitrionar a cúpula dos chefes de Estado e de Governo, a ser realizada em novembro deste ano no Rio de Janeiro, com mais de 130 reuniões previstas. Chanceleres se encontram no momento por aqui para afinar agendas e o Brasil tem perdido a chance de pontificar na escolha dos temas. Os ministros e delegados de grupos de trabalhos específicos se queixam, nos bastidores, da pouca atenção que estão recebendo. O calendário das rodadas do G-20 por aqui irá abranger uma diversidade de temas vitais para o desenvolvimento global – Brasil incluso – e, normalmente, o País que recepciona as conversas acaba por ter grande influência sobre o que é debatido e quanto às conclusões. Desprezar essa chance significa um erro crasso do ponto de vista diplomático e comercial. Assuntos como a redução do risco de desastres naturais, estratégias para combater a corrupção e outras no campo da igualdade de gênero e raça, além de tendências macroeconômicas globais, estarão em pauta. No escopo geral, os delegados estão preocupados em especial com as acentuadas guinadas climáticas e seus efeitos para a sobrevivência da humanidade. É decerto o assunto que deve galvanizar mais as discussões. Perspectivas tecnológicas e digitais como a da Inteligência Artificial e a sua regulação não ficarão de fora, muito menos os projetos de desenvolvimento sustentável da agricultura, de transição energética, de promoção do emprego e do combate à fome e à miséria. É um horizonte tão amplo de questões que realmente surpreende o pouco caso reservado pelo governo brasileiro – ao menos neste início – para tais eventos. Nem mesmo as plenárias dos ministros de relações exteriores, dias atrás, tiveram, como é praxe, um comunicado final, sinalizando as dificuldades de consenso no grupo. A radical discrepância de opiniões entre os participantes, que ficou evidente ao público, poderia ter sido amenizada com um comando mais firme e verdadeiramente interessado dos representantes brasileiros. Não aconteceu e a torcida agora é para que esse comportamento mude até o final de ano, quando os líderes estrangeiros vierem para, quem sabe, um entendimento.