Com incentivos fiscais, Stellantis e Toyota prometem bilhões em descarbonização
Grupo europeu anuncia aporte recorde com foco em energia limpa, mesma meta dos japoneses, que vão aplicar R$ 11 bi na ampliação da produção de carros e motores com tecnologia híbrida flex
Por Angelo Verotti
Os benefícios prometidos pelo governo federal às montadoras automotivas, por meio do Mobilidade Verde e Inovação (Mover), transformaram a rotina do setor. Instituído por meio de medida provisória em dezembro do ano passado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o programa deve ser regulamentado até o dia 31 deste mês e vai garantir às companhias até R$ 19,3 bilhões em incentivos fiscais para projetos voltados à produção de veículos sustentáveis e à realização de pesquisas voltadas para as indústrias de mobilidade, visando a descarbonização. O resultado? Na última semana, os aportes acumulados prometidos pelas fabricantes até 2032 se aproximaram de R$ 100 bilhões.
O mais recente e vultoso foi revelado na quarta-feira (6) pela Stellantis, que entre 2025 e 2030 vai aplicar R$ 30 bilhões no País. O anúncio ocorreu um dia depois de a japonesa Toyota também divulgar um plano de investimento, de R$ 11 bilhões. E mesmo prazo.
STELLANTIS
Líder em emplacamentos no Brasil, a Stellantis anunciou o maior plano de investimentos na história da indústria automotiva do continente.
O grupo detentor das marcas Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën, além de outras dez globais, prevê o lançamento de 40 novos produtos até o final da década, assim como o desenvolvimento de novas tecnologias bio-hybrid, que visam a descarbonização em toda a cadeia de suprimentos automotivos, além de oportunidades estratégicas de negócios.
“Este anúncio solidifica nosso comprometimento com o futuro da indústria automotiva sul-americana e é uma resposta ao ambiente de negócios favorável que encontramos aqui”, disse o português Carlos Tavares, CEO da Stellantis.
O novo aporte dará sequência a uma rodada de R$ 16,2 bilhões iniciada pela montadora em 2018 e que será finalizada este ano.
Na visão de Emanuele Cappellano, diretor de operações da Stellantis para a América do Sul, o investimento recorde marca um novo ciclo virtuoso da bandeira para o Brasil e para a região. “Serão implementadas quatro plataformas globais, associadas às tecnologias bio-hybrid, mais de 40 modelos, além de oito novos powertrains e aplicações em eletrificação”, disse o executivo, ao destacar em seguida que o Brasil se tornou o centro de desenvolvimento dos sistemas híbridos da montadora.
“O etanol nos dá uma vantagem competitiva. Até um BEV (carro 100% elétrico), considerando a cadeia de fornecimento de energia, não chega ao nível [de descarbonização] que temos no Brasil.”
Além do investimento na América do Sul e como parte de seu plano estratégico Dare Forward 2030, que visa zerar a emissão de carbono até 2038, a Stellantis planeja aplicar mais de 50 bilhões de euros em eletrificação durante a próxima década.
O destaque da iniciativa é a tecnologia bio-hybrid, que combina eletrificação com motores flex movidos a biocombustíveis (etanol) em três diferentes níveis:
• bio-hybrid;
• bio-hybrid e-DCT, com transmissões eletrificadas de dupla embreagem;
• e bio-hybrid plug-in.
No futuro, a região também produzirá um veículo elétrico a bateria (BEV). Entre os planos anunciados recentemente pelo grupo para o Brasil, está a meta de que, até 2030, 60% do volume de carros novos vendidos pelo grupo sejam eletrificados, sendo 40% modelos híbridos e 20%, elétricos.
NA REGIÃO
Além do Brasil, a Stellantis é a líder dos outros dois principais mercados na América do Sul: Argentina e Chile.
• No ano passado, as vendas totais na região superaram 878 mil veículos, com 23,5% de participação no mercado.
• No Brasil a bandeira tem 31,4% de share.
• Quando se fala somente de veículos comerciais leves na América do Sul, a participação de mercado é de 28,6%0.
• Em território nacional, pelo terceiro ano seguido a Fiat Strada foi a campeã de vendas, com 120,6 mil exemplares e 5,5% de share.
Os dados são da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). O investimento anunciado demonstra a solidez do grupo global criado em 2021. E isso fica evidente nos resultados financeiros referentes ao ano passado. Destaque para o lucro líquido de R$ 100 bilhões, 11% maior ao de 2022. A receita líquida superou R$ 1 trilhão, alta de 6% na comparação anual.
Segundo a Stellantis, o mercado eletrificado teve importante participação nos resultados. As vendas globais de modelos 100% elétricos cresceram 21%, enquanto as vendas de carros a combustão com baixas emissões, como os híbridos, aumentaram 27%. “Os resultados financeiros recordes são a prova de que nos tornamos um novo líder global em nossa indústria”, afirmou o CEO global Carlos Tavares.
TOYOTA
No movimento mais importante em seus 66 anos de história de Brasil, a montadora japonesa revelou na terça-feira (5) plano de investimento de R$ 11 bilhões no País até 2030.
O ciclo foi anunciado por Rafael Chang, CEO da Toyota para a América Latina e Caribe, e tem como foco principal impulsionar a descarbonização por meio de novas tecnologias de eletrificação.
Para isso, a bandeira ampliará a capacidade de produção de veículos e motores com a introdução de novos modelos equipados com tecnologia híbrida flex.
Do total a ser aportado, R$ 5 bilhões serão realizados até 2026. O montante será utilizado na produção de um novo veículo compacto híbrido flex, já anunciado no ano passado pela montadora e com previsão de produção para o ano que vem, além da fabricação de outro modelo com a mesma tecnologia, desenvolvido especialmente para o mercado do Brasil. Os nomes e demais características dos veículos serão divulgados em data a ser definida pela empresa.
As iniciativas, segundo a Toyota, reforçam a oferta de produtos eletrificados de fabricação local e estão em consonância com as diretrizes das políticas Nova Indústria Brasil e Mover, recentemente apresentadas pelo governo federal.
“Estamos muito satisfeitos em poder ampliar nossa produção local, exportar para toda a região e assim gerar e distribuir valor para toda a sociedade, em forma de empregos e desenvolvimento econômico”, afirmou Chang.
A montadora consolidou a sua posição de liderança em exportações de veículos no ano passado.
• Foram enviadas 82,4 mil unidades a países da América Latina e Caribe.
• O Corolla Cross foi o campeão de envios ao exterior, com 31,7 mil exemplares.
Os novos investimentos também viabilizarão a expansão do parque fabril da empresa em Sorocaba (SP), que atualmente funciona a plena capacidade.
Para efetivar essa significativa expansão da capacidade produtiva, será necessário construir outras instalações no local, para as quais serão transferidas as operações produtivas de Indaiatuba (SP). Isso ocorrerá de forma gradual, a partir de meados de 2025, com conclusão prevista para o final de 2026.
O aumento da capacidade de produção e a introdução de novos modelos eletrificados possibilitarão a localização adicional de peças, componentes e sistemas de alta tecnologia, contribuindo para o adensamento da cadeia produtiva local.
Como resultado, espera-se uma efetiva atração de investimentos para o desenvolvimento de novas tecnologias e fornecedores. “Nossos investimentos vão promover o desenvolvimento da cadeia de fornecedores de componentes para veículos eletrificados, apoiando assim o processo de descarbonização da mobilidade no País e em toda a região da América Latina”, disse Evandro Maggio, presidente da Toyota do Brasil.
No caso da empresa o processo de ampliação da localização será iniciado com a montagem do motor do sistema híbrido em 2025, na planta de Porto Feliz, também no interior paulista. Como próximo passo, a montagem de baterias será realizada na fábrica de Sorocaba a partir de 2026, para equipar os veículos híbridos já produzidos localmente. Isso resultará no aumento do valor agregado e do conteúdo local. Um adensamento que gera ganhos.
Com os anúncios de Stellantis e Toyota, chega a R$ 95 bilhões o total de investimentos prometidos pelas montadoras no País até 2032. Os demais foram, pela ordem:
• Volkswagen (R$ 16 bilhões: 2022-2028);
• GWM (R$ 10 bilhões: 2023-2032);
• GM (R$ 7 bilhões: 2024-2028);
• Renault (R$ 5,1 bilhões: 2021-2027);
• Caoa (R$ 4,5 bilhões: 2021-2028);
• BYD (R$ 3 bilhões: 2024-2030);
• Nissan (R$ 2,8 bilhões: 2023-2025);
• e BMW (R$ 500 milhões: 2021-2024).