Mercado de emagrecimento: Ozempic ganha concorrente de peso
Com a expectativa de que metade da população mundial seja obesa ou esteja acima do peso até 2030, demanda é garantida e novos concorrentes devem popularizar tratamento
Por Allan Ravagnani
As famosas canetas emagracedoras Ozempic e Mounjaro estão prestes a receber novos concorrentes neste vasto mercado de emagrecimento. Há duas semanas, a biotech Viking Therapeutics divulgou estudo de seu medicamento, VK2735, com resultados que animaram os investidores, fazendo a ação saltar 145% no primeiro dia após a divulgação.
Em outra ponta, um novo tratamento para problemas hepáticos, mas que leva o paciente a perder peso, também apontou resultados promissores em estudo. Desenvolvido pela Zealand Pharma, em parceria com a Boehringer, o remédio teve 83% de eficácia para tratar uma inflamação do fígado causada pelo excesso de gordura.
Os tratamentos foram inicialmente pensados para tratar doenças como diabetes, levando como efeito secundário à perda de peso, e terciários, como queda no risco de infarto e o ganho na qualidade de vida. Descobriram aí, o caminho do sucesso.
Nos Estados Unidos, onde não há controle de preço pelo governo, cada dose do Mounjaro e Ozempic custa em torno de US$ 1 mil nas farmácias, o que garante largas margens de lucro.
No Brasil, o Ozempic custa cerca de R$ 1,1 mil, já o Mounjaro ainda não chegou por aqui devido às dificuldades na produção. Nesse cenário, a entrada de novos concorrentes é vista como natural e positiva pelos analistas. Já são mais de 70 biotechs e farmacêuticas realizando mais de 100 testes clínicos de fármacos contra obesidade.
“Estudos são promissores para o uso do glp-1 em tratamentos de compulsões e vícios.”
Lia Lima, endocrinologista
O analista-chefe da Investing.com, Thomas Monteiro, afirmou que a entrada de concorrentes é positiva, podendo causar inicialmente alguma movimentação nos preços das ações, mas que, mesmo com outros players na disputa, as margens são “excelentes”, podendo manter lucros elevados ainda por muitos anos.
Quem são? A fabricante do Ozempic (Semaglutida) é a Novo Nordisk, que se tornou a empresa com maior valor de mercado da Europa em 2023 diante do sucesso do produto. Em 11 de março, a companhia valia US$ 594 bilhões, deixando para trás a gigante francesa do luxo LVMH, com US$ 464 bilhões. A valor atual da Nordisk, listada em Copenhagen, é 67% maior que o Produto Interno Bruto da própria Dinamarca, de US$ 354 bilhões em 2023.
Já a Eli Lilly, com largo histórico de tratamento de diabetes, viu seu valor saltar quase 200% em um ano, após o lançamento da sua versão do tratamento injetável, o Mounjaro (Tirzepatida). A Lilly vale agora US$ 700 bilhões, na décima posição entre as empresas mais valiosas do planeta.
Existe todo um mercado dentro e fora dos Estados Unidos e Europa que está carente da medicação. Além disso, as projeções da Organização Mundial da Saúde (OMS) são de que mais de 50% da população mundial pode ficar obesa até 2030. Diante da recente valorização, investidores começaram a se perguntar se esse mercado é sustentável no longo prazo e se não há uma ‘bolha’ em torno dessas empresas, supostamente supervalorizadas.
O analista Thomas Monteiro disse que atualmente o mercado é avaliado em US$ 90 bilhões anuais, com projeções dos bancos de investimentos de crescimento anual (CAGR) de 12%. Ele afirmou, no entanto, que esse número pode ser ainda maior. “O mercado tá olhando para o tratamento de doenças relacionadas à obesidade, mas o GLP-1 vai além disso, é um medicamento que age no cérebro, atua com saciedade, o que pode levar ao uso desses medicamentos para tratamentos de outros vícios”, disse.
A endocrinologista Lia Lima, do hospital Edmundo Vasconcelos afirmou que o GLP-1 atua também na região do cérebro que trata de desejo e recompensa, ajudando no tratamento de compulsões. “Da mesma maneira, existem estudos com os análogos de GLP-1 para redução de alcoolismo e tabagismo, mostrando resultados satisfatórios, mas ainda em andamento. Provavelmente, eles devem ser utilizados em associação com outros fármacos para esse fim”, complementou Lima.
POPULARIZAÇÃO
O elevado preço ainda é uma barreira. Ainda, pois a tendência é baratear.
São diversos os fatores que devem influenciar:
• a maior concorrência,
• os investimentos na ampliação da produção e distribuição,
• e as novas formas de administração, como por via oral, que dispensa o caro dispositivo injetável e o armazenamento sob refrigeração.
Além disso, chegarão as quebras de patente. A patente da Semaglutida —princípio ativo do Ozempic — por exemplo, vai expirar em 2026, abrindo caminho para que outras farmacêuticas possam replicar e produzir tratamentos genéricos por preços menores.
Esses medicamentos do momento trabalham com princípios ativos análogos ao hormônio GLP-1 (Glucagon-like Peptide-1), atuando no corpo de forma semelhante ao hormônio natural, que sinaliza ao cérebro a nossa saciedade.
Segundo a Dra. Lima, o hormônio GLP-1 é liberado na presença de glicose, durante as refeições, sinalizando ao cérebro que estamos sendo alimentados. A injeção do remédio também aumenta a secreção de insulina e inibe a secreção de glucagon, dando a sensação de saciedade, além de agir também no tecido adiposo, com múltiplas ações no metabolismo.