Maior projeto imobiliário da AL, Parque Global traz luxo e inovação a São Paulo
Com 634 imóveis, uma unidade do Albert Einstein, hotel, shopping, universidade e VGV de R$ 14,2 bilhões, o Parque Global, em São Paulo, foi desenvolvido por Jorge Perez, o rei dos condomínios em Miami
Por Sérgio Vieira
A Bienal Internacional de Arte de São Paulo, um dos mais importantes eventos culturais do mundo, sempre foi uma das razões para que o bilionário Jorge Perez, argentino com raízes cubanas e naturalizado norte-americano, viesse ao Brasil. Grande colecionador de esculturas e pinturas, com quase 7 mil obras em seu acervo, o executivo também comanda na Flórida a maior incorporadora imobiliária dos Estados Unidos, a Related Group. Conhecido como o rei dos condomínios em Miami, ele hoje contempla uma de suas principais obras na construção civil: o Parque Global, empreendimento de alto luxo em uma área de 218 mil m² na Marginal Pinheiros, em São Paulo. “Estamos muito otimistas com o futuro do Brasil. Achamos que o crescimento desse produto no País continuará à medida em que a classe média cresce”, disse Perez, em entrevista exclusiva à DINHEIRO.
Considerado o maior projeto imobiliário da América Latina, o Parque Global tem dimensões internacionais.
• A começar pelo Valor Geral de Venda (VGV), estimado de R$ 14,2 bilhões.
• São cinco torres residenciais de 47 andares, que somam 634 unidades habitacionais.
• Abrigará uma unidade do Hospital Israelita Albert Einstein, uma universidade, um hotel, e também uma área de 110 mil m², onde será construído um shopping center (com bandeira ainda não informada).
• Apenas o empreendimento comercial deverá ter uma Área Bruta Locável (ABL) de 70 mil m², superior à de grandes centros comerciais como o Morumbi Shopping, com 56 mil m² e que recebeu 16,3 milhões de visitantes no ano passado.
As duas primeiras torres residenciais do Parque Global foram entregues no fim de março. Contemplam 243 imóveis (162 na torre Regent e 81 na torre Sempione).
Segundo Perez, a terceira torre ficará pronta em junho, a quarta em dezembro desse ano e a quinta no fim de 2025.
• Os imóveis vão de 142 m² a 384 m², além de unidades duplex de até 597 m².
• O metro quadrado alcança R$ 28 mil.
• O apartamento mais caro custa R$ 21 milhões.
• Parte da obra é feita no modelo de construção industrializada, no estilo pré-moldado, que agiliza o processo.
Entre as amenities oferecidas aos moradores, que, segundo o executivo americano foram inspiradas nos condomínios da Related em Miami, estão private pool (onde será possível reservar uma piscina para realização de festas fechadas), pista de boliche (primeiro empreendimento em São Paulo com essa atração), simulador de golfe, quadras de tênis coberta e descoberta, beach tênis, entre outras.
O espaço de 44 mil m² que envolve a área residencial do Parque Global é considerado maior até do que alguns clubes tradicionais de São Paulo. O condomínio de luxo também irá oferecer um wine bar desenhado pelo escritório de arquitetura Archea Associati, que projetou a vinícola Antinori, localizada na Toscana e eleita a melhor do mundo em 2022 pela World’s Best Vineyards Awards.
Para se ter uma ideia da grandiosidade desse empreendimento, o VGV do projeto é mais de quatro vezes superior ao volume registrado durante todo o mês de fevereiro na cidade de São Paulo, que foi de R$ 3,22 bilhões, segundo dados do Sindicato da Habitação (Secovi-SP).
Todo o projeto foi desenhado no conceito de smart city, com:
• wi-fi em áreas comuns,
• aplicativo com acesso a serviços e espaços do condomínio,
• gerenciamento inteligente de iluminação das áreas,
• além de pontos de recarga para carros elétricos e um heliponto para drones.
A perspectiva é de rápida valorização dos imóveis no Parque Global de cerca de 25% a 30%. Há previsão, sem data definida, para construção de uma estação da Linha 17-Ouro do Metrô, que ligará o Morumbi ao Aeroporto de Congonhas, no próprio terreno do Parque Global, que terá uma área verde de 58 mil m².
PARCEIRO LOCAL
O projeto é realizado em parceria da Related com o grupo Bueno Netto e desenvolvido pela Benx Incorporadora. O grupo de investimentos Starwood Capital, que atua no mercado imobiliário global, também integra a iniciativa imobiliária.
A perspectiva é de que a entrega total do empreendimento, inclusive com as áreas comerciais em funcionamento, ocorra em 2027.
A parceria do grupo brasileiro Bueno Netto com Perez para a construção do Parque Global começou em 2011. “O pessoal da Related me apresentou um arquiteto que cuidou do masterplan [plano do projeto], e que até hoje é o que está sendo utilizado no empreendimento”, disse Adalberto Bueno Netto, fundador e presidente do conselho das empresas do grupo que leva seu sobrenome. “Muita gente no Brasil compra apartamento em Miami. E a Related tem esse jeito moderno de construir, focando bastante em áreas verdes”, afirmou.
A aliança para construção do megabairro foi selada em São Paulo a partir de 2012. Naquele momento, o lançamento já havia sido considerado um sucesso, mas um revés jurídico, provocado por questões ambientais, fez com que a empreitada fosse interrompida em 2014. “A área nunca havia sido habitada, mas era um local considerado como um bota-fora. A gente estudou com a Cetesb e com o Ministério Público as melhorias que precisariam ser feitas e com isso obtivemos todas as licenças”, afirmou Bueno Netto.
O relançamento do empreendimento ocorreu em 2020. Nesse período, o projeto foi atualizado e aprimorado. “Melhoramos a infraestrutura, ampliamos as dimensões de quartos. Ficou ainda mais sofisticado.”
O sucesso de vendas do Parque Global tem seguido em linha com o momento aquecido do mercado imobiliário de São Paulo, impulsionado principalmente pelo ambiente de queda de juros nos últimos meses.
Segundo Ely Wertheim, presidente-executivo do Secovi-SP, a expectativa é de crescimento de 5% no volume de vendas imobiliárias nesse ano e de aumento no número de lançamentos, também estimado em 5%. “O mercado já compreendeu o modelo econômico do novo governo, e a queda dos juros, facilitando o financiamento, associada ao número baixo da taxa de desemprego têm sido fatores importantes para a perspectiva de crescimento para o setor.”
SUCESSÃO
Enquanto acompanha o resultado de sua obra de arte na construção civil, Perez, que tem 74 anos, planeja o processo de sucessão no comando de sua empresa, a exemplo do movimento também feito por Bueno Netto, da mesma idade do sócio estrangeiro.
O construtor brasileiro está passando o bastão do grupo empresarial para o filho Carlos Alberto Bueno Netto, 46 anos, que atualmente exerce a função de diretor-geral da Benx Incorporadora. “Praticamente estou de saída e meu filho vem encabeçando os trabalhos. Temos uma equipe muito boa nas empresas. Participo da criação de produtos, acompanhamento da qualidade, mas deixo com eles a missão de tocar a companhia.”
Com mais de 100 empreendimentos em vários estados do País (em todas as faixas de preço), o grupo Bueno Netto, que completa 50 anos, hoje tem concentrado sua atuação na capital paulista. E ele vislumbra novos projetos com Perez. “Jorge é uma figura interessante, ultra detalhista e um grande amigo. Temos algumas ideias de outros projetos.”
Do lado da Related Group, a missão de tocar a companhia ficará a cargo de Jon Paul Perez, que hoje é diretor-geral da empresa. “Tive muita sorte porque meus dois filhos mais velhos, o Jon Paul, de 39 anos, e o Nicholas, de 36, sempre gostaram do setor imobiliário. Costumava dizer que eles não se envolvessem em um negócio se não tivessem paixão por aquilo”, disse Perez, atualmente presidente do conselho e CEO da Related.
COLEÇÃO
Mas não foi assim tão automático. “Minha regra era que, antes que pudessem trabalhar para mim, eles teriam que trabalhar fora da empresa por cinco anos, além de obter um diploma de mestrado.” Ambos fizeram isso. Jon Paul hoje comanda a operação da companhia e Nicholas está na presidência da divisão de condomínios. O planejamento de Perez é de que Jon assuma como CEO no próximo ano e ele siga como chairman da Related.
O empresário americano não esconde que, com seu filho à frente dos negócios, poderá se dedicar mais a adquirir obras para seu acervo particular.
• Perez hoje dá nome ao museu de Arte de Miami.
• Das 1,8 mil obras de arte do espaço cultural localizado na Flórida, 110 foram doadas pelo empresário.
• Ele também contribuiu com US$ 35 milhões para a construção da nova sede do museu.
Uma de suas mais recentes missões tem sido aumentar sua coleção de obras de artistas brasileiros. Nomes como Vik Muniz, Artur Lescher, Tunga, Maxwell Alexandre, estão entre os preferidos do megaempresário da construção civil. “Busco arte de nomes consagrados e de artistas mais jovens. Hoje em dia estamos nos concentrando em afro-brasileiros, especialmente do Norte do Brasil.” Definitivamente, a obra de arte brasileira está no coração de Jorge Perez. E, agora, também a obra civil no País.
ENTREVISTA
Jorge Perez, presidente e CEO da Related Group
“Sempre olhamos para o Brasil como o maior mercado da América Latina”
O que mais pesou na decisão de trazer esse investimento aqui para o Brasil e desenvolver esse empreendimento em São Paulo?
Nós sempre olhamos para o Brasil como o maior mercado na América Latina. Tive a sorte de conhecer Adalberto Bueno Netto, um grande incorporador brasileiro, e queríamos fazer o mesmo que nos Estados Unidos, algo que fosse icônico e poderoso, que tivesse influência em São Paulo.
O que torna o projeto icônico, na sua avaliação?
Achamos muito interessante porque, devido ao terreno grande, pudemos trazer amenities que não se vê em outros projetos no Brasil. A maioria dos que vimos era de torres individuais ou duas, com pouquíssimo espaço comum. O que fizemos foi trazer uma das melhores firmas de arquitetura do mundo, Arquitectonica, que tem escritórios em Miami, Nova York, Arábia Saudita, Londres, para projetar esse projeto de grande beleza arquitetônica. E trouxemos o melhor paisagista do mundo, na minha opinião, que é o Enzo Enea, da Suíça.
O Brasil tem demanda para outros megabairros como o Parque Global?
Sim. Entendo que esse tipo de residência de luxo plenamente complementada por amenities tem grande demanda. É preciso lembrar que o Brasil é o maior país da América Latina. Ele está bem posicionado por causa de seus recursos naturais e por causa da indústria de transformação, que assumiu uma posição importante, com muitas empresas europeias e americanas vindo para agregar à economia local.
Qual é a atual imagem do Brasil no exterior?
Do ponto de vista dos negócios internacionais, claro que houve algum medo com a mudança de governo, indo para uma filosofia mais à esquerda. Ainda assim, as pessoas veem o Brasil como bastante estável em comparação com outros lugares na América Latina. Acredito que o maior problema que os investidores estrangeiros encontram nos países latino-americanos são as possibilidades de enormes mudanças políticas quando há troca de governo. Quando eu faço uma incorporação nos Estados Unidos, só tenho uma preocupação: como está a economia, como está o mercado.
E como está a economia no governo Joe Biden?
Acho que o Biden não fez um trabalho ruim na gestão da economia dos Estados Unidos. A taxa de crescimento, de desemprego e de inflação são muito melhores do que nos países da Europa. A incerteza é sobre quem será o próximo presidente.