Líder global em adesivos e selantes, Henkel constrói centro de pesquisa em SP
Empresa alemã de colas e adesivos inicia em Jundiaí (SP) as obras de seu primeiro centro de inovação e tecnologia na América Latina, onde vai testar e criar produtos sob demanda, em parceria com a indústria
Por Beto Silva
José Antônio de Castro Filho vem quebrando alguns paradigmas à frente da operação da Henkel Brasil. De pequenos a grandes. A companhia de origem alemã, líder global em adesivos, selantes e revestimentos funcionais e dona de marcas como Loctite, Persil, Pritt, Bonderite e Schwarzkopfal, carrega em sua cultura as bases corporativas do país europeu, mais engessadas a regras e menos maleáveis a adaptações. Mas o executivo, na empresa há 38 anos, quatro deles na presidência, tem dado um toque de brasilidade na condução dos processos. A começar pelas paredes da sua sala, ainda na antiga sede da companhia, em Diadema (SP) — hoje está no bairro paulistano da Lapa. O padrão branco disseminado por toda companhia ganhou um espaço colorido, com pintura na parede e decoração que remetem ao automobilismo, uma paixão de José Antônio.
Ele já correu de kart com o eterno ídolo Ayrton Senna. Não virou piloto como gostaria, mas tornou-se referência no setor em que a Henkel atua. Até ganhou um apelido carinhoso no mercado: Zé das Colas. E entre as grandes transformações que conduz, uma tem ganhado notoriedade. A construção de um centro de pesquisa de desenvolvimento, na cidade de Jundiaí, em São Paulo. Será o primeiro centro integrado de inovação e tecnologia da empresa na América Latina. “É um divisor de águas para a Henkel. Vai colaborar com inovação tanto para o Brasil quanto para nossas operações mundo afora, ao testar e criar produtos sob demanda, em parceria com a indústria”, disse José Antônio à DINHEIRO.
O Henkel Latam Inspiration Center vai subverter uma lógica do mercado, que não é exatamente uma novidade para a Henkel. Hoje, a maioria das indústrias lança um produto no mercado e quem precisa dele compra. Na companhia alemã, muitos itens são desenvolvidos a partir da necessidade dos clientes. “Nossos parceiros trazem os problemas e nós estudamos juntos as soluções”, afirmou o executivo. “Ainda fazemos muitas experiências na sede dos clientes. Vamos centralizar em casa esses testes.”
A expectativa é que esse projeto aumente as vendas para os atuais parceiros comerciais e atraia novos clientes. Para incrementar as receitas, que têm crescido dois dígitos anualmente no Brasil. Em 2023, o faturamento da operação brasileira foi de 322 milhões de euros (R$ 1,8 bilhão). A América Latina registrou 1,68 bilhão de euros, equivalente a 7,8% das vendas globais, na ordem de 21,51 bilhões de euros.
As obras já começaram e devem ser concluídas até o final de 2025.
• Além do desenvolvimento de inovações e soluções para a unidade de negócios de tecnologias adesivas (Adhesive Technologies), será um centro de treinamento, capacitação e interação com clientes e parceiros na região.
• O Inspiration Center vai juntar as atividades dos dois laboratórios que a companhia já possui nos municípios paulistas de Itapevi e Jundiaí, onde também funcionam suas fábricas e um centro de distribuição (Jundiaí).
O investimento não é revelado, mas todo o aporte é da operação brasileira, que tem gerado resultados importantes ao grupo. A produção neste momento tem quatro turnos e algumas frentes têm usado plantas fabris de parceiros para dar conta da demanda.
Por aqui, os adesivos industriais e de consumo desempenham um papel importante e colocam o Brasil como polo de oportunidades para escalabilidade dos negócios, além de ser um hub estratégico de exportações.
“Tudo que você usa tem produto Henkel”, costuma dizer o presidente José Antônio de Castro Filho. Pode soar exagero em primeira análise, mas tem certo fundamento.
• A companhia alemã, que completa 148 anos, 68 deles no Brasil, tem soluções para vedação das latinhas de alumínio de cerveja, refrigerante, sucos e água. Por serem produtos alimentícios, o selante precisa, inclusive, passar pela aprovação da Anvisa, já que tem contato com os líquidos e será ingerido.
• O mesmo ocorre com embalagens de alimentos da BRF e JBS. As caixas são fechadas com cola especial para não oxidar ou contaminar os produtos.
• Quem lembra das festas em que garrafas de cerveja eram colocadas em isopores com gelo e quando retiradas do recipiente os rótulos ficavam boiando na água? Pois bem. A Henkel foi pioneira em adesivos de vasilhames resistentes a mais de 48 horas em água gelada. Uma solução até hoje usada por gigantes como Ambev.
• Os itens da companhia também estão presentes em absorventes íntimos, fraldas e papel higiênico.
• Capacetes, fixadores de parafusos, juntas de motores, antenas e baterias de smartphones… tudo isso possui componentes da empresa. • Fogões e geladeiras têm isolamentos feitos com produtos Henkel.
• No carro, o produto anticorrosão aplicado antes da pintura da carroceria e das rodas e na fixação de partes plásticas são outras soluções.
• A cola dos livros — inclusive bíblias — é fabricado pela companhia, que também tem composto para colchões e travesseiros.
O portfólio é extenso, o que inclui, por exemplo, colas de secagem ultrarrápida (como a Super Bonder, da Loctite, que virou sinônimo de cola instantânea), de um segundo, dois segundos, quatro segundos ou 90 segundos.
E vem novidades por aí. Produto para madeira engenheirada entrará em breve no mercado brasileiro. E produtos que estão à margem da operação, como a cola Tenaz, muito usada em trabalhos escolas e na confecção de pipas, deve “voltar com força” a mercado, segundo o José Antônio.
MACROECONOMIA
Por sua atuação transversal em diversos setores econômicos, com produtos aplicados desde a indústria automobilística até as vendas em pequenos varejos de bairro, a Henkel tem desempenho atrelado à macroeconomia. Por isso, tem motivos para estar otimista, mas também deve ficar atenta, principalmente nos fatores externos.
Ricardo Igarashi, economista e professor da Faculdade do Comércio, aponta os conflitos no Oriente Médio, a guerra entre Rússia e Ucrânia, além da alta dos juros nos Estados Unidos como situações de risco. “Tudo isso pode abalar a política macroeconômica brasileira.”
Por outro lado, o Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2,2% para 2024 e 2,1% em 2025.
Soma-se a isso o anúncio, em janeiro, feito pelo governo federal, da Nova Indústria Brasil, com de R$ 300 bilhões para financiamentos no plano de ações até 2026. “Essa iniciativa vai fazer crescer vários setores da indústria, o que explica em parte do otimismo da Henkel”, afirmou Igarashi. Com P&D, inovação, produtos e ventos favoráveis, a Henkel amplia sua aderência no mercado brasileiro.