ESG

Governo, indústria e catadores unem forças pelo descarte consciente

Ministério do Meio Ambiente, associação das indústrias de refrigerantes e catadores lançam campanha para aumentar índice de reciclagem no País

Crédito: Divulgação

Mais de 80% de todo material que é coletado de forma voluntária passam nas mãos dos trabalhadores catadores (Crédito: Divulgação )

Por Sérgio Vieira

Brasil vive um paradoxo quando se leva em conta a ótica da reciclagem. Ao mesmo tempo em que o País é referência na reutilização do alumínio, com índice próximo a 100%, ainda patina nos números sobre vidro, papel, plástico e outros materiais. Uma união de forças entre poder público, privado e a sociedade civil pretende justamente mudar esse panorama. Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e Bebidas Não Alcoólicas (Abir) e Associação Nacional dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis (Ancat) lançaram no início de abril a segunda fase da campanha Crie Esse Hábito, com foco no descarte consciente de embalagens consumidas fora de casa.

Do total de 81,8 milhões de toneladas de resíduos sólidos produzidos por ano pela população brasileira, só 4% foram destinados para reciclagem, segundo dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Todo o restante foi direcionado a aterros sanitários.

“A política nacional de resíduos sólidos traz essa equação de corresponsabilidade entre todos os atores. Historicamente, o governo federal sempre atuou no pós-consumo, com planos para municípios de criações de aterros. E chegamos à conclusão que para melhorar a reciclagem seria necessário promover uma estratégia pensando a economia como um todo, com ações que promovam a reutilização”, disse Adalberto Maluf, secretário nacional do meio ambiente urbano e qualidade ambiental do MMA.

Nesse sentido, o dirigente do ministério falou de novas portarias que serão publicadas pelo governo em maio, que vão tratar de entidades gestoras e de verificação de resultados das ações de economia circular. “Mas a gente deve, acima de tudo, trabalhar na conscientização do consumidor, que precisa fazer a separação correta”, afirmou Maluf.

Não dá para ignorar, no entanto, que menos de 25% das cidades brasileiras têm programas de coleta seletiva. De certa forma, isso acaba impedindo qualquer tipo de estímulo por parte da população. Mas, na prática, não pode ser um impeditivo a quem deseja fazer sua parte.

Roberto Rocha (Ancat), Adalberto Maluf (Ministério do Meio Ambiente) e Victor Bicca (Abir): uma aliança para estimular o hábito de separar embalagens de forma correta (Crédito:Divulgação )

Uma das formas de chegar a esse possível horizonte é usar, nessa campanha, a capilaridade dos cerca de 1 milhão de catadores e catadoras de materiais recicláveis no País. Mais de 80% de todo material que é coletado de forma voluntária passam nas mãos desses trabalhadores, que formam um contingente importante.

“Essa parceria ajuda a mostrar a importância dos catadores na cadeia da reciclagem no Brasil. Nós coletamos os materiais e ajudamos nas ações de coleta seletiva. O catador e a catadora tem contato direto com a comunidade local e pode contribuir na divulgação dessa mensagem”, afirmou Roberto Rocha, presidente da Ancat.

Para Victor Bicca, presidente da Abir, a ação do setor privado é fundamental para que a população amplie seu processo de conscientização. “A gente sabe da nossa responsabilidade na questão dos resíduos sólidos e de nosso compromisso no avanço da reciclagem.”

Das 71 empresas que integram a associação de refrigerantes, 98% das que usam vidro como embalagem adotam modelos retornáveis, o que significa um grande passo nas iniciativas de circularidade.

No caso das garrafas PET, o Brasil vem evoluindo. Hoje, segundo o presidente da Abir, o setor alcança a marca de 56% de reciclagem desse tipo de material, e a tendência é de chegar a 60% nos próximos anos.

Já há empresas que produzem as garrafas com 100% de plástico reciclável. “Nosso país também foi pioneiro em lançar o modelo de PET retornável, o que caracteriza uma logística reversa perfeita”, disse Bicca.

Para avançar nesse setor é necessário que o consumidor separe o material de forma adequada. No ano passado, a Abir lançou a primeira fase da campanha de conscientização do descarte correto, só que voltado para dentro de casa. Agora, o projeto é mais amplo. “Queremos ensinar essas pessoas a fazer isso de forma certa. E o papel dos catadores é fundamental”, disse o presidente.

Para Maluf, a lata de alumínio é um case de sucesso no País, mas é preciso integração em todos os setores. “Nosso papel será de incentivar ainda mais a reciclagem e o descarte consciente das embalagens. Essa campanha em conjunto com a Abir é um acerto”, afirmou.