Negócios

Conveniência nas estradas: conheça o plano da Rede Graal para crescer

Ao comemorar seu cinquentenário, maior rede de postos de combustível e de conveniência agregada do Brasil planeja aumentar das atuais 61 para 100 unidades nos próximos cinco anos

Crédito: Claudio Gatti

Encostado em um dos ícones da Rede Graal, um antigo táxi de Nova York, em alusão à hamburgueria NYC, o porta-voz da rede, Helio Athia Junior, coloca em prática as ações em comemoração aos 50 anos da companhia (Crédito: Claudio Gatti)

Por Beto Silva

Antes de discorrer sobre o negócio da Rede Graal, é preciso esclarecer um ponto que não sai do imaginário das pessoas, apesar de já ter sido explicado dezenas de vezes. Não! O Graal não é do saudoso apresentador Gugu Liberato (1959-2019). Até transformaram o nome da empresa para dar força à falsa tese. Graal significaria Grupo Rodoviário Alimentício Augusto Liberato. Não! O nome da rede de postos de combustíveis conjugados com restaurantes e conveniência foi inspirado no Santo Graal, o cálice supostamente usado por Jesus Cristo na última ceia. Mas é necessário pontuar também que o famoso comunicador brasileiro que animava as tardes de domingo no SBT, comprou décadas atrás uma fatia de 5% de uma das unidades do Graal para dar a um familiar.

O fato é que o Graal foi fundado em 1974 pelos irmãos Antônio Alves, de 87 anos, e Manuel Alves, 85 anos. Ao completar 50 anos de operação, têm planos ambiciosos para a rede, que hoje possui 61 unidades e fatura em torno de R$ 8,5 bilhões. “Queremos atingir a marca de 100 unidades modernas e eficientes com qualidade em produtos e serviços”, disseram os irmãos Antônio e Manuel à DINHEIRO, por nota.

Eles não concedem entrevistas e evitam aparecer na mídia. Low profile, dizem preferir focar na melhoria e no crescimento da rede. E os resultados estão aí. Foram 61 casas Graal abertas em meio século. Agora a meta é inaugurar outras 39 em 5 anos, quatro delas ainda em 2024. Além de dois hotéis, que vão se juntar aos cinco que pertencem ao grupo.

Para explanar sobre como a Rede Graal se tornou a maior do País nesse modelo, é importante entender a história dos dois irmãos portugueses, que chegaram ao Brasil ainda criança.
Já aos dez anos, trabalhavam na área de alimentação, onde adquiriram muito aprendizado.
Anos mais tarde abriram uma padaria e em seguida iniciaram o trabalho como “sócios nas estradas”, como se definem, com o primeiro posto de combustível, o Petropen, na Rodovia Régis Bittencourt, na cidade paulista de Pariquera-Açu, em meados da década de 1970.
A visão dos irmãos Alves era de que os postos naquela época eram precários em higiene, banheiros e alimentação.

“Então, resolvemos fazer o melhor nessa área”, disseram. Em algumas ocasiões, foram para Europa observar e estudar como funcionava esse setor por lá. Encontraram na Itália um formato que os inspirou. E adaptaram para a cultura brasileira. Deu tão certo que hoje são os europeus que visitam a Rede Graal no Brasil para copiar o modelo.

“As rodovias melhoram, os carros melhoram, e nosso desafio é melhorar junto. Queremos sair do modelo de posto de conveniência.”
Helio Athia Junior, diretor na Rede Graal

Equipamentos de recarga rápida de carros elétricos serão instalados em 37 postos da rede. Mais uma conveniência, que é o DNA da companhia (Crédito:Divulgação )

Um negócio que sempre girou em torno do bom atendimento e da conveniência. E adivinhe como o grupo planeja seu crescimento atualmente? Com a mesma fórmula, claro!
Estão sendo instaladas 74 máquinas de recarga ultrarrápida de carro elétrico em 37 postos da rede para atender a demanda crescente.
O investimento é de R$ 15 milhões.
Também está sendo implementado um sistema de lavanderias de autosserviços nas 61 unidades, abastecimento de gás de alta vazão para transporte pesado, além do retrofit e modernização de oitos postos.

Mais e melhores serviços atraem mais clientes. Uma “filosofia”, como gosta de dizer o diretor de marketing da Rede Graal, Helio Athia Junior, porta-voz do grupo e dos irmãos Alves. “Para ser eterno, tem de ser moderno”, afirmou. A frase é bonita. Mas carrega na prática o DNA dos fundadores.

“O negócio começou como uma modernização de um serviço [de banheiros mais adequados para as paradas dos motoristas nas estradas]. Atualmente, as rodovias melhoram, os carros melhoram, e nosso desafio é melhorar junto”, disse o executivo, ao emendar outra declaração de efeito e que faz todo o sentido na Rede Graal. “Queremos sair do modelo de posto de conveniência para posto de preferência. Isso já acontece com nossos clientes. Eles querem estar nas casas Graal, que são um atrativo.”

Os números corroboram com a tese de Athia Junior.
As mais de seis dezenas de unidades espalhadas pelos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul recebem mensalmente 6 milhões de carros de passeio e 4 milhões de ônibus e caminhões.
São vendidos 90 milhões de litros de combustíveis por mês, equivalente a pouco mais de 1 bilhão de litros por ano, tudo em postos próprios das bandeiras BR, Ipiranga e Petro Graal.
Essa linha de negócio é responsável por 70% do faturamento do grupo. Outros 25% são dos restaurantes e 5% dos hotéis.
Apesar de o combustível ser a maior fatia da receita, é na alimentação que está a maior margem. Por isso que a Rede Graal investiu na década de 2000 uma praça diversificada. Inclusive criou marcas próprias dos restaurantes Via Lev, Più Itália, Bella Farinha, Route Café, NYC, Via Grill e Parmegiana e Cia.

E aqui faz-se necessário enfatizar dois pontos.

O primeiro referente ao café. Afinal, estamos falando de uma parada na estrada para o tradicional cafezinho para seguir em frente na viagem. O produto é feito a partir da colab com a mineira Orfeu. São comercializados 1 milhão de doses por mês. “Café são vários componentes. É a plantação, o pó, a água, a máquina, o funcionário. Tudo isso tem de estar azeitado para oferecer um bom produto”, afirmou Athia Junior.

Fundadores foram buscar na Europa soluções para seu modelo de negócio. Hoje virou referência e são os europeus que vêm aprender com a empresa brasileira

(Divulgação)

Rede Graal investiu na década de 2000 em uma praça de alimentação diversificada, recheada de marcas próprias dos restaurantes Via Lev, Più Itália, Bella Farinha, Route Café, NYC, Via Grill e Parmegiana e Cia (Crédito:Divulgação )

O segundo aspecto é que cada marca tem sua própria gestão, com gerência e metas, o que cria uma concorrência interna para manter a qualidade do que é oferecido. É um diferencial dos concorrentes, que têm apostado em atrair lanchonetes famosas para dentro de seus espaços. Atraem público, mas viram locatários, sem valor agregado e sem alterar muito o ponteiro do faturamento.

“Nosso benchmarking é fazer melhor do que a gente já faz”, disse o diretor de marketing do Graal, ao frisar que as 39 unidades que entrarão em funcionamento nos próximos anos — principalmente no eixo Sul-Sudeste, apesar das ofertas para ingressar no Nordeste, o que não vai ocorrer — terão todo esse conceito, que deve ser aperfeiçoado no decorrer dos períodos.

É exatamente o que observa Francisco Bakaus Junior, gerente nacional de vendas da Produtos Paraná, que percorre as rodovias do País e conhece o mercado de varejo. Para ele, os 50 anos da Rede Graal não são apenas um marco, mas também um testemunho de sua capacidade de se reinventar e adaptar às necessidades dos viajantes. “A expansão para alcançar mais unidades mostra um claro sinal de ambição e confiança no seu modelo de negócios”, disse o especialista. “Como frequentador, percebo que a qualidade e a diversidade dos serviços oferecidos, desde a alimentação até a hospedagem, fazem da Graal muito mais do que um simples posto de combustível”, completou.

Na avaliação de Bakaus Junior, as iniciativas da Graal estão alinhadas com as demandas do mercado e as expectativas dos consumidores. “Estão construindo não só para o agora, mas para o futuro, antecipando-se às tendências de mercado de uma maneira que muitas empresas do setor ainda hesitam em fazer.” Como vislumbram os irmãos Alves, fundadores da rede. “Nos próximos 50 anos, esperamos que nossos sucessores façam ainda melhor do que nós fizemos.”