Liderança, solidão e estoicismo…
Por Jorge Sant’Anna
Segundo estudo da Harvard Business Review (HBR), 50% dos CEOs entrevistados em diversos países, experimentam sentimentos de solidão e isolamento. Para além disto, 61% dos entrevistados dizem que este estado de isolamento, atrapalha sua performance.
Como já disse antes a liderança é uma arte e como em toda expressão de arte, tem como objetivo inspirar, mobilizar e até mesmo transformar pessoas. Isto não se consegue através da manipulação e sim do exemplo, atitude, visão clara do futuro, alinhamento de todos os stakeholders envolvidos no sucesso de sua empreitada e no conhecimento de suas próprias vulnerabilidades.
O verdadeiro líder entende que não haverá prosperidade em uma sociedade doente e desorganizada…
Incerteza, falta de visibilidade e indefinição são ingredientes na dieta do líder
Diferentemente de um gerente, e aqui não falo de posição hierárquica e sim de mentalidade uma vez que temos muitos CEOs que se comportam como gerentes, o líder tem atenção voltada para a harmonia de todas as forças que possam afetar sua organização. Desta forma, seu espaço não se restringe apenas às exigências dos acionistas. Suas preocupações vão muito além disto, envolvendo os colaboradores, o meio ambiente e até mesmo as questões sociais que cercam a empresa. O verdadeiro líder entende que não haverá prosperidade sustentável e saudável em uma sociedade doente, desorganizada. Enquanto o gerente se preocupa essencialmente com o resultado financeiro de curto prazo o líder busca a criação de valor econômico da organização, não busca vencer a partida e sim permanecer no jogo o máximo possível. O líder tem suas próprias convicções.
Manter suas convicções e proposito, continuar inspirando, mobilizando e transformando, em meio a complexidade de lidar com os conflitos, tensões e contradições inerentes a tantos stakeholders, faz da liderança uma jornada de muita solidão. Muito embora, tenha claro a visão de onde quer chegar, na maioria das vezes o verdadeiro líder está longe de ter todas as respostas. A incerteza, falta de visibilidade e muitas vezes a indefinição, são ingredientes diários na dieta do líder. Diferentemente do estado mental do CEO gerente, que serve e recebe a direção de um único senhor, o líder convive com uma pluralidade imensa de opiniões.
Por outro lado, em grande medida, seus liderados esperam a direção, firmeza e certeza. Esperam isto até como medida de proteção de suas vidas, eles anseiam por segurança e não por risco. Manter sua convicção, sem afetar seu time com suas questões internas, exige um enorme esforço de performance, exige muitas vezes isolamento e definitivamente muita solidão.
O estoicismo, escola filosófica fundada por Zenão no início do século III A.C., se transformou na filosofia de vida de grandes generais, políticos, empresários e até mesmo imperadores. Se fundamenta no conceito que não podemos controlar ou mesmo contar com nada que esteja além de nosso pensamento. O estoicismo não significa acomodação ou embotamento das emoções, mas sim ajuste de nossas percepções sobe as pessoas e sobre o mundo; na disciplina de nossa ação — autocontrole; e na disciplina de nossa vontade, isto é, como lidamos as coisas que podemos mudar e com aquelas que são inexoráveis.
O líder estoico, não espera reconhecimento, sua recompensa é a realização de suas convicções. Não espera a compreensão e nem mesmo a fidelidade, uma vez que entende as vulnerabilidades e fragilidades da natureza humana. Se movimenta solitário, mas nunca sente o peso da solidão.
Se você consegue compreender tudo isto, mesmo não estando em uma posição de liderança, você tem o DNA do líder. Invista nisto.
Jorge Sant’Anna diretor-presidente e cofundador da BMG Seguros e membro do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Bancos