Economia

Inflação e juros deixam mercado em alerta

Cenário de longo prazo se deteriora na percepção dos investidores e empurra para cima os juros futuros

Crédito:  istock

Há incertezas vindo de vários fatores, entre eles a troca de comando na Petrobras e as enchentes no RS (Crédito: istock )

Por Jaqueline Mendes

Depois de um breve período de calmaria no primeiro trimestre, o cenário de pressão de custos e resiliência das elevadas taxas de juros praticadas pelos principais bancos centrais voltou a espalhar preocupação entre os investidores. Desde a semana passada, as taxas dos Depósitos Interfinanceiros ­— os DIs, principais balizadores da renda fixa —, têm enfrentado uma montanha-russa, em especial entre os contratos mais longos, em reflexo com as tensões geradas pela ingerência política na Petrobras e com os impactos econômicos da tragédia no Rio Grande do Sul.

Soma-se a isso o novo avanço dos yields dos Treasuries no exterior. Na quarta-feira (22), a taxa do contrato de DI para janeiro de 2025 subiu de 10,355% do ajuste anterior para 10,395%; a do DI para janeiro de 2026 avançou de 10,655% para 10,78%; a do DI para janeiro de 2027 saltou de 11,005% para 11,145% e a do DI para janeiro de 2029 escalou de 11,495% para 11,62%.

Nos bastidores do mercado, as preocupações em torno da governança da Petrobras continuaram influenciando os números após a saída do CEO Jean Paul Prates e a nomeação de Magda Chambriard. Apesar do anúncio ter sido feito na terça-feira, os desdobramentos, como a demissão de 20 profissionais vinculados ao executivo, ainda estavam sendo digeridos.

Não por acaso, incertezas sobre o futuro da estatal persistem. “Hoje, com poucos dados divulgados, muitos players estão questionando sobre a situação da Petrobras, a mudança de pessoal e a questão de compliance da empresa”, disse Lais Costa, analista da Empiricus Research em uma reportagem da Reuters. “Devido à escassez de informações, esses aspectos acabam exercendo mais pressão”, afirmou.

Além disso, a cautela em relação aos desdobramentos da tragédia causada pelas chuvas no sul do Brasil permanece. Embora os impactos na inflação possam ser menores, o mercado está preocupado com suas consequências no Produto Interno Bruto (PIB) e, especialmente, nas contas do governo. Em sessões anteriores, a cautela em relação à situação fiscal já havia influenciado as taxas de prazo mais longo.

3,7%
é a taxa de inflação prevista pelo mercado (Focus) para 2024, diante da meta de 3% ao ano estabelecida pelo CMN

72%
de chances de o Copom interromper o ciclo de corte na taxa de juros

Já no cenário internacional, os rendimentos dos Treasuries mantiveram-se em alta durante a tarde, o que também impulsionou as taxas futuras no Brasil, principalmente nos contratos a partir de janeiro de 2026. O contrato de DI para janeiro de 2025 permaneceu praticamente estável, refletindo a expectativa majoritária de manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 10,50% ao ano na reunião de junho do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.

Na semana passada, uma entrevista do presidente do BC, Roberto Campos Neto, ao Estadão também teve repercussão no mercado. Campos Neto afirmou que não poderia antecipar novos cortes na Selic e defendeu a prerrogativa da autarquia de mudar sua orientação futura, se necessário. Ele ressaltou a importância de “tempo, serenidade e calma” para avaliar como as variáveis irão se desenrolar até a próxima reunião.

No entanto, os impactos das declarações de Campos Neto sobre os preços foram mais evidentes no mercado de câmbio. A queda do dólar em relação ao real foi amplamente atribuída aos comentários do presidente do BC. O rendimento do Treasury de dez anos, uma referência global para decisões de investimento, subiu cinco pontos-base, para 4,422%.

DECLARAÇÕES

No mercado brasileiro, os agentes financeiros também analisaram atentamente as declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, feitas durante sua participação na Comissão de Finanças e Tributação na Câmara dos Deputados. Haddad expressou sua visão sobre a meta de inflação de 3% no país, a qual ele considerou “inimaginável” e “extremamente desafiadora”. É importante destacar que esses comentários foram feitos em um contexto em que Haddad elogiava a atual trajetória da inflação no Brasil e afirmava que, apesar da dificuldade em alcançar a meta, o objetivo estava sendo alcançado com sucesso.

As declarações de Haddad ecoaram nos círculos financeiros e acabaram influenciando os preços dos ativos. O dólar subiu 0,78%, a R$ 5,1563. Em discussões informais entre economistas em grupos privados, foi sugerido que o “ponto focal” a ser perseguido pelo Banco Central seria uma inflação de 4%, o que está ainda mais distante do centro da meta estabelecida em 3%, assim como das expectativas atuais de inflação para 2025, conforme indicado pelo Focus (3,74%).

De acordo com as análises do mercado de opções digitais do Comitê de Política Monetária (Copom), há uma probabilidade de 72% de o Banco Central interromper os cortes de juros na próxima reunião em junho, em comparação com uma probabilidade de 25,5% de um corte de 0,25 ponto percentual.