Economia

Agro ameaça o PIB e a balança comercial; saiba os motivos

Inundação das lavouras gaúchas deve reduzir a produção de alimentos, atingir as exportações e afetar a economia

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Colheitas de arroz, soja e milho são algumas das mais afetadas pelas chuvas no estado (Crédito: Divulgação )

Por Jaqueline Mendes

RESUMO

• Agronegócio deve ser a atividade econômica mais afetada pelas enchentes no Rio Grande do Sul
• Aalém dos danos diretos, prejuízos do agro devem ser amplificados em razão dos problemas de logística
• Armazenamento e transporte afetam tanto o escoamento da safra, como impedem a chegada de insumos

Arroz, trigo, milho, aveia… Mesmo que nem todos saibam, grande parte dos alimentos sobre a mesa dos brasileiros é produzida no Rio Grande do Sul, e que hoje tem suas lavouras destruídas pelas inundações do estado ou estão debaixo d’água. Até mesmo a cevada que abastece 25% da demanda das cervejarias do País tem nacionalidade gaúcha. No caso do arroz, o percentual chega a 71%, segundo cálculo da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Isso ajuda a explicar a fatia de 12,6% do Rio Grande do Sul no PIB do agronegócio brasileiro.

Todos esses números sinalizam que o agronegócio deve ser a atividade econômica mais afetada pelas enchentes no Rio Grande do Sul.

Um relatório produzido pelo Bradesco projeta que a tragédia provocará uma retração de 3,5% no agronegócio brasileiro neste ano.

Com isso, os preços dos alimentos em todo País devem ser pressionados em decorrência das perdas da safra gaúcha.

Mesmo com autorização do governo para importação emergencial de arroz, para evitar desabastecimento nacional, é muito provável que os alimentos empurrem a inflação para cima.

Afinal, além do arroz, o Rio Grande do Sul também é um dos maiores produtores de soja, trigo e carnes. A sorte — se é que existe alguma neste cenário — é que o estado está no fim da colheita de verão e cerca de 70% da soja e 80% do arroz já foram colhidos.

A isenção das tarifas de importação foi aprovada pelo Comitê Executivo de Gestão (Gecex) da Câmara de Comércio Exterior (Camex), durante reunião extraordinária na segunda-feira (20). “Ao zerar as tarifas, buscamos evitar problemas de desabastecimento ou de aumento do preço do produto no Brasil, por causa da redução de oferta”, disse o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin.

A redução a zero das tarifas vale até 31 de dezembro deste ano. A Secretaria de Comércio Exterior do MDIC (Secex) pode prolongar o período de vigência, se considerar necessário. O governo pretende importar até 1 tonelada de arroz para abastecer o mercado e assegurar para o consumidor final o preço de R$ 20 para o pacote de 5 quilos de arroz, na importação do produto.

Bradesco diz ser cedo para fazer a mensuração exata dos impactos das chuvas nos campos (Crédito:Divulgação )

EFEITOS

Pelas contas do Bradesco, na hipótese que metade do que não foi colhido tenha sido perdido nas lavouras por causa do dilúvio, 800 mil toneladas de arroz e 3,2 milhões de toneladas de soja serão perdidas neste ano, o que deve representar redução de 7,5% da produção de arroz e 2,2% na de soja. O relatório destaca que projeções são conservadoras, já que ainda não se sabe a dimensão das perdas nas lavouras gaúchas, além de pastos e rebanhos. O estado foi responsável por 12% dos abates de suínos e 9,5% dos abates de frangos em 2023.

Segundo o Bradesco, o impacto do desastre sobre o PIB nacional deve ficar de 0,2 a 0,3 ponto percentual. A queda também pode colocar em xeque o crescimento econômico de 2% do Brasil previsto em 2024. Analistas estimam que o PIB do Brasil terá crescimento de 2,05% em 2024, segundo o Boletim Focus, do Banco Central (BC). Portanto, uma redução de 0,3 ponto percentual levaria a expansão do PIB para algo perto de 1,75%, o que é uma desaceleração em relação a 2023, quando o Brasil avançou 2,9%.

3,5%
é a estimativa do Bradesco de redução do PIB do agro com a devastação de plantações no estado

Tudo justifica as previsões de que os estragos causados pelas chuvas no Rio Grande do Sul vão contaminar a balança comercial deste ano. O estado foi o 6º no ranking dos que mais contribuíram para o superávit da balança comercial em 2023. Os gaúchos responderam por US$ 8,6 bilhões do saldo de US$ 98,9 bilhões registrado no ano passado, o que equivale a 8,6% do total. Os dados são do MDIC. O estado também é o 6º que mais exporta e também o 6º que mais importa. Embarcou para o exterior US$ 22,3 bilhões em 2023 (6,6% do total do País). Importou US$ 13,8 bilhões (5,7%).

Os prejuízos do agronegócio devem ser amplificados em razão dos problemas de logística, que afetam tanto o escoamento da safra, assim como impede a chegada de insumos. Os obstáculos devem afetar principalmente os segmentos de laticínios e carnes, que são mais perecíveis. O cenário deve se refletir diretamente nos preços dos alimentos. O Bradesco enfatiza que em 2008, quando um ciclone subtropical atingiu o Rio Grande do Sul, os preços do arroz subiram cerca de 40% no atacado e 20% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em um mês.