Por que os dólares estão indo embora? Entenda
O País tem registrado déficits em suas transações internacionais e o saldo negativo supera US$ 35,2 bilhões em 12 meses, o equivalente a 1,6% do PIB. O resultado é um sinal de alerta para o câmbio e a inflação
Por Jaqueline Mendes
As incertezas fiscais do País, o aumento da remessa de lucro das multinacionais para suas matrizes e a aversão dos investidores ao risco têm mais tirado do que trazido dólares da economia brasileira. Pelos cálculos do Banco Central (BC), as contas externas registraram um saldo negativo em abril, atingindo US$ 2,516 bilhões. No mesmo mês de 2023, o déficit nas transações correntes, que incluem a compra e venda de mercadorias e serviços e transferências de renda com outros países, foi de US$ 247 milhões.
• A deterioração anual é atribuída também à redução do superávit comercial, que diminuiu US$ 578 milhões. Ou seja, o Brasil está aumentando as importações em uma velocidade maior do que as exportações.
• Contribuindo para o déficit nas transações correntes, os déficits em serviços e renda primária (pagamento de juros e lucros e dividendos de empresas) aumentaram em US$ 844 milhões e US$ 1,1 bilhão, respectivamente.
• Por outro lado, a renda secundária passou de déficit para superávit, com uma variação de US$ 249 milhões.
No período de 12 meses encerrados em abril, o déficit nas transações correntes foi de US$ 35,271 bilhões, representando 1,57% do Produto Interno Bruto (PIB), comparado ao saldo negativo de US$ 33,002 bilhões (1,48% do PIB) no mês anterior. Em relação ao mesmo período encerrado em abril de 2023, houve uma redução significativa, quando o déficit foi de US$ 50,646 bilhões (2,52% do PIB).
Segundo Fernando Rocha, chefe do Departamento de Estatísticas do BC, as transações correntes apresentavam uma tendência robusta de redução dos déficits nos últimos 12 meses, que se inverteu a partir de março. Ele destacou que o déficit externo é baixo para os padrões da economia brasileira e é financiado por capitais de longo prazo, principalmente por investimentos diretos no País, que são fluxos de boa qualidade. “Com isso, temos as condições de financiamento da economia brasileira”, afirmou.
Os dados de Investimento Direto no País (IDP) em abril somaram US$ 3,867 bilhões, um aumento de 26% em relação aos US$ 3,059 bilhões de abril de 2023. No acumulado de janeiro a abril de 2024, o déficit nas transações correntes foi de US$ 17,310 bilhões, contra um saldo negativo de US$ 12,867 bilhões no primeiro quadrimestre de 2023.
As exportações de bens totalizaram US$ 31,356 bilhões em abril, um aumento de 11,7% em relação aos US$ 28,074 bilhões no mesmo mês de 2023. As importações somaram US$ 24,558 bilhões, com uma elevação de 18,6% em comparação a abril do ano anterior, quando foram US$ 20,699 bilhões.
Sobre as importações, que reduziram o superávit comercial, Rocha explicou que o aumento na quantidade de bens importados foi impulsionado por criptoativos, que são caracterizados como bens e contabilizados na balança comercial. Em abril, foram importados US$ 1,7 bilhão em criptomoedas, um aumento significativo em relação aos US$ 763 milhões registrados em abril de 2023.
Em abril:
27%
Foi alta do déficit para serviços
12%
Foi o avanço das vendas externas
18%
Foi a alta na importatção de bens
De acordo com Rocha, a popularização desses ativos justifica o aumento. “Embora criptoativos não sejam mais uma novidade, ainda estão ganhando mercado”, disse. “Com o tempo, as pessoas estão aprendendo mais sobre como usar criptomoedas, sobre as transações que podem fazer, novos serviços surgem, e há mais formas de investimento”, acrescentou.
Com esses resultados, a balança comercial fechou com um superávit de US$ 6,798 bilhões no mês passado, ante um saldo positivo de US$ 7,376 bilhões no mesmo período de 2023. “A soma de exportações e importações dá dimensão da abertura comercial brasileira. É a maior corrente de comércio registrada”, destacou Rocha.
SERVIÇOS
O déficit na conta de serviços —que inclui viagens internacionais, transporte, aluguel de equipamentos e seguros, entre outros – somou US$ 3,985 bilhões em abril, comparado aos US$ 3,142 bilhões no mesmo mês de 2023, um crescimento de 26,9%. Segundo Rocha, o déficit em serviços vem aumentando este ano e, no mês passado, foi o principal responsável pelo aumento do déficit das transações correntes.
Ele acrescentou que a conta de serviços está se diversificando; enquanto despesas com transporte e viagens internacionais tradicionalmente predominavam, nos últimos meses, rubricas associadas a serviços digitais, operações por plataformas e pagamento de licenças de softwares têm ganhado importância, embora ainda menores em comparação ao transporte.
Na comparação anual, a maior alta na conta foi no déficit em serviços de propriedade intelectual, que cresceram 175%, somando US$ 889 milhões. Esses números afetaram também as reservas internacionais do País. O estoque atingiu US$ 351,599 bilhões em abril, uma queda de US$ 3,409 bilhões em comparação ao mês anterior.