“Com IA, podemos tornar os serviços de saúde mais eficientes”, diz Rita Sharma, da Pager Health
Para a diretora executiva da plataforma americana que une serviços de saúde e tecnologia, “Inteligência Artificial na saúde pode impulsionar a democratização do setor”
Por Letícia Franco
Na saúde pública, lentidão para conseguir consultas, exames ou cirurgias no Sistema Único de Saúde (SUS). Na saúde privada, custos crescentes e rompimentos unilaterais de contratos. Na última terça-feira (4), a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) autorizou reajuste máximo de 6,91% no preço de planos de saúde individual e familiar. É neste cenário que a Pager Health, plataforma americana que une serviços de saúde e tecnologia, chega ao Brasil com o objetivo de integrar práticas tradicionais e recursos digitais para melhorar o setor, reduzindo custos e otimizando resultados. Porém, há desafios para conquistar o mercado. Entre eles, o grande número de brasileiros que dependem exclusivamente da rede pública, cerca de 150 milhões, contra 50 milhões do setor privado, além de enfrentar um mercado altamente competitivo, já que 61,7% das 1,3 mil healthtechs da América Latina estão no Brasil. Com mais de 20 anos de experiência em saúde e liderança comunitária, a indiana Rita Shamar, diretora executiva de produtos da Pager Health, afirma que uma solução digital conectada é o futuro da saúde — e a grande aposta da empresa, que já atende mais de 30 milhões de usuários nos Estados Unidos, México e Colômbia. Agora é a vez do Brasil.
Quais são as tecnologias da Pager Health?
Nascemos em 2014 com o propósito de oferecer saúde de forma conectada por meio de uma plataforma de colaboração e engajamento entre pacientes, provedores e profissionais de saúde. Usamos tecnologia integrada, Inteligência Artificial e serviços de concierge para ajudar seguradoras, operadoras e empregadores a aumentar o desempenho total e envolvimento do usuário, com uma jornada de atendimento personalizada. Assim, são oferecidos constantes produtos para os beneficiários, como navegação de cuidados virtuais sob demanda, programas de bem-estar e de engajamento.
Como a plataforma pode ajudar a reduzir os custos de saúde?
A economia de custos ocorre de diversas maneiras. No caso das consultas virtuais, há uma economia de US$ 211 por atendimento, uma referência nos Estados Unidos. Além disso, a integração de sistemas aumenta a eficiência ao mesmo tempo em que diminui os gastos, sem a necessidade de contratar tecnologias e empresas diferentes. Tudo pode ser acessado em uma única plataforma.
E como o uso da Inteligência Artificial pode potencializar os resultados?
Acredito que o uso da Inteligência Artificial na saúde pode impulsionar a democratização do setor, para torná-lo realmente disponível para as pessoas e, na nossa plataforma, utilizamos seus recursos principalmente para otimizar tempo e gerar mais assertividade. Seja com bots de triagem, telemedicina ou canais de comunicação mais ágeis. Com a IA e também outras tecnologias, podemos tornar os serviços de saúde mais eficientes se comparados aos sistemas atuais que são marcados pela alta demanda, seja nos sistemas privados ou públicos.
Depois de Estados Unidos, México e Colômbia, a empresa chega ao Brasil. Quais as oportunidades e desafios por aqui?
São muitos. Isso é um fato. Eu estive no Brasil na última semana para reuniões com representantes de planos de saúde nas quais eles relataram alguns problemas como a sinistralidade médica, porque seus custos estão aumentando e não há alívio para isso. Então, acredito que a disponibilidade da nossa plataforma de serviços integrados pode melhorar esse cenário. Além disso, os atendimentos virtuais são alternativa para alguns casos clínicos, o que pode aliviar a superlotação em hospitais, por exemplo. Existem diversas oportunidades no País. É um mercado potencial para ampliar o número de beneficiários. Hoje, já atendemos mais de 30 milhões de pessoas.
A maior parte dos brasileiros, cerca de 75% da população, usa exclusivamente o SUS. Isso é um problema para a plataforma?
Olhamos para a rede pública do País como uma oportunidade. Esperamos ter uma parceria com o governo nos próximos anos e assim ajudar uma grande parcela da população, já que o Brasil, com seus mais de 200 milhões de habitantes, dos quais 150 milhões se valem do SUS e 50 milhões contam com saúde suplementar, tem que perseguir de forma consistente, atendimento de qualidade para o maior número de pessoas, bem como atuar com mais força na prevenção de modo a obter melhores desfechos e custos menores. O digital é a solução.
E as parcerias no setor privado?
Já temos parcerias globais e estamos prospectando negócios locais também. No primeiro momento, a nossa parceria já estabelecida com o Google é uma importante ferramenta para nossa atuação no Brasil, assim como nos outros países. Atualmente, estamos usando as estruturas tecnológicas e de Inteligência Artificial do Google para construir nossos produtos. Além disso, isso nos dá uma visibilidade de mercado, atraindo clientes nos outros países e acredito que possa acontecer o mesmo no Brasil.
Como a empresa se prepara diante da alta concorrência no segmento de healthtechs?
O setor de healthtechs é muito forte na América Latina, principalmente no Brasil. Mas observo que há um número alto de plataformas menores. Já a Pager Health é uma plataforma robusta e consolidada, seja na questão de serviços ou na quantidade de usuários. São mais de 30 milhões de usuários em uma década. Isso traz muita confiança para o consumidor. Então, acredito que pode ser um ponto positivo e que diferencia nosso produto. Além disso, o uso de Inteligência Artificial e a parceria com o Google são parte da nossa estratégia de entrada no mercado. Também estamis buscando outras estratégias para captar cada vez mais clientes em todo o mundo. Queremos fazer parte de um caminho inovador para a saúde no País, por meio de boa qualidade nos serviços digitais.
Então, além dos serviços atuais, há novidades que serão disponibilizadas para o mercado brasileiro?
Neste primeiro momento, os produtos são essencialmente os mesmos em termos de navegação de atendimento virtual e telemedicina. Mas é importante se adaptar à realidade local e oferecer nossos serviços nos canais mais usados no País, pois muitos clientes não querem ir para um aplicativo, por exemplo. Então, temos a oportunidade de conquistar mais clientes com a inclusão do WhatsApp, uma das ferramentas mais usadas pelos brasileiros. Para isso, a segurança é fundamental. Os clientes podem começar o contato pelo WhatsApp e depois levamos para outro canal. Vai ser um aplicativo muito importante para crescermos no Brasil.
Mas há o desafio de ser uma tecnologia acessível para todas as idades, certo?
O objetivo da digitalização é melhorar os resultados médicos e aumentar a eficiência. Portanto, se pensarmos em pessoas com mais de 60 anos, elas certamente têm condições crônicas, como diabetes e hipertensão. É um público muito importante e por isso o acesso precisa ser fácil, acessível. O WhatsApp e o SMS, por exemplo, são meios mais simples para a primeira etapa de atendimento para pessoas acima de 60 anos. Nos países em que já trabalhamos, observamos alto envolvimento de idosos depois que optamos por esses canais. Além disso, eles podem continuar em casa e receber atendimento. É muito prático e fundamental, traz mais conveniência.
A Pager Health pretende alcançar outros mercados na região? Quais são os planos na América Latina?
Nós temos um grande compromisso com o mercado da América Latina, onde há necessidade de digitalizar processos no setor de saúde. É necessário ter sistemas de saúde públicos e privados com mais eficiência. Vamos continuar a expandir e fortalecer nos mercados atuantes: Colômbia, México e agora o Brasil. Mas temos uma equipe que avalia novos negócios e tudo indica que vamos adentrar em mais mercados. Para isso, estamos atentos às necessidades de cada localidade, como regulações e principais dificuldades de atendimentos.