Compartilhamento de aeronaves faz a Avantto voar alto
Pioneira no compartilhamento de aviões e helicópteros no Brasil, Avantto já opera frota de 60 aeronaves em cotas que partem de US$ 500 mil e TEM acordo com a embraer para oferecer equipamentos de mobilidade aérea urbana eletrificada
Por Celso Masson
Comprar um helicóptero custa muito dinheiro. Um avião, mais ainda. Mantê-los também não é nada barato. Para otimizar esse tipo de investimento, a NetJets lançou, ainda na década de 80, o conceito de compartilhamento de aeronaves. Deu tão certo que a empresa recebeu aporte da Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, e hoje opera uma frota de quase 1 mil equipamentos de voo nos Estados Unidos e na Europa.
O modelo da NetJets serviu de inspiração para empresas de todo o mundo, inclusive do Brasil. Por aqui, a primeira a aderir à ideia foi a Avantto, que compartilha helicópteros desde 2011 e hoje atua em três linhas de negócio. A principal delas é o compartilhamento, por meio da Avantto Share.
Há também um pilar dedicado à gestão de aeronaves privadas, a Avantto Single Ownership, e outro que atua na compra e venda de aeronaves.
Segundo o CEO da Avantto, Rogério Andrade, essa divisão da empresa “complementa os movimentos naturais de aeronaves entrando e saindo do sistema”. Recentemente, a empresa adquiriu um jato Phenom 100 de um cliente, já com parte das cotas vendidas.
“Não vendemos aeronaves, mas sim tempo e mobilidade.”
Rogério Andrade, CEO da Avantto
Carioca radicado em São Paulo, o executivo acumula duas décadas no setor de aviação. Com a Avantto, opera hoje 60 aeronaves, entre compartilhadas e administradas, o que gera um faturamento anual da ordem de R$ 160 milhões.
“Estamos projetando um pouco acima disso para este ano”, disse Andrade à DINHEIRO..
Motivos para superar as metas não faltam. A começar pela vantagem financeira para o cotista. Como os helicópteros podem ser divididos em até 20 frações, a economia é de 95% em relação ao investimento no ativo.
Os custos fixos também são rateados entre os proprietários. Para quem voa mais e quer uma cota de 10% de um helicóptero modelo Agusta, por exemplo, o custo inicial da fração é de US$ 500 mil, com direito a voar dez horas por mês ou 120 horas por ano.
O cotista paga ainda um valor mensal de R$ 46.697 para manter o aparelho, o que inclui a taxa de administração pela qual a Avantto é remunerada. E a conta não para aí.
É preciso pagar mais R$ 7.908 por hora de voo. Como a maior parte desse custo vem do combustível, essa é a única despesa que não varia muito entre quem tem apenas uma cota ou um Agusta inteiro.
No caso da manutenção, segundo Andrade, a economia para o cotista é de cerca de 70%. No caso de um Phenom 300, avião fabricado pela Embraer e cuja autonomia permite voar sem escalas para abastecimento de São Paulo a Manaus, o valor de aquisição da cota para dez horas de voo mensais (neste caso, um sexto da aeronave) é de US$ 1,75 milhão, mais R$ 52.970 por mês de manutenção e R$ 12.469 por hora voada.
Parece muito? Então imagine arcar com tudo isso sem dividir a conta com ninguém.
Mesmo que a redução de custo seja um atrativo importante na atração de clientes, Andrade cita outros argumentos que considera ainda mais valiosos.
“Muita gente pensa que a única razão pela qual alguém vai escolher o compartilhamento é econômica, mas nosso principal produto é o tempo”, afirmou, referindo-se a mais tempo para fazer negócios nas mesmas horas da semana e mais tempo para ter momentos de lazer com a família.
“Mesmo quem tem uma aeronave inteira para si não necessariamente consegue utilizá-la 100% do tempo que precisa.”
Rogério Andrade, CEO da Avantto
Há as manutenções obrigatórias, as folgas e as férias da tripulação. Na Avantto, uma reserva de helicóptero pode ser feita com apenas seis horas de antecedência. De avião, 24 horas.
“Você terá sempre a aeronave da qual possui participação, uma do mesmo modelo ou eventualmente até uma superior a do seu custo. No final, sempre irá voar”.
Além da otimização do tempo, há a vantagem de eliminar toda a burocracia, seja com a contratação do piloto, da logística em relação às exigências da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), da contratação de seguro e outras etapas para manter a aeronave — e, evidentemente, voar — que demandam tempo e dinheiro.
Combos
A percepção das vantagens para o cliente faz com que muitos sejam cotistas de um helicóptero e de um avião. “Ele soma o direito de uso de ambos e passa a usar as aeronaves na combinação que quiser”, disse Andrade.
Por exemplo, um sexto do Phenom 300 (120 horas por ano) e um vigésimo do Agusta (outras 60 horas). “Essas 180 horas você vai compondo como quiser, com a flexibilidade que precisar”.
Segundo ele, a pandemia mudou os hábitos de deslocamento e teve impacto sobre a aviação executiva, especialmente a compartilhada.
“A gente já vinha passando por um movimento de mudança de mentalidade, reduzindo a desconfiança em relação a esse modelo de negócio. Hoje somos os maiores operadores Embraer na América Latina para a aviação privada e temos um acordo assinado para um negócio de mobilidade aérea urbana eletrificada.” Mais um equipamento para entrar no combo, futuramente.