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Gigante de tecnologia SAP avança como foguete, e Brasil é uma das principais turbinas

Crédito: Claudio Gatti

'Estamos crescendo muito, tanto com empresas mais tradicionais, que estão migrando seus sistemas, como com novos clientes que já nascem nesse modelo de nuvem", diz Adriana Aroulho, presidente da SAP Brasil (Crédito: Claudio Gatti)

Por Hugo Cilo

RESUMO

• Os negócios da companhia alemã no Brasil crescem acima da média do restante do mundo.
• Brasil é destaque nos balanços globais por 22 trimestres consecutivos
• O plano é consolidar a liderança em cloud e Inteligência Artificial para empresas de todos os tamanhos

 

Na infância e na adolescência, algumas das maiores fixações da bailarina Adriana Aroulho eram executar um perfeito fouetté — o salto giratório mais difícil do balé — e um grand jeté en avant, também um dos mais complexos saltos da modalidade. Mas foi na idade adulta, como presidente da SAP no Brasil, que Adriana deu seu maior salto profissional. No comando da operação brasileira desde agosto de 2020, a executiva ajudou a colocar o País em posição de destaque nos resultados da gigante alemã de tecnologia.

• Nos últimos 22 trimestres consecutivos, o Brasil tem brilhado no balanço global da companhia, que atingiu faturamento recorde de US$ 33,8 bilhões no ano passado, alta de 7,61% sobre 2022.

• Nesse mesmo período, a SAP Brasil cresceu acima de dois dígitos, próximo a 20%, ritmo que vem se repetindo há mais de cinco anos.

“O País está indo muito bem. A velocidade da adoção de Inteligência Artificial e cloud no País tem superado todos os mercados em que atuamos”, afirmou a presidente, em entrevista exclusiva à DINHEIRO. “Estamos crescendo muito nos últimos anos, tanto com empresas mais tradicionais, que estão migrando seus sistemas, como com novos clientes que já nascem nesse modelo de nuvem.”

O ritmo de expansão dos negócios da SAP no Brasil é diretamente proporcional à velocidade com que as empresas brasileiras vêm adotando novas tecnologias para ganhar eficiência e produtividade.

A proliferação das fintechs, a multiplicação da indústria 4.0, a digitalização do varejo e a mecanização do agronegócio, entre tantos outros exemplos, representam oportunidades de geração de receita para companhias de tecnologia como a SAP.

Não só porque as empresas querem, mas porque elas precisam — pelo menos para as que pretendem continuar utilizando as ferramentas da SAP.

A partir de 2030, quem estiver fora da nuvem computacional não receberá mais atualizações dos softwares da companhia alemã. Será como ter um iPhone 15 top de linha nas mãos, com um sistema operacional de um iPhone 5, fora de linha e que já não atualiza.

Por isso, a SAP estabeleceu como meta levar todos os mais de 15 mil clientes para a nuvem até 2027 — um desafio e tanto, já que implica em investimentos e capacitação de mão de obra.

Ou seja, todas as empresas que possuem softwares no modelo de licenciamento precisarão migrar a base de dados para um centro monitorado pela SAP em um modelo de assinatura, não mais pelo pagamento único da compra de licença de softwares para instalação nos computadores. No mundo, a SAP possui atualmente mais de 425 mil empresas como clientes, em 180 países.

(Divulgação)

“Os resultados são mais uma prova de que entramos na próxima fase da transformação.”
Christian Klein, CEO global da SAP

O gigantesco desafio no horizonte da SAP é também uma oportunidade imensa de captação de novos contratos. Atualmente, 70% dos clientes da SAP no Brasil não estão na nuvem, o que revela o potencial de crescimento da companhia no País. Além de convencer grandes empresas a migrar o quanto antes para a nuvem — o que não exige grande esforço de convencimento, já que as grandes sabem da importância desse movimento —, a companhia pretende atrair pequenas e médias empresas para suas tecnologias.

Faz parte dessa estratégia o lançamento de versões do sistema operacional em nuvem pública de grandes provedores como AWS, Google e Microsoft. E a SAP deve usar como cartão de visita a experiência das grandes empresas, em termos de ganho de eficiência e redução de custos, para convencer as menores. No último trimestre do ano passado, companhias como o frigorífico BRF, o laboratório EMS, a construtora MRV, a papeleira Klabin e a varejista Lojas Renner foram algumas das gigantes que adotaram a SAP para migrar seus dados para a nuvem.

Embora a companhia não revele seus números por região, sabe-se que o ritmo de crescimento tem sido turbinado pela nuvem em todo o mundo.

• A receita da SAP com softwares e serviços de cloud somou 3,5 bilhões de euros nos três últimos meses do ano passado, avanço de 16% na comparação com igual período do ano anterior.

• O volume representou 45,5% da receita total da companhia no período.

• Já o faturamento com o modelo tradicional de vendas de licenças de software foi de 335 milhões, um recuo de 17% contra o resultado do terceiro trimestre de 2022.

• A receita com serviços de suporte a software, de 2,9 bilhões, caiu 5%, na mesma base comparativa.

“Os resultados são mais uma prova de que entramos na próxima fase da nossa transformação”, afirmou Christian Klein, presidente global da SAP, ao apresentar os resultados. “Aceleramos o crescimento da nuvem em todo o nosso portfólio e expandimos significativamente nossas margens brutas de nuvem.”

(Divulgação)
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(Divulgação)

Fundada na Alemanha em 1972, a SAP chegou ao Brasil há três décadas e assumiu a liderança em seu segmento no País

Em paralelo ao avanço da nuvem, a SAP aposta na popularização de seu robô de Inteligência Artificial, o Joule. A novidade, lançada em setembro de 2023, é um copiloto de IA generativa baseado em linguagem natural. O Joule tem sido incorporado em todo o portfólio empresarial da SAP na nuvem para apresentar insights proativos e contextualizados em todas as soluções.

PRODUTIVIDADE

O Joule, segundo a empresa, será incorporado a aplicações da SAP, de RH e finanças a cadeia de suprimentos, compras e experiência do cliente, assim como na SAP Business Technology Platform ­— principal hub de serviços da companhia.

Assim como uma Alexa (Amazon), um Einstein (Salesforce) ou uma Siri (Google), o Joule se propõe a transformar a experiência dos usuários de soluções da SAP.
Os funcionários simplesmente fazem perguntas ou apresentam um problema a ser resolvido, em linguagem simples;
 e recebem respostas inteligentes extraídas da riqueza de dados de negócios, textos, imagens e insights de todo o portfólio da SAP e de fontes de terceiros, mantendo o contexto e sem vieses.

A recém-lançada Inteligência Artificial da SAP promete aumentar em 20%, em média, a produtividade das empresas (Crédito:Norbert Steinhauser)

Na visão da presidente da SAP no Brasil, o Joule vai turbinar a produtividade das empresas, ampliar a eficiência e reduzir custos. “O Joule aumenta em mais de 20% a produtividade nas áreas em que é aplicado. Isso sem falar no ganho de qualidade”, afirmou Adriana. “Por trás da IA, temos sempre o humano. Brincamos que o nosso Joule é como uma joia, porque acreditamos que é uma grande joia para as empresas”, acrescentou.

A julgar pela confiança e otimismo no crescimento da operação brasileira da SAP, é com Inteligência Artificial e na nuvem que Adriana Aroulho planeja seus próximos saltos.

Inteligência Artificial

O Joule, copiloto de IA generativa baseado em linguagem natural, promete transformar a maneira como os negócios são realizados.
O Joule será incorporado em todo o portfólio empresarial da SAP na nuvem para apresentar insights proativos e contextualizados em toda a amplitude e profundidade das soluções da SAP assim como fontes de terceiros.
Ao classificar e contextualizar rapidamente os dados de vários sistemas para obter informações mais inteligentes, o Joule ajuda as pessoas a trabalharem mais rapidamente e a obterem melhores resultados comerciais de uma forma segura e em acordo com normas de compliance.

Algumas das grandes migrações para a nuvem em 2023

MRV
A maior construtora da América Latina está migrando sua versão atual de ERP com um banco de dados enorme e em constante crescimento para a nuvem. Ao adotar os mais recentes avanços em ERP, a MRV se adapta às novas demandas da construção civil.

Grupo Edson Queiroz
Conglomerado está simplificando suas operações para alcançar integração implementando um conjunto personalizado de soluções SAP. O SAP S/4HANA vai centralizar os processos financeiros e contábeis para todo o grupo.

Klabin
Maior produtora e exportadora de papéis para embalagens do Brasil, com 22 fábricas no País e uma na Argentina, firmou parceria com a SAP para impulsionar a sua transformação digital e visão de maior agilidade e compromisso com a conformidade.

BRF
Uma das líderes globais em alimentos fortalece a parceria com a SAP ao acertar a migração de sua plataforma de TI para a nuvem. A BRF optou por implementar o RISE with SAP para digitalizar suas operações em 35 fábricas e 22 centros de distribuição.

EMS
Líder no mercado farmacêutico brasileiro está fazendo migração de sua plataforma de gestão para o RISE with SAP com o objetivo de impulsionar sua transformação digital. A transição para a nuvem vai modernizar as operações e melhorar a escalabilidade.

Randoncorp
Um dos principais conglomerados brasileiros de empresas automotivas adotou o RISE with SAP para apoiar sua estratégia de fusões e aquisições e plano de crescimento. A holding pretende unificar e padronizar o seu sistema de TI sob uma única plataforma.

Lojas Renner
A varejista está redefinindo a experiência de compra com um investimento estratégico em uma plataforma omnichannel, apoiada pela SAP Commerce Cloud. O objetivo é reduzir a distância entre o varejo físico e digital e aprimorar a experiéncia do cliente.

Ília
Empresa brasileira de tecnologia especializada em soluções digitais para retenção e conversão de clientes adotou o GROW with SAP para apoiar seu ambicioso plano de expansão e aumentar substancialmente a receita nos próximos dois anos.

ENTREVISTA
Adriana Aroulho presidente da SAP Brasil

“A Inteligência Artificial precisa ser confiável, relevante e responsável”

Há muito tempo se fala em nuvem e IA nas empresas, como se fossem a reinvenção da roda. O que é fato e o que é euforia nisso tudo?
É verdade que o advento da nuvem é algo que já vem ocorrendo gradativamente há algum tempo, mas de uns quatro anos para cá a coisa começou a avançar a passos mais rápidos. Muito rápidos. Isso é bem positivo. A migração para a cloud [armazenamento de dados em nuvem] possibilita oferecer a tecnologia como serviço, não só como produto. Isso traz muita flexibilidade para as empresas. Temos percebido um ganho muito grande de produtividade nas empresas. Como somos uma companhia de tecnologia B2B, ou seja, a gente serve outras empresas, estamos conseguindo enxergar esses avanços importantes bem de perto.

E a Inteligência Artificial?
Trata-se de uma incrível ferramenta de ganho de produtividade. O recém-lançado Joule, nosso novo assistente de IA generativa, aumenta em mais de 20% a produtividade nas áreas em que é aplicado. Isso sem falar no imenso ganho de qualidade. Mas é importante dizer que dentro da SAP temos como premissa o que chamamos de ‘3Rs’: em inglês, reliable, relevant e responsable. Ou seja, acreditamos que a Inteligência Artificial é importante para o futuro das empresas, mas precisa ser confiável, relevante e responsável. Por trás da IA, temos sempre o humano. Brincamos que o nosso Joule é como uma joia, porque acreditamos que é uma grande joia para as empresas. Uma joia que vai fazer toda a diferença para os negócios.

O que, na prática, isso representa nas estratégias?
Representa que queremos ter muitas parcerias globais para desenvolver mais soluções integradas com Inteligência Artificial. Queremos ser o player número um de business AI. Estamos no Brasil há 30 anos e temos uma base fiel de grandes clientes. O foco agora é poder levar nossas tecnologias para pequenas e médias empresas.

Como o Brasil está em termos de maturidade e adoção dessas tecnologias?
Pelos números da SAP, está indo muito bem. A velocidade da adoção de Inteligência Artificial e cloud no País tem superado todos os mercados em que atuamos. O Brasil tem sido um destaque da SAP, citado nos últimos 22 trimestres como uma operação de crescimento de dois dígitos na nuvem e de adoção de tecnologias disruptivas.

Que perfil de empresa está aderindo mais à transformação digital no País?
Todo tipo de empresa. Estamos crescendo muito nos últimos anos tanto com empresas mais tradicionais, que estão migrando seus sistemas, como com novos clientes que já nascem nesse modelo de nuvem.

Qual a ambição da SAP no mercado de pequenas e médias empresas?
Já crescemos bastante nas médias empresas. Agora, temos solução para pequenas empresas em crescimento, começando com uma nuvem pública mais padronizada e podendo escalar. São soluções mais customizadas e ajustadas às realidades de cada empresa.

Quais são os desafios para o crescimento da SAP no Brasil?
Sem dúvida, um dos principais desafios é a falta de profissionais de tecnologia. Estamos investindo em programas de formação e parcerias para enfrentar essa questão. Mas, desde a pandemia, com o trabalho home office, concorremos com empresas do mundo todo. Então, nosso empenho tem sido atrair talentos, formar esses profissionais e tentar garantir a permanência deles na SAP. Esse desafio não é só nosso. É de todo o mercado, dentro e fora do Brasil.

(Claudio Gatti)

Quais setores da economia têm se destacado mais nos resultados da SAP?
O agronegócio é um setor de muito crescimento. Empresas familiares estão se profissionalizando, e temos grandes cooperativas buscando essa profissionalização conosco. Acredito que muito do potencial de crescimento está no campo.

Algum setor específico teve queda no País nos últimos anos?
A grande vantagem da SAP é atuar em 25 diferentes segmentos da indústria. Então, sempre há compensações. Durante a pandemia, alguns setores retraíram enquanto outros aceleraram, como o delivery alimentício, de um lado, e o varejo físico, de outro.

E quanto ao futuro, quais são os planos da SAP no Brasil?
Continuaremos investindo em tecnologia, parcerias e formação de profissionais para manter nosso crescimento e liderança no mercado.