Economia

Lula anuncia o maior Plano Safra da história e mira conciliação com o agro

Governo federal anunciou um recorde de R$ 476 milhões para o Plano Safra na tentativa de se aproximar de um setor ainda predominantemente bolsonarista. Contudo, o montante ficou abaixo do que havia sido pedido pelos agricultores

Crédito: Ricardo Stuckert

Presidente Lula fez questão de lembrar aos grandes agricultores que foi durante suas gestões e de Dilma que o setor teve os maiores planos safra (Crédito: Ricardo Stuckert)

Por Alexandre Inacio

Em um claro aceno ao agronegócio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou na quarta-feira (03) o maior Plano Safra da história. A ideia era tentar não desagradar ninguém. Foram organizados dois eventos. O primeiro foi voltado para pequenos produtores e contou com lideranças de movimentos sem-terra e de trabalhadores rurais.

A segunda cerimônia foi direcionada para médios e grandes empresários rurais, grupo em que Jair Bolsonaro encontra uma das suas maiores bases. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, foi escalado para ressaltar os feitos do governo Lula 3 ao agronegócio. Dois terços de seu discurso foram dedicados às conquistas de sua Pasta. Um terço aos detalhes do Plano Safra em si.

“As pessoas podem até não gostar de nós, mas não estamos aqui participando de um concurso de simpatia. Estamos trabalhando para que essa agropecuária continue sendo uma força na economia brasileira”, disse Fávaro. Nem Fernando Haddad escapou. Sucinto, o ministro da Fazenda lembrou que o maior Plano Safra da história estava sendo anunciado, mas fez questão de enfatizar que o segundo maior também fora feito em uma gestão de Lula.

Os afagos a Lula e a tentativa de valorizar o empenho do presidente para com o setor tinham o objetivo de minimizar críticas. Ainda que recorde e 9% maior, os R$ 476 bilhões do atual Plano Safra significam 16,5% menos do que havia sido solicitado. Na prática, a diferença foi de quase R$ 100 bilhões.


Para o ministro Carlos Fávaro, objetivo do governo é trabalhar para que o agronegócio seja a força econômica do Brasil (Crédito:Valter Campanato/Agência Brasil)

Em defesa própria, Lula disse que, possivelmente, o agronegócio nunca teve um presidente com coragem para enfrentar os “desenvolvimentistas das capitais”, que tratam de forma pejorativa o crescimento das vendas externas de commodities. “E nunca pedi para qualquer empresário agradecimento. Eu faço por obrigação, porque eu sei a importância da agricultura brasileira e o significado de vocês [empresários rurais]”, disse o presidente. E foi além. “Foram nos meus governos e no governo da Dilma, que a gente teve os maiores planos safras da história desse País”.

GRANDES

Fávaro conseguiu convencer seus pares do Planejamento e Fazenda a adicionarem R$ 36,4 bilhões ao montante da safra passada.
Assim, os médios e grandes produtores terão à disposição um total de R$ 400,6 bilhões, um incremento de 10%. Pouco mais de 73% desses recursos serão para financiar o custeio das lavouras.
Os demais 27% serão para investimentos.
No que se refere às taxas de juros, os médios produtores terão um custo de 8% ao ano nas linhas de custeio.
Já a agricultura empresarial terá que pagar um pouco mais, 12%.
Para investimentos, as taxas de variam entre 7% ao ano e 12%, de acordo com cada programa.

PEQUENOS

Os recursos para a agricultura familiar também aumentaram.
O ministro Paulo Teixeira conseguiu adicionar R$ 4,4 bilhões ao plano apresentado no primeiro ano da gestão de Lula e vai disponibilizar R$ 76 bilhões por meio do Pronaf.
O montante representa um incremento de 6,1% sobre a safra anterior.
Além de mais recursos, o custo do dinheiro ficará mais barato. Os pequenos agricultores que produzem os alimentos da cesta básica terão uma taxa de juros de 3% ao ano.
O novo índice representa um corte de um ponto percentual em comparação aos 4% cobrados dos pequenos produtores na safra passada.

Na visão de Lula, o Plano Safra 2024/25 é “exuberante”. Ele reconheceu que talvez não seja tudo o que os agricultores precisam, mas foi o melhor que pode ser feito. E deixou um recado ao agronegócio: “se formos sinceros, se formos honestos entre nós, não precisamos de um compromisso ideológico, não precisa gostar de mim. Eu certamente vou gostar de vocês, porque eu não desprezo possíveis eleitores”, disse.