Finanças

Aumento do crédito pode compensar instabilidades da economia, dizem analistas

Com dólar e juros nas alturas, governo deve apostar no aumento da oferta de financiamentos como antídoto para acelerar o crescimento econômico

Crédito:  freepik

Por Jaqueline Mendes

Duas bolas de ferro estão presas nos tornozelos da economia: juros de dois dígitos e dólar nas alturas. Ambos os fatores – é fato – irão prejudicar a performance da economia neste ano. Mas existe um antídoto para esse cenário: o crédito. O aumento da oferta de financiamentos, turbinado pelo Novo Marco das Garantias, sancionado no fim do ano passado, deve contrabalancear o crescimento econômico, de acordo com a avaliação de especialistas.

Isso porque, com a desburocratização e agilidade promovidas pelas novas regras, a oferta de crédito vai crescer gradativamente, estimulando a economia do País.

O economista Adolfo Sachsida, ex-ministro de Minas e Energia, afirma que o Marco das Garantias vai dinamizar os mercados de crédito, capital e seguros no Brasil. “As estimativas indicam que só esse novo marco vai gerar R$ 100 bilhões por ano em novas operações de crédito, nos próximos dez anos”, disse. “O benefício mais evidente é que será possível usar melhor a garantia que se dá ao banco. Então, quando alguém financia um carro ou uma casa, a garantia é o bem que está financiando. Usando melhor a garantia, as taxas de juros se reduzem e o crédito aumenta”, disse.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aumentou em 52% a oferta de crédito para pequenos negócios no primeiro trimestre de 2024 em relação ao mesmo período do ano passado. Nos três primeiros meses de 2024, R$ 13,2 bilhões foram aprovados pelo banco de fomento federal aos micro, pequenos e médios empresários, sem considerar os fundos garantidores. Quase 50% dos recursos aprovados pelo BNDES para operações de crédito em 2023 foram para empresas do tipo. Essas aprovações totalizaram R$ 107 bilhões, um aumento de 53% em relação a 2022. Já as concessões de crédito ao consumo têm registrado um aumento significativo. O Banco Central elevou a projeção de alta do crédito livre para pessoa física em 2024 de 9% para 10%, indicando um ambiente mais favorável para o consumo, apesar do cenário de juros.

“As estimativas indicam que só esse novo marco vai gerar R$ 100 bilhões por ano em novas operações de crédito, nos próximos dez anos.”
Adolfo Sachsida economista

(Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

A importância dessa medida será especialmente benéfica para a população de baixa renda, que enfrenta grandes dificuldades para acessar o crédito, na visão do economista. Com garantias mais robustas e recuperações mais eficientes, os bancos podem oferecer empréstimos com taxas de juros mais baixas, tornando o crédito mais acessível para todos.

Um exemplo concreto é o saque-aniversário do FGTS, criado em 2019, que permite empréstimos com taxas significativamente menores devido à garantia associada. “A mesma Caixa Econômica Federal que cobra de 4,5% a 5% ao mês para um empréstimo pessoal, cobra 1,2% ao mês quando se usa o saque-aniversário como garantia. A diferença é a garantia”, afirmou.

Atualmente, a relação de crédito-PIB no Brasil é em torno de 54%, enquanto nos Estados Unidos é mais de 100% e em países com o mesmo padrão de desenvolvimento do Brasil é mais de 80%. “Dá para crescermos 30 pontos percentuais do PIB em crédito. Melhorar o crédito significa que uma pessoa com dificuldade vai conseguir comprar uma casa, que um estudante vai financiar seu curso, que um trabalhador vai ter um carro. Essa é uma agenda que podemos avançar rapidamente”, disse Sachsida.

O otimismo do ex-ministro se justifica pela perspectiva da economia brasileira, apesar da recente turbulência com os juros e com o dólar. “Antes, havia um fortalecimento de marcos legais. Agora, temos um fortalecimento de investimento público. Há exemplos no mundo onde isso deu certo, como na Coreia. Porém, com a mudança no mix de política econômica, muitos analistas se confundiram e previram recessões que não aconteceram. A confusão é que estão tentando analisar a política econômica atual com um mix que não existe mais. Quando colocamos tudo na balança, vemos que o Brasil pode continuar crescendo de maneira robusta”, argumentou Sachsida.

DESBUROCRATIZAÇÃO

Como vice-presidente do Itaú por mais de 14 anos e com mais de 30 anos de experiência no mercado financeiro, o vice-presidente da Tecnobank, Luis Otávio Matias, assegura que o processo extrajudicial de recuperação de veículos pelo Novo Marco das Garantias traz mais facilidades na hora de financiar e comprar. “Essa ação pode ser realizada junto aos Detrans por meio de empresas especializadas, e a apreensão será feita por uma pessoa designada pelo banco, tornando o procedimento mais eficiente em custo e tempo”, disse Matias. Ele ressalta que esse ciclo reduz a depreciação e as taxas de juros, tornando as parcelas mais acessíveis, aumentando o volume de crédito e permitindo que mais pessoas comprem carros.

Para Matias, com um processo mais eficiente, toda a cadeia produtiva será beneficiada, fabricando mais carros, renovando a frota e retirando de circulação veículos em mau estado. “Exemplos no Brasil, como a recuperação de crédito imobiliário extrajudicial, mostram que o modelo aumenta o volume de crédito, reduz taxas e amplia o acesso, comprovando a eficiência em comparação com processos judiciais.”