Finanças

Efeito rebote da pandemia: empresas nunca pagaram tantos juros, diz estudo

Empresas de capital aberto pelo mundo pagaram US$ 458 bilhões em juros entre 2023 e 2024, um recorde que ainda ecoa os reflexos do período pandêmico

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Os custos do serviço da dívida estão em níveis recordes em todos os países e em todos os setores, diz relatório da Janus Henderson (Crédito: Freepik )

Por Paula Cristina

Enquanto o mundo tenta se recuperar economicamente do período pandêmico, as empresas sentem o peso das taxas básicas de juros mais altas ao redor do globo. Entre 2023 e 2024, o valor que as maiores empresas de capital aberto do planeta gastaram em pagamentos de juros aumentou 24,4% em moeda constante, com bancos e detentores de títulos recebendo um total recorde de US$ 458 bilhões, um aumento de US$ 89 bilhões em relação ao ano anterior. Os custos do serviço da dívida estão em níveis recordes em todos os países e em todos os setores. Os dados fazem parte do Índice de Dívida Corporativa Global anual da Janus Henderson. “Mesmo que as taxas de juros dos bancos centrais comecem a cair este ano, esperamos que as contas de juros continuem a subir neste momento, pois as dívidas antigas continuam a vencer e a ser refinanciadas a taxas mais altas”, afirmou Tim Winstone, gerente de Portfólio da Equipe de Crédito Corporativo da Janus Henderson.

De acordo com ele, esse movimento de juro recorde e altas taxas marcam um novo momento das finanças corporativas. “A tendência é evidente em todos os lugares, mas é importante lembrar que os custos de serviço da dívida estão saindo de uma base historicamente baixa, portanto, trata-se de um processo de normalização”, afirmou. Ele explica que, de modo geral, as empresas estão absorvendo esses custos de juros mais altos com pouca dificuldade, “embora o impacto seja maior para as empresas menores [que muitas vezes enfrentam um precipício de refinanciamento] do que para as maiores, que normalmente têm uma gama de vencimentos para suas dívidas.”

A expectativa do executivo é que os níveis de endividamento continuem aumentando em 2024/25, mas em um ritmo ainda mais lento, com um crescimento de 2,5%, atingindo um recorde de US$ 8,38 trilhões. “O custo do serviço da dívida continuará crescendo, mesmo quando os bancos centrais reduzirem as taxas básicas, já que as dívidas mais antigas e mais baratas são refinanciadas com novas taxas mais altas”, disse.

O indicador revelou ainda que as maiores empresas de capital aberto do mundo contraíram US$ 378 bilhões em novos empréstimos líquidos em 2023/24, elevando o total em 4,9% em moeda constante para um recorde de US$ 8,18 trilhões.

Esse aumento, no entanto, foi significativamente menor do que em 2022/23 e também ficou bem abaixo de 2018 e 2019 (2020 e 2021 tiveram os padrões de empréstimos interrompidos pela pandemia).

• As taxas de juros mais altas foram claramente um fator que moderou o apetite por empréstimos no último ano. As aquisições foram o principal fator do aumento do endividamento líquido das empresas.

• Somente os grandes negócios no setor de saúde foram responsáveis por quase um terço do aumento, incluindo a compra da Seagen pela Pfizer.

Em todos os setores, a Janus Henderson estima que as aquisições líquidas de alienações foram responsáveis por cerca de metade do aumento do endividamento líquido global em 2023/24.

Segundo Winstone, daqui em diante, a tendência é de acomodação. “Estamos otimistas para o próximo ano. As economias resistiram bem às taxas mais altas e parecem estar aterrissando de forma relativamente suave.”

EMERGENTES

Entre os países em desenvolvimento, como o Brasil, o cenário é diferente dos desenvolvidos. Neles houve uma ligeira queda no pagamento de juros em relação ao ano anterior em moeda constante, uma vez que as taxas de juros mais altas dissuadiram a tomada de empréstimos. Os custos de juros nos mercados emergentes aumentaram em pouco mais de um quinto (+21,3%) em moeda constante.

A China, a Tailândia e o México estão entre os países que registraram dívidas mais baixas. O Brasil segue na média. As dívidas das empresas na China caíram 4,1% em 2023/24, a taxas de câmbio constantes, graças aos fortes fluxos de caixa de empresas como Alibaba, Tencent, PetroChina e Amperex.

Segundo o índice, os custos de juros mais altos consumiram um oitavo (12,4%) dos lucros operacionais em 2023/24, um aumento significativo em relação a um nono em 2022/23. No entanto, apesar do aumento, o relatório revela que os juros retomaram a um nível compatível com a média de longo prazo. Para os próximos anos, no entanto, é provável que eles sofram um impacto maior, especialmente após 2025.