Motor Show

Mustang: um sessentão em ótima forma que desdenha a eletricidade

O clássico Ford Mustang chega à sétima geração resistindo à eletrificação e apostando em tecnologia e na relação custo/diversão

Crédito: Divulgação

O capô comprido foi mantido, mas ganhou uma tomada de ar para aprimorar a refrigeração do V8; os faróis têm “sobrancelha” formados por três blocos de LED (Crédito: Divulgação )

Texto Guilherme Silva

Em 2024, o Ford Mustang completa 60 anos e chega à sétima geração. Mais em forma e tecnológico do que nunca, o clássico muscle car estreia no Brasil em versão única (GT Performance, de R$ 529 mil) exibindo seus novos atributos e preservando o tradicional motor V8 sedento por gasolina, enquanto seus rivais históricos, Chevrolet Camaro e Dodge Challenger, aos poucos saem de cena para serem substituídos por esportivos elétricos. “Bom pra gente, pois o Mustang seguirá como o único muscle car legítimo movido a combustão”, comemora Antônio Baltar, diretor de marketing da Ford América do Sul (mas não nos esqueçamos de que, para esse novo mundo, a Ford tem o Mustang Mach-E, um crossover-SUV).

Embora tenha se tornado um sexagenário, o Mustang ostenta praticamente tudo o que há de mais recente em termos de conectividade, dirigibilidade e segurança.
Isso tudo vem “embalado” em uma nova carroceria, que foi desenvolvida a partir de uma moderna plataforma, exclusiva do Mustang.
O visual traz os elementos marcantes da geração anterior, porém com uma silhueta mais retilínea e com vincos mais definidos.
O capô comprido foi mantido, preservando as proporções, mas ganhou uma tomada de ar para aprimorar a refrigeração do V8;
os faróis estreitos agora são formados por três blocos de LED com iluminação de rodagem diurna, resultando em um efeito de “sobrancelha”;
e as lanternas tripartidas, também de LED, foram atualizadas com setas dinâmicas que indicam a direção de manobra do cupê.

Visto de perfil, o novo Ford Mustang manteve a musculatura dos para-lamas, que envolvem as rodas de liga leve de 19 polegadas com pneus Pirelli P-Zero (255/40 na dianteira e 275/40 na traseira).

(Divulgação)

O novo interior revela que o esportivo nascido nos EUA não parou no tempo e também aderiu à era das grandes telas.

Painel e sistema multimídia do Mustang estão dispostos em dois displays (de 12,4 e 13,2 polegadas) posicionados em uma moldura levemente curvada para o motorista, que pode escolher entre grafismos – que imitam instrumentos de diferentes gerações do esportivo – e, ainda, controlar os sistemas Android Auto e Apple CarPlay, conectados sem cabos.

Se preferir, o condutor ainda pode utilizar o navegador por GPS integrado do Mustang ou escutar suas listas de músicas no som assinado pela dinamarquesa Bang & Olufsen.

Em tempos de preocupação cada vez maior com a eficiência energética e com as emissões de poluentes e outros gases que contribuem para o aquecimento global, o Mustang reafirma sua vocação e dá de ombros para a eletrificação ao seguir com o motor Coyote 5.0 V8 naturalmente aspirado.

A unidade passou por melhorias nos sistemas de admissão e de escape para entregar 488 cv de potência a 7.250 rpm e 564 Nm de torque a 5.000 rpm (ganhos de 5 cv e 20 Nm em relação ao Mach 1 da geração anterior).

O novo Mustang precisa de apenas 4,3 segundos na prova de 0-100 km/h, enquanto a velocidade máxima é limitada a 250 km/h. Além do motorzão V8, o muscle car também se vale do ótimo câmbio automático de 10 marchas, que gerencia a entrega de potência às rodas traseiras com trocas ágeis e sutis.

Ao volante

Nosso primeiro contato com este novo Mustang foi bastante completo, em ambientes distintos. Em todos eles, conseguimos notar que a equipe de engenharia da Ford se preocupou em torná-lo em um carro amigável em praticamente qualquer tipo de uso.

Começamos a avaliação saindo da sede da Ford, na zona sul da cidade de São Paulo, em direção a um autódromo no interior, em Mogi Guaçu (SP). No rápido trecho urbano, o cupê se mostrou dócil, graças, também, às suspensões dotadas de amortecedores magnéticos, que realizam mais de mil leituras por minuto para ajustar o nível de rigidez ideal de acordo com o tipo de piso.

No entanto, o esportivo é um tanto largo para as ruas estreitas de uma cidade como São Paulo, a ponto de ocupar parte do corredor utilizado pelas motos, e obrigando o motorista a redobrar o cuidado nas mudanças de faixa.

(Divulgação)
(Divulgação)
(Divulgação)

O interior combina o futurismo das telas de 12,3 polegadas do painel digital e 13,4” da central multimídia Sync 4 com a nostalgia do quadro de instrumentos, que pode ser configurado com o grafismo de gerações antigas do esportivo, como a controversa Fox Body dos anos 1980. Freio de estacionamento tem função para manobras de drift; sistema de escapamento pode ficar silencioso ou liberar a sinfonia do V8, conforme o modo de condução selecionado por botão no volante de base achatada (Crédito:Divulgação )

Nas rodovias, o Mustang fica mais à vontade, mostrando-se um ótimo companheiro de viagens ao aliar o rodar confortável típico dos carros norte-americanos ao desempenho do motor V8.

Um botão no volante permite escolher um dos cinco modos de condução, que configuram os parâmetros do acelerador, câmbio, direção, escapamento e suspensão.

No modo Conforto, ele é capaz de deslanchar como se fosse um sedã, priorizando um rodar mais macio e um comportamento pacato, principalmente se o controle de cruzeiro adaptativo (ACC) estiver programado no limite de velocidade da estrada – condição em que o novo cupê chegou a fazer bons 9 km/l (mas, na cidade, fez só 4,8 km/l, e, no trecho de estrada que exigiu uma sequência de retomadas em ultrapassagens, 6,8 km/l).

Para mostrar o verdadeiro caráter do cupê, no entanto, basta provocar o acelerador: o câmbio logo reduz da décima para a sétima marcha e faz o V8 acordar. Um leve toque no pedal é suficiente para o muscle car disparar. Melhor ir pra pista.

Após quase 200 quilômetros pelas extensas retas das rodovias do interior, nada melhor do que um autódromo homologado pela FIA para ver o que o novo Mustang é capaz de fazer sem infringir as leis de trânsito e colocar terceiros em risco.

Durante três voltas na longa pista, notamos que as melhorias deixaram o modelo ainda mais afiado dinamicamente – a ponto de fazer bonito diante de esportivos europeus bem mais caros.

Manter o V8 naturalmente aspirado vai na contramão da tendência dos propulsores turbinados, mas deixa a experiência de guiar o Mustang ainda mais interessante.

Seu motor atinge altas rotações ainda demonstrando fôlego de sobra, e emite o ronco que será cada vez mais raro de se ouvir à medida que as leis de emissões forem ficando mais restritivas com os motores a combustão. Os freios da Brembo – com discos de 390 mm na frente e de 355 mm atrás – estão sempre a postos para conter a disposição do cupê, que pesa pouco mais de 1.800 quilos.

(Divulgação)

O conhecido motor Coyote 5.0 V8 naturalmente aspirado passou por uma série de melhorias, como os aprimoramentos dos sistemas de admissão de ar e de escapamento, mas não precisou aderir à sobrealimentação para ter sua potência elevada de 483 para 488 cv. As novas rodas de liga leve têm 19” e são dotadas de freios da grife italiana Brembo, usando discos ventilados de 390 mm de diâmetro na dianteira e de 355 mm na traseira (Crédito:Divulgação )

O Mustang também se sente muito à vontade nas partes mais travadas do traçado. Foi-se o tempo em que esportivos norte-americanos “não sabiam fazer curva”. Desde a sua sexta geração, o modelo da Ford vem mostrando que está quase tão afinado quanto um BMW ou Porsche.

Além de ter amortecedores adaptativos, o muscle car aproveitou as barras estabilizadoras do antigo Mach 1 para refinar a sua dinâmica, aprimorada pela estrutura que ficou 30% mais rígida. Isso se traduz em um carro muito firme nas mudanças de trajetória e nas curvas, que são contornadas com muita precisão.

Para entreter os condutores mais experientes, o Mustang ainda conta com o modo Drift do freio de estacionamento, que permite controlar o travamento das rodas traseiras em derrapagens (em pistas fechadas, obviamente).

O esportivo, enfim, aproveita a aposentadoria dos antigos rivais pra dominar o mercado entre o público que não quer saber de elétricos e procura, basicamente, diversão ao volante. Para isso, tem como principal argumento de venda cobrar menos por cavalo de potência do que os concorrentes europeus que ficam na mesma faixa de preço.

Ford Mustang GT Performance

Preço básico R$ 529.000
Carro avaliado R$ 529.000

Motor: oito cilindros em V 5.0, 32V, duplo comando de válvulas, injeção direta
Combustível: gasolina
Potência: 488 cv a 7.250 rpm
Torque: 564 Nm a 5.000 rpm
Câmbio: automático sequencial, dez marchas
Direção: elétrica
Suspensões: MacPherson (d) e multilink (t)
Freios: disco ventilado (d) e disco ventilado (t)
Tração: traseira
Dimensões: 4,811 m (c), 1,958 m (l), 1,398 m (a) }
Entre-eixos: 2,719 m
Pneus: 255/40 R19 (d) e 275/40 R19 (t)
Porta-malas: 382 litros
Peso: 1.836 kg
Tanque: 60,5 litros
0-100 km/h: 4s3
Velocidade máxima: 250 km/h
Consumo cidade: 6,2 km/l
Consumo estrada: 8,3 km/l
Nota do Inmetro: E
Classificação na categoria: E