Ram Classic: a imponência e o estilo de um clássico

Por Rafael Poci Déa e Flávio Silveira 

Há tempos sou fã de picapes devido à capacidade de levar tralhas na caçamba, à valentia para encarar trajetos acidentados e, sobretudo, ao porte avantajado, que intimida motoristas mais apressadinhos. Obviamente, a última característica pode levar a perrengues na hora de estacionar em shoppings e supermercados. Mas, pra quem gosta deste tipo de veículo, é apenas um detalhe – ainda que nada pequeno: esta Ram Classic tem 5,816 metros de comprimento e 3,570 de entre-eixos, ante 5,325 m e 3,085 m na Hilux, uma (já grande) picape média.

Essa semana ao volante da caminhonete feita no México me fez ir além: lembrei da minha adolescência, quando as primeiras Ram, ainda com a marca Dodge, apareceram no Brasil. Então, embora a nova Ford Ranger tenha elevado a régua entre as picapes médias, eu ia preferir gastar meus R$ 350 mil nesta picapona do que na Ranger Limited. Por puro clubismo, confesso, pois sempre curti as Ram – especialmente com dupla rodagem traseira, inacessíveis no Brasil.

E devo dizer que, considerando o seu tamanho, a Classic é uma picape fácil de conduzir. Só é preciso cuidado nas mudanças de faixas, sobretudo com motociclistas.

Além de rodar na cidade, fui duas vezes ao interior, chegando ao destino sem cansaço, graças ao enorme conforto –
embora esta Classic seja de quarta geração, “inferior” em rodagem à Rebel de quinta geração. Falando nisso, a picape está se despedindo do mercado nacional (e global) com a charmosa série especial de despedida R/T, lançada em junho e limitada a apenas 100 unidades.

Como gostam os norte-americanos, sob o capô fica o motor V8 5.7 Hemi (referência às câmeras de combustão hemisféricas) com 400 cv de potência e 560 Nm.
• O ronco dos oito cilindros em V invade a cabine nas acelerações instigando uma tocada forte, e a Classic não decepciona, com 0-100 km/h em rápidos 7,7 segundos.
• Ainda agradam o bom câmbio de oito velocidades e as suspensões macias, que filtram magistralmente as imperfeições do piso e asseguram uma dinâmica adequada a um veículo deste porte.
• Já o consumo… Bem, não achei absurdo, pois com o pé leve o sistema desativa cilindros e a picape fez até 9 km/l na estrada, sempre com o ar ligado. Para alguns consumidores, porém, isso pode ser um problema.

Por fim, quase todo dono de picape é requisitado a ajudar com mudanças, e comigo não foi diferente. A caçamba acomodou relativamente bem uma cama de casal e mais algumas bugigangas. São 1.424 litros de capacidade, mas com limite de carga de apenas 531 kg – menos do que a Fiat Strada Cabine Simples, que leva 720 kg. No fim das contas, como deixei evidente, eu compraria a Classic. Pode não ter os modernos assistentes à condução, mas não há nada como curtir o ronco do V8 em uma picape “bruta”.

Rafael Poci Déa | Repórter

(Divulgação)

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A cabine larga oferece muito espaço, com direito a um enorme porta-objetos/console entre os bancos dianteiros, e o entre-eixos de quase 3,60 metros garante espaço de sobra no banco traseiro. Abaixo, detalhes dos comandos no centro do painel: o bom é que há muitos botões físicos redundantes. O seletor do câmbio é giratório, com botão eletrônico de tração posicionado logo abaixo dele, e o quadro de instrumentos é fácil de ler, parcialmente digital

(Divulgação)

Contraponto

Com uma concepção basicamente utilitária, as picapes acabam conquistando por outros motivos, seja a imponência, como notou meu colega Rafael, seja por estilo. Não pretendo aqui policiar a intenção de quem compra uma picape ou para que usa a caçamba – pode ser algo ocasional, como levar bicicletas, ou ter uma casa de campo em um local de difícil acesso, não importa. Mas o fato é que sacrifícios são necessários:
• ao levar uma bagagem normal na caçamba, por exemplo, ela não estará tão protegida, mesmo com capotas marítimas e/ou rígidas;
• o porte todo e a visão privilegiada significam consumo maior e pouca estabilidade (no caso dessa Ram, sem opção de tração integral para asfalto, com chuva pesada em uma estrada sinuosa, levei alguns sustos, e o ESP precisou trabalhar).
• Concordo com o Rafael em relação ao extremo conforto das suspensões – ainda mais quando encarei estradas de terra – e ao magnífico ronco motor do V8, que vai fazer falta. Mas prefiro ouvir um V8 em um carro que pode usar toda sua potência, como o cupê Mustang.

Se fosse comprar uma picape deste valor, ficaria com a Ranger.

Flávio Silveira | Editor

COMPRE SE…
•  Você é um fã da marca e deseja ter uma picape sem frescuras e com um motorzão V8 que sempre “empurra” com força.
• Você deseja um veículo de porte avantajado que não se intimida com lombadas, valetas e buracos, seja no asfalto ou fora de estrada.

NÃO COMPRE SE…
• Espaço é um problema para você, pois o tamanho da Ram Classic exige sempre ter vagas grandes à disposição. Caso contrário, ela pode se tornar fonte de constantes dores de cabeça.
• O consumo importa: embora faça médias rodoviárias que são até aceitáveis para uma picape V8, na cidade ficou abaixo de 4 km/l.

Considere também esses concorrentes

Ford Ranger Limited (R$ 349.990)

Tem visual alinhado aos das irmãs F-150 e Maverick, com motor V6 3.0 turbodiesel de 250 cv e câmbio automático de dez marchas.

Toyota Hilux SRX Plus (R$ 334.890)

Com mudanças para melhorar a dinâmica, a líder de vendas usa motor 2.8 e câmbio AT de seis marchas. São 204 cv e 500 Nm.

Ram Classic Laramie

Motor: oito cilindros em V 5.7, 16V, comando de válvulas único com variação na admissão, desativação de cilindros Combustível: gasolina
Potência: 400 cv a 5.600 rpm
Torque: 556 Nm a 3.950 rpm
Câmbio: automático sequencial, oito marchas
Direção: elétrica
Suspensões: duplo A (d) e eixo rígido (t)
Freios: disco ventilado (d) e disco sólido (t)
Tração: 4×2 traseira ou 4×4, reduzida
Dimensões: 5,816 m (c), 2,017 m (l), 1,970 m (a)
Entre-eixos: 3,570 m
Pneus: 275/60 R20
Caçamba: 1.424 litros
Peso: 2.553 kg
Tanque: 98 litros
0-100 km/h: 7s7
Velocidade máxima: 174 km/h
Consumo cidade: 5,2 km/l
Consumo estrada: 6,4 km/l
Nota do Inmetro: E
Classif. na categoria: E (Picape)